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Gilson Soares Feitosa <br> Membro Emérito
Gilson Soares Feitosa
Membro Emérito
Ocupante Anterior - Cadeira 36
02/09/2019
20:00
Saudação proferida por Gilson Soares Feitosa na Solenidade de Posse de Luciana Rodrigues Silva na Academia de Medicina da Bahia

Panegírico proferido por Gilson Soares Feitosa, dirigido a Luciana Rodrigues Silva, em sua solenidade de posse na Academia de Medicina da Bahia.

Em 2 de setembro de 2019.

A atividade acadêmica se refere, via de regra, ao ambiente e às ações desenvolvidos por instituições do ensino superior.

Esse conceito se inicia desde 387 AC quando  se tem o registro de Platão reunindo um grupo de indivíduos interessados em diversos saberes filosóficos, históricos e científicos da época, num jardim mitologicamente pertencente a Academo, em Atenas,

Com a expansão do conhecimento, e a partir do renascentismo,  formam-se Academias como a reunião de estudiosos e eruditos em campos específicos e afins do conhecimento.

Algumas se perpetuam por séculos como a Academia Romana de meados do século XV, Academia Francesa de Letras,  fundada em 1635 por Richelieu, a Royal Academy of Arts em Londres na mesma época e a Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis em 1896.

A Academia Nacional de Medicina existe de forma regular, e com grande qualidade pela constituição dos seus membros e trabalhos oriundos de sua atuação, desde 1829, com sede no Rio de Janeiro.

A Academia de Medicina da Bahia tem conseguido, ao longo dos seus 61 anos de existência, dar cumprimento a  um dos seus preceitos mais bem definidos, qual seja o de cultivar a memória e homenagear aqueles que têm se destacado no exercício da Medicina por trazerem, no seu tempo, conhecimento cientifico em suas áreas, ensino qualificado àqueles em formação e em  programas de educação continuada, demonstrando cultura médica e humanística quando a oportunidade surge, e promovendo o desenvolvimento da Medicina em todos os seus aspectos, tendo, como elemento central de suas ações, o ser humano.

Fundada em 10 de julho de 1958 a Academia de Medicina contou desde então com 160 integrantes, sendo 50 patronos, 53 ocupantes atuais, sendo 46 ocupantes titulares  e 7 membros eméritos.

Hoje, quando aqui adentra a novel acadêmica Professora Luciana Silva,  para ocupar a cadeira 34,  cujo patrono é o Professor Manuel Vitorino Pereira, sendo seu primeiro ocupante  o Prof Manuel da Silva  Lima Pereira e o último ocupante, como uma caracterização importante deste momento, o seu pai, o Professor Penildon Silva, concretiza-se plenamente esse desiderato da Academia, ao identificar na comunidade médica baiana alguém que reúne todas as qualidades e as excede, para ingressar neste silogeu. 

Integra-se a esta Academia de Medicina da Bahia a Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria em sua segunda gestão da mesma, reconduzida que foi em 18 de maio de 2019   onde contribuições como:  um extenso programa de educação continuada por diretrizes dirigidas aos associados;  iniciativas junto ao Ministério da Saúde e ao Conselho Federal de Medicina em prol de politicas públicas voltadas para a infância, como a otimizacao de amamentacão e licença de maternidade; ampliação  de leitos hospitalares para pediatria e a busca do principio de que cada criança deve ter o seu pediatra, além da valorização dos pediatras na comunidade ,  tornaram-na uma figura histórica na centenária Sociedade Brasileira de Pediatria.

Tais fatos fizeram com que num pleito com chapa única ela obtivesse o apoio de todos os presidentes das regionais estaduais, de norte a sul e de leste a oeste do país,  como um fato inédito na sociedade.

Senhores afirmo-lhes que ocupar a Presidência da Sociedade Brasileira de Pediatria  não é nada trivial  e engradece  sobremaneira a história da Medicina Bahiana.

Convém saber que a nossa novel confreira   preside uma sociedade médica nacional, fundada em 1910  e com 23000   associados  sendo a segunda em tamanho no mundo ocidental.  

A novel confreira integra a Diretoria da SBP desde  1992, como presidente do departamento de gastroenterologia por 3 períodos, Vice presidente da Sociedade por 2 períodos e desde 2016 como presidente.

Esse reconhecimento já se anunciava quando em 2011 a Academia Brasileira de Pediatria a recebeu como a mais jovem acadêmica de sua história.

É a primeira pediatra do sexo feminino alçada  à  presidência da Sociedade Brasileira de Pediatria e  a primeira representante da Bahia a ocupar esse cargo .

Além disso, para gáudio e orgulho da Academia de Medicina da Bahia,  a Professora Luciana Silva chega a este sodalício como a mais jovem Professora Titular de Pediatria do país, quando, em 1999, aos 44 anos  de idade,  conquistou essa posição por concurso.

Eram cinco concorrentes ao posto de Titular da Pediatria da UFBA num concurso   com uma banca de examinadores do porte do Professor Nelson Barros, Professor Rodolfo Teixeira,  ambos membros desta Academia- já falecidos- e do Professor Fernando Nobrega da Escola Paulista de Medicina , Professor Eduardo Marcondes da Universidade de São Paulo e Professor Eduardo Tonelli da Universidade Federal de Minas Gerais.

Obteve o primeiro lugar.

Chegou a essa condição por uma notável sequência de conquistas universitárias:

graduou-se em 1978 pela UFBA, onde cumpriu Residência em Pediatria até 1981.

Prestou concurso para o Departamento de Assistencia Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFBA em 1982 e ascendeu  para Prof Auxiliar – Assistente após o Mestrado.

Foi a criadora dos ambulatórios de:  Gastroenterologia Pediátrica em 1981, e o de Hepatologia Pediátrica em 1982, que funcionam ininterruptamente desde então formando vários  residentes e estagiários, com 5 vagas de R3 e 5 vagas de R4.

Concluiu seu Mestrado em 1985 com a tese “Transmissão vertical do vírus B da hepatite em Salvador “sob a orientação do Professor Luis Guilherme Lyra.

Fez seu doutoramento em 1988 com a tese “Diarreia aguda em crianças menores de cinco anos . Um estudo epidemiológico, etiológico e clínico em Salvador- Bahia”. Dedicou essa tese a seu pai, o Professor Penildon Silva e ao seu filho, Pedro Henrique Silva Rocha.

Esse trabalho consistiu da análise de diarreia aguda de crianças de menos que 5 anos, atendidas no Centro de Hidratação e Recuperação do Hospital Pediátrico, de 1986 a 1988, sendo incluídos 436 pacientes e sendo empregadas técnicas de isolamento e identificação dos agentes enteropatogênicos em amostras fecais, em meios apropriados e realizada técnica imunoenzimática para vírus; semeadura em placas, para isolamento de bactérias enteropatógenas e métodos refinados à procura de parasitas.

 Ao  lado da coleta minuciosa de dados demográficos e clínicos.

Foi esse o primeiro trabalho dessa natureza realizado  em Salvador  e que veio a se constituir em fonte obrigatória de consulta no tema.

Em 1990  Pós-doutorado na Université Libre de Bruxelles  na Bélgica– onde fez o curso internacional em estatística e epidemiologia de dado operacionais aplicados à Medicina e Saúde Pública

Foi em seguida Professora visitante no Hopital Kremlin Bicetre no Serviço de Hepatologia Pediátrica na Université Paris-Sud, na França.

Em 1992 ocupou na Legião Brasileira de Assistência na Bahia o cargo de  Superintendente, designada pelo Ministro de Assistência Social.

Em 1994 teve a iniciativa de procurar o Sr.  Paulo Sergio Tourinho, Presidente do Grupo Aliança  e fundador do Hospital Aliança da Bahia,  dizendo-lhe  que Salvador precisava de um Serviço de Pediatria naquele hospital.  O Sr. Paulo Sérgio, mostrou-se sensível à solicitação e no seu estilo exigente de qualidade, pediu-lhe  que fizesse um planejamento para que se tivesse então  o melhor Serviço de Pediatria da cidade.

Assim foi feito e coordenou o Serviço por 25 anos.

Com a ampliação do Serviço em 2002 foram criadas a  UTI Pediátrica e leitos de internamentos e com  dois supervisores-Dr Hans Greve no Pronto Atendimento e Setor de Internação e Dra Lara Torreão na UTI Pediátrica-         avançaram, junto com as equipes, com os mesmos propósitos iniciais.

Durante esses 25 anos foram mantidas  as sessões científicas, o ideal do crescimento dos pediatras e o aprimoramento constante do atendimento às crianças e seus familiares, discussão de casos mais complicados, editoração e atualização de protocolos de atendimentos em cinco versões, duas das quais foram transformadas em livros que se esgotaram nacionalmente.

A seleção de médicos sempre foi criteriosa e o Serviço de Pediatria sempre foi um desejo de local de trabalho para os médicos jovens.

A equipe médica sempre trabalhou de forma coesa com os outros profissionais de saúde e em duas visitas das acreditações nacional e internacional o Serviço de Pediatria foi considerado o mais organizado do Hospital Aliança.

Dessa forma a novel confreira contribuiu decisivamente para a construção desde marco da medicina baiana e nacional, o Hospital Aliança

Tornou-se pesquisadora e consultora do CNPQ de 2000 a 2012.

Sua produção cientifica é solida com 11 livros – volumosos por sinal- 115 capítulos de livros e 185 artigos, sendo 116 em periódicos nacionais e 69 internacionais.

Seu trabalho como professora na UFBA é de alta produtividade tendo orientado 67 TCCs de graduandos, sendo responsável por 81 residentes do programa de pediatria,  orientado 23 mestrandos e 29 doutorandos.

Seu trabalho submetido à Academia para julgamento dos pares, intitulado : “Reflexões sobre a atuação Pediátrica e sua doutrina” foi muito elogiado e é um documento que servirá como referência aos atuais pediatras e à posteridade.

Dentre as suas doutrinações destaca-se a importância que atribui à consulta pediátrica onde assinala que “o profissional deveria ter empatia, ser educado e gentil, com sensibilidade e preparo técnico, ética, e respeito, tentando minimizar  as diferenças sociais, culturais e linguísticas e eliminando os seus próprios preconceitos.”

Convém assinalar que há uma inquietação intelectual na novel confreira Luciana Silva que a leva a se deleitar com música, literatura, cinema e, principalmente,  poesia,  quando teve a oportunidade de publicar um livro, intitulado “Outra vez viajar”.

Esse conjunto de ações e características justificam perfeitamente a eleição unânime da confreira para este sodalício criando entre os membros da Academia de Medicina da Bahia uma justa expectativa do engrandecimento que ela certamente trará às suas ações.

O homem cumpre uma trajetória bem sucedida e reconhecida pelos seus pares como resultado de uma  longa construção.

Convém que os presentes tomem conhecimento, assim como a posteridade saiba, por exemplo e reflexão, quais foram   as bases  humanas e culturais que propiciaram o desenvolvimento pleno da pessoa Luciana Silva para que tenha atingido o apogeu hoje representado pela Professora Luciana Silva.

Em tempos modernos, segundo C. Clark : “Once you embrace the absolute truth that every leader needs a mentor, you can begin to achieve the massive growth and success that you seek.” 

Assim, vários professores contribuíram ao longo do tempo para sua formação e em especial os professores Penildon Silva, Luiz Guilherme Lyra, Nelson Barros, Orlando Sales, Anibal Silvany e Gilberto Rebouças.

Com eles também reverberou o  pensamento altruísta de Mahatma Gandhi :  “No culture can live if it attempts to be exclusive. “     que norteou sua atitude voltada para o meio.

Seus pais eram médicos.

O pai, o Professor Penildon Silva, Prof Titular de Farmacologia e Bioquímica da UFBA e da Escola Baiana de Medicina , brilhante, poliglota  e entusiasmado com sua profissão e com a vida, sempre estimulou seus alunos.

Autor consagrado, tem no seu livro de texto “  Farmacologia  “ , na sua oitava edição,   uma referencia obrigatória no tema no Brasil. 

Exerceu, naturalmente,  fundamental influência na formação de Luciana Silva, na sua forma de ser, e pela determinação de enfrentar os desafios que a vida impõe, de tempos em tempos, a cada um.

Entre outras coisas inspirou-a no caminho da produção bibliográfica

Continua lúcido aos 98 anos e é  membro emérito desta academia, da cadeira número 34, que será agora ocupada pela novel confreira.

Sua genitora, a Dra. Hilda Rodrigues Silva, era pediatra e  com sua sensibiiidade, delicadeza, preocupação com o próximo, foi influência importante  para a   escolha da confreira em seguir os caminhos da pediatria. 

Na realidade, enquanto estudante, como soe acontecer a muitos que se destacam em suas carreiras futuras, a estudante Luciana Silva demonstrava uma vasta gama de interesses, notadamente pela anatomia patológica. Porém, ao final do curso médico, o exemplo materno prevaleceu reforçado pela própria maternidade da confreira.

A confreira nasceu em São Paulo onde à época moravam os pais e logo cedo veio com a família para a Bahia.

O ambiente familiar era propício ao desenvolvimento intelectual, e muito se falava sobre a luta pela vida, a necessidade de justiça e correção nas atitudes e a ter responsabilidade pelos próprios atos.

Após a perda precoce de sua mãe, aos 40 anos de idade, seu pai a incentivou ainda mais a independência e as atitudes de se cuidar e respeitar a todos.

Sua irmã,  Eliana Rodrigues Silva , professora doutora da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, foi uma companhia muito importante na troca de informações e experiência.

Com o novo matrimônio do pai, com a Sra Ana Maria Figueiredo Silva, vêm seus irmãos    Marcos Figueiredo Silva- advogado- e Penildon Silva Filho, doutor da Faculdade de Educação da UFBA  e atual pró-reitor para graduação desta Universidade. Sendo ambos  bem mais novos, foram motivo de muitas alegrias em sua vida.

Fez o curso primário, e parte do Ginásio,  no Ginásio Escola Modelo.

Em seguida frequentou o colégio 2 de Julho até prestar vestibular  para a Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia. Dessa época guarda a lembrança da excelência dos professores de química, física e biologia.

Na Universidade  foi monitora de Histologia e de Anatomia Patológica e teve  durante o curso colegas com quem dividiu muitas  experiências na vivência do dia a dia, destacadamente os Drs. Francisco Hora Fontes, José Borges de Barros Neto, Ana Luiza Fontes, Virginia Andrade, Sinval Galvão, Luciano Garrido, Pedro Daltro e José Walber, este também membro desta Academia.

Foi mãe ainda jovem e como tal, ao tempo em que desenvolvia sua extraordinária carreira,  esforçou-se por  acompanhar  tão de perto quanto possível o crescimento do seu único filho,  Pedro Henrique Silva Rocha, engenheiro,  fruto do seu matrimonio  com  o professor de farmacologia da UFBA Mário Augusto da Rocha Junior, com quem foi casada por muitos  anos.

Com esse filho, que passou a residir com sua esposa no Rio de Janeiro, teve um relacionamento de profundo bem querer.

No seu livro de poesias ‘Outra vez viajar” publicado em 2008, dentre as 237 poesias há 10 destinadas ao filho.

Na primeira delas, chamada de Filho 1, como que num vaticínio, escreveu:

“Para um amigo distante que é filho querido, queria uma carta ímpar.

Que dissesse dos dissabores, das alegrias e boas surpresas da necessidade de enfrentar, sustentar.

Manter o brilho e a fé nos olhos e nos sentidos para valer a pena viver.”

A perda abrupta do seu único filho em 2016 impôs-lhe um enorme trauma apenas amenizado em parte, com seu sentimento religioso cristão católico e pelo fato de falar com ele diariamente,  com a intenção de, com suas ações, homenageá-lo e honrar a sua memória.

A Dra. Luciana Silva tomou à risca a reflexão de Mário Quintana que interrogou :

“Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não agüenta os que continuam vivos?” 

A Dra. Luciana tomou um caminho oposto e intensificou aquilo que já lhe era um atributo, o de querer servir ao próximo com ações concretas na  pediatria, onde as crianças e seu mundo ao  redor, assim como a comunidade e os profissionais médicos, se beneficiam notavelmente de suas ações.

Abraçou o pensamento de Pablo Neruda quando este disse: “Queda prohibido no sonreír ante los problemas, no luchar por lo que quieres, abandonarlo todo por miedo, no convertir en realidad tus sueños.”

Senhores membros da Academia de Medicina da Bahia: hoje é um grande dia para esse sodalício,  quando aqui chega , com seu beneplácito, a novel Acadêmica Luciana Silva.

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