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Como Gostaria de Ser Lembrado
14h00

Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa, Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia

Como Eu gostaria de ser lembrado!

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Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa, Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia

Gilson Soares Feitosa CRM-BA 3998

Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia

Diante da solicitação feita aos Membros Eméritos da Academia imponho-me a obrigação de atendê-la, considerando quem a faz.

 E, ao mesmo tempo, motiva-me o desejo despertado de cumprir tão inusitada tarefa, na esperança de que possa retratar  uma percepção autorrefletida de minha  vida, de forma honesta, sem vieses conscientes, com o cuidado de evitar o vitupério do autoelogio.

Procurei observar durante a minha vida os princípios ensinados e exemplificados, por meus pais, de ética e de justiça, como algo natural, sem maiores desvios, de que possa me arrepender.

Como médico, afora a prática assistencial, essencial para a minha visão de medicina, - e da familiaridade desenvolvida com a pesquisa clínica - foi no ensino médico que ocupei a parte mais significativa das minhas ações profissionais.

Como um dom ou  vocação!

Os princípios cultivados na tarefa de ensino se baseavam na disciplina,  que principalmente se traduzia por pontualidade nos compromissos , procura intensa de atualização, e na postura crítica na análise das novidades, de maneira compartilhada com alunos e colegas.

Procurando não subestimar, porém sem fazer muitas concessões ao que me parecia supérfluo.

Procurei durante minhas exposições tratá-las de maneira igual, no que tange à qualidade e esmero de preparação, sempre buscando a forma que atendesse o meu nível pessoal de exigência, independentemente do público a que elas se dirigissem.

Procurei obter como maior recompensa a percepção de que tinha algo útil a apresentar apreciando a tradução disso como atenções, reações  e presumidos benefícios aos circunstantes, a par do meu julgamento,  e sem dependência direcionada a retorno financeiro como principal alvo das minhas ações.

Se, de cedo, já tinha um sentido de gratidão aplicado às circunstâncias simples de ambiente de vida de um jovem,  este sentimento se ampliou acentuadamente com o passar dos anos e de exposições à vida.

Tenho uma sensação permanente de não poder agradecer a tantos do muito que deles recebi.

Desde os intervenientes do Jardim de Infancia , da Escola Menino Jesus, Ginasio Jackson de Figueredo, Ginasio Salesiano, Ateneu Sergipense e Ateneu todos em Sergipe, e depois Faculdade de Medicina  da UFBA – minha alma mater- Medical College of Pennsylvania, nos EUA,  minha segunda alma mater- e,  de volta ao Brasil,  HUPES,  ATEMDE, Hospital Santa Izabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Clínica São Lucas, Hospital Aliança da Bahia e das instituições Sociedade Bahiana de Cardiologia, Sociedade Norte Nordeste de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Sulamericana de Cardiologia, American College of Cardiology, Academia de Medicina da Bahia  e muitos outros.

Gostaria de ser lembrado:

- como um aluno dedicado, com curiosidade e muito empenho, a partir dos 14 anos de idade; - -- como o que tendo tido a oportunidade de cumprir a programação de pós-graduação senso lato nos EUA, inaugurou a rota do Medical College of Pennsylvania deixando-a limpa para os muitos que a seguiram depois;

- como quem criou nos moldes atuais o internato da Escola Bahiana de Medicina no Hospital Santa Izabel desde 1978, e desde 1982,  o programa de residência medica do Hospital Santa Izabel, iniciando-se por Cardiologia e Clínica Médica, com sessões pessoalmente dirigidas:

as discussões de casos complexos de cardiologia às segundas-feiras às 07:30;- de clinica médica às 10:00h de terças feiras; - discussão pessoal de casos na enfermaria às  quartas-feiras  com internos e residentes de clinica médica às 09;30h; - e com residentes de cardiologia as 5as feiras as 09:00h,  ajudando na formação de centenas, ou milhares, de médicos e ao mesmo tempo crescendo com eles e com todos os indispensáveis professores que se juntam a essa tarefa.

- como quem entendendo a limitação de tempo imposta por todas essas ações, percebeu que  ações institucionais eram também uma obrigação maior e que para ser mais efetivo concentrou-se na da especialidade – a Cardiologia- tendo ajudado a rearrumar e desenvolver  a Sociedade Brasileira de Cardiologia – Regional Bahia , a criar a Sociedade Nortenordeste de Cardiologia, e na Sociedade Brasileira de Cardiologia, ter estabelecido os critérios científicos de organização de congressos em 1995 e que se mantem até hoje com o mesmo formato, e ter presidido a comissão de ilustres colegas que mudou a filosofia de condução regimental da Sociedade Brasileira de Cardiologia em 2020,  afora algumas excursões institucionais internacionais com o propósito de integrar a América do Sul;

- como quem  integrando a Academia de Medicina da Bahia desde 2004, atuando como presidente da sua comissão cientifica em dois termos, ajudou um pouco a mudar o seu perfil de exclusivas vaidades iniciais para um panorama de aprazível convivência e posicionamentos.

E note-se que com uma natureza um pouco arredia; de não gostar de pedir, por razões que nunca me prestei a psicanalisar detidamente.

Espero ter estado à altura procurando beneficiar sem medir consequências ou expectativas de retorno.

Criado num ambiente católico apostólico romano – um tio padre e uma tia freira- não aperfeiçoei o gosto pelos rituais litúrgicos- sendo de certa forma um praticante deles com uma negligência óbvia.

No entanto, um crente na existência de um plano superior que nos rege e que se estende para toda a humanidade não importando a seita escolhida e que aprimora continuamente o comportamento humano em direção ao bem.

Conscientemente dirijo o pensamento para Jesus Cristo, como um elo maior nessa direção, nas minhas orações e reflexões que faço diariamente.

Profundamente ligado aos princípios e fundamentos da família tive a sorte de me ser destinada uma esposa exemplar que possibilitou a educação dos filhos com equilíbrio e equanimidade e ampla liberdade de escolhas. Dos quais muito me orgulho.

Já tendo ultrapassado a média de sobrevida do homem brasileiro sinto-me intelectualmente disposto a contribuir nas tarefas que se me apresentem.

Espero prosseguir, enquanto possível,  com o mesmo empenho,  até que surjam impedimentos observáveis que motivarão , se eu mesmo não me aperceber, a que meus filhos, já autorizados para tal, me sinalizem.

Meu maior desejo é o de que no momento da minha morte eu tenha o mesmo semblante e atitude de grande tranquilidade e aceitação que expressou meu pai na passagem para o descanso eterno.

Em resumo-

 Gostaria de ser lembrado como um homem feliz, que vê iniquidades ao seu redor e à distancia, não as ignora, e ainda assim espera estar a contribuir para melhoras e com a crença de que o aperfeiçoamento da humanidade é o desiderato!

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