Senhoras e Senhores,

 Não poderia ser maior o meu júbilo por ocupar este púlpito, para fazer o panegírico a Professora Dra.  Lícia Maria Oliveira Moreira como a mais nova Membro Titular da Academia de Medicina da Bahia. 

No Estatuto e Regimento Interno desta Academia reza o artigo 5 º parágrafo I, que é dever dos Acadêmicos desempenhar os cargos, funções ou encargos para os quais forem designados.

Saudar um novel Acadêmico constitui uma das mais elevadas honras deste sodalício, hoje a mim conferida.

Agradeço a indicação da Professora Lícia Moreira e a deferência da diretoria da Academia ao me designar para tão honrosa missão.

Manifesto a minha alegria, emoção e orgulho de saudar em nome da Academia de Medicina da Bahia, a professora Lícia Maria Oliveira Moreira, cuja trajetória de vida a faz merecedora de ocupar uma das cadeiras do nosso sodalício.

Assumo esse momento, fundamentado nas palavras do sábio pensador Confúcio quando adverte “ o caminho de um homem superior é triplo: virtuoso, ele é livre de ansiedades; sábio, é avesso a perplexidades; audaz, é poupado do medo’.

Início a minha saudação com um breve histórico da vida familiar da recipiendária.

Nascida em Feira de Santana, no dia 14 de março, é a primeira filha de seis, de Heitor Silva Oliveira funcionário do Banco do Brasil, já falecido e de D. Maria da Conceição Costa Oliveira, professora, muito lúcida nos seus 90 anos.

Viveu sua infância no interior da Bahia em função das atividades profissionais do seu pai.

Oriunda de família de educadores pelo lado materno, desde muito cedo interessou-se pelo ensino. Aos sete anos repassava aos dois empregados da casa, os conhecimentos que adquiria na escola e com isto consegui alfabetizá-los. Aos 14 anos, dava aula de francês aos seus colegas de sala.

Foi aluna interna do Colégio Santíssimo Sacramento dos 10 aos 17 anos.

A professora Lícia foi casada com o notável médico e brilhante professor Ruy Moreira, precocemente falecido e de saudosa memória.

Gaúcho de nascimento, fez   Residência de Patologia no HUPES e se radicou em Salvador. Foi professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, professor concursado de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Bahia e médico do CICAN.

Da feliz união de Lícia e Ruy, nasceram duas filhas, Tatiana e Mariana. Tatiana e André lhes deram os dois netos queridos Bernardo e Fernanda.

VIDA ACADÊMICA:

Aprovada nos exames vestibulares da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, por essa optou.

Durante a graduação, nos anos inicias, encantou-se pelas matérias básicas de   embriologia, fisiologia e parasitologia.

Depois do terceiro ano, ao iniciar contato com o paciente, a prática da medicina passou a ocupar um lugar especial no seu universo, destacando as disciplinas de gastrenterologia, endocrinologia e cardiologia, como as preferidas.

Ainda como estudante, participou de estágios extracurriculares na Maternidade Climério de Oliveira, Hospital Couto Maia e Maternidade Tsylla Balbino, onde travou seus primeiros contatos com patologia neonatal, sob a supervisão dos professores Carlos Guerreiro e Antonio Silvany.

No serviço de pediatria do complexo do Hospital Universitário Professor Edgar Santos, conheceu de perto o saudoso Professor Nelson Barros, Chefe do Serviço, com quem muito aprendeu, tornando-se uma das suas principais referências a partir de então.

No sexto ano médico decidiu optar pela Neonatologia como especialidade e seguir a carreira universitária, pois junto à assistência e o ensino, estava fascinada pela pesquisa.

Graduou-se aos 23 anos, em janeiro de 1976.

Fez residência de Pediatria no HUPES, durante dois anos, quando publicou os seus primeiros trabalhos, científicos sobre Síndrome Nefrótica e Sifilis Congênita.

Sobre a residente Lícia Maria, o professor Geraldo Serra fez o seguinte depoimento: “Durante mais de 20 anos, participei do treinamento de dezenas de jovens médicos. Destaco a Dra. Lícia Maria Oliveira Moreira como uma dentre os melhores, demonstrando desde então boa formação médica, profissionalismo e, qualidade essencial em um pediatra, dedicação e carinho com as crianças sob seus cuidados. ”      

VIDA DOCENTE:

Ingressou na docência em 1980, como Professora Colaboradora de Pediatria da FMB, permanecendo até 1983, quando foi efetivada como Professora Assistente do Departamento Materno Infantil.

Em 1981 concluiu o mestrado na FMB, com a dissertação “Nível Sorológico para Sífilis em Gestantes e Recém-nascidos de uma População na Cidade do Salvador”, aprovada com Distinção.

Em 1988 concluiu o doutorado em Medicina e Saúde, da FMB, com a tese “Sorologia para Toxoplasmose em uma População de Gestantes da Cidade do Salvador.

Criou o Ambulatório de Infecções Perinatais no Hospital Universitário Prof. Edgard Santos, importante no contexto médico social, além de contribuir com o ensino de graduação e pós-graduação e ser fonte para inúmeras publicações científicas.

Foi coordenadora do Mestrado em Assistência Materno Infantil e coordenadora da disciplina de Pediatria.

Em 1992 através de um convênio da UFBA com o Hospital São Rafael, transferiu as suas atividades docentes em neonatologia para este hospital onde implantou o Serviço de Neonatologia e criou a UTI Pediátrica, primeira da rede privada e que funciona até a presente data.

Em seguida retorna para a FMB, para ensinar neonatologia na Maternidade Climério de Oliveira.

Foi responsável pela redação da ementa da Disciplina de Neonatologia, disciplina  Optativa Complementar-Med 225 .

Foi coordenadora da Unidade de Pequenos Lactentes do Centro Pediátrico Prof. Hosanah de Oliveira/UFBa, importante campo de prática para internos e residentes de Pediatria.

Foi representante do Departamento de Pediatria na Congregação da FMB.  

Em 1999 foi aprovada em Concurso Público para o cargo de Professor Titular de Neonatologia da Faculdade de Medicina da Bahia, e empossada no Departamento de Pediatria.

Segundo a Professora Lícia, abre aspas, “galgar este título na carreira foi bem significante para mim, a universidade sempre foi a minha grande proposta de vida profissional. Ser professora titular abriu possibilidades que tenho aproveitado para melhorar a

Assistência e o ensino da neonatologia, participando de consultorias, atividades de ensino, apoiando projetos” fecha aspas.

Foi chefe do Departamento de Pediatria; supervisora do Programa de Residência em Neonatologia da UFBA e coordenadora da Disciplina de Neonatologia.

Foi bolsista do  National Institute Health participando do curso de Epidemiologia de AIDS e mais tarde curso intensivo de neonatologia no Children´s Hospital of Philadelphia,.

Foi Bolsista do Ministério da Saúde da França para um estágio de dois meses sobre AIDS na Infância, no Hospital Robert Debré em Paris.

Aposentou-se da Faculdade de medicina da Bahia em maio de 2017, mas continua em atividade docente através do PROPAP, no Ambulatório de Infecções Congênitas no Complexo HUPES, no Comitê de Ética e Pesquisa, na Sessão de Artigos na Maternidade Climério de Oliveira e orientando alunos em Trabalho de Conclusão de Curso.

A Professora Lícia Moreira participou de mais de duzentos congressos científicos nacionais e internacionais; publicou mais de 70 temas livres em anais de Congressos; escreveu vários capítulos de livros; publicou diversos artigos em periódicos de alto impacto, destacando estudos sobre HTLV1 perinatal, Rubéola em gestantes, Toxoplasmose Congênita, Chikungunya e asfixia perinatal.

ATIVIDADES NO SERVIÇO PÚBLICO:

Exercendo atividades no Serviço Público, muito contribuiu para o ensino e assistência médica.

Foi médica Pediatra do INAMPS e Pediatra da Sesab, ambos por também por concurso público. Lotada inicialmente no serviço de pediatria do Hospital Roberto Santos, e, depois no setor de Neonatologia, atuou como como docente para os internos da FMB e médicos residentes de pediatria da rede estadual.

Foi responsável pela implantação da Residência de Pediatria e posteriormente a de Neonatologia.

Em agosto de 2018 foi eleita membro do Conselho Regional de Medicina, e sobre a sua atuação como Conselheira disse: abre aspas “ Onde tenho tido oportunidade de aprender muito e de ver um outro lado da medicina” fecha aspas.

É a atual presidente do Comitê Estadual de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal.

ATIVIDADES ASSOCIATIVAS:

É especialista em Pediatria por concurso, pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

Exerce múltiplas atividades nas duas sociedades de pediatria, a baiana e a brasileira, ocupando diversos cargos de ensino e pesquisa.

Participa do Programa de Reanimação Neonatal (PRN) da SBP, como Coordenadora para o Nordeste.

Participa do Projeto de Mortalidade Neonatal Precoce relacionada a Asfixia.

Em dezembro de 2014, foi empossada como Membro da Academia Brasileira de Pediatria.

A professora Lícia já chega como imortal.

ATIVIDADES EM MEDICINA PRIVADA:

Implantou, e até os dias atuais é coordenadora, a UTI Neonatal do Hospital Santo Amaro (Fundação José Silveira), onde realiza um trabalho de qualidade técnica relevante, com enfoque no atendimento global ao recém-nascido e sua família.

Esta Unidade é responsável pela formação de grande número de profissionais do Estado da Bahia e referência no atendimento ao recém-nascido de alto risco.

Para melhor depor sobre a ilustre recipendária, ninguém melhor do que aqueles que convivem com ela na labuta diária nos ambulatórios e unidades hospitalares.

Diz a Professora Priscilla Ribeiro Lyra: “ Ao pensar em Dra. Lícia me vem à cabeça uma mulher dedicada, comprometida com os seus pacientes e colegas.

É uma dessas raras pessoas que sempre compartilha tarefas e alegrias e incentiva o sucesso daqueles com quem convive.

Durante vários anos foi a única professora de neonatologia da FMB, e com a sua competência e determinação fez a disciplina crescer sendo que atualmente todos os alunos de Medicina passam pelo internato de Neonatologia.

Após anos de dedicação ao ensino e produção cientifica na Pediatria e Neonatologia da Faculdade de Medicina da Bahia, ela continua com o vigor e força de sempre o que a faz referência na Pediatria e Neonatologia da Bahia e do Brasil.

Para nós da neonatologia da FMB é um orgulho fazer parte dessa história tão bonita. Saiba que a admiramos pela profissional exemplar e pessoa especial que é. “

Da Dra. Ana Flávia Oliveira, Enfermeira Chefa da UTI neonatal, ouvimos o seguinte depoimento em nome da equipe de Enfermagem do Hospital Santo Amaro.

“Dra. Lícia é exemplo de profissionalismo, ética e respeito, procurando sempre resolver as adversidades da melhor forma possível, incentivando a busca pelo conhecimento como a forma de crescimento profissional. ”

D. Veridieli Meira, mãe de um recém-nascido prematuro, faz o seguinte relato:

No dia 16/8/19 nasceu Kauâ, prematuro de 34 semanas. Não tinha noção da jornada que eu e minha família passaríamos. Foram dias difíceis de dúvidas, medo, angústia, mas também dias de superação, conquistas e alegrias. Aqui aprendi o valor de uma gota de leite materno, de uma grama de peso e de comemorar um xixi quando os rins voltaram a funcionar, um pulsar normal de um coração que quase parou.

Quero exaltar a Deus que cuidou de cada detalhe ao logo desses 65 dias e pela equipe da Neonatologia do Hospital Santo Amaro por todo amor, cuidado e orações. Vocês fazem parte do milagre chamado Kauã, fazem parte da vida de meu filho e poder sair daqui com ele nos meus braços, não tem preço. Só Deus para retribuir tudo que fizeram. Cada vez que olhar para Kauã, me lembrarei de vocês e do milagre que Deus fez através de cada mão.

Pode-se afirmar, portanto, que a Dra. Lícia e sua

Equipe, obedecem aos preceitos da boa medicina: sanare, sedare et solare. (Curar, aliviar e consolar)

NOSSAS CONCLUSÕES:

A Professora Lícia é um exemplo de médica e professora consciente de que a medicina não é infalível e que o médico não é onipotente.

Segundo o médico e educador William Osler, “ a formação do médico começa com o paciente, continua com o paciente e termina seus estudos com o paciente”.

O saudável e secular humanismo não pode ser esquecido.

Como era de se esperar, os médicos estão contaminados pelo encanto dos modernos equipamentos desviando perigosamente sua atenção para aqueles aparelhos que tudo resolvem, em detrimento da interação e empatia, fundamentais no celebre e às vezes esquecido relacionamento médico /paciente.

Mas nem tudo está perdido, podemos e devemos corrigir. Segundo Ghandy:  “ não se deve perder a fé na humanidade, pois ela é como o oceano, não é porque recebe eventualmente águas sujas, que esteja completamente sujo”

A Dra. Lícia tem sido assim.

É gentil no trato com os seus colegas, dedica-se com esmero aos seus alunos e é humana ao cuidar dos seus recém-nascidos, sejam os saudáveis, prematuros, enfermos ou malformados.

Acompanhei o seu trabalho na inicialmente precária UTI neonatal da Maternidade Climério de Oliveira, na condição de Diretor pró-tempore. Tamanha eram as deficiências decorrentes da falta de uma adequada estrutura e de aporte de insumos, que apenas o interesse, a dedicação e o amor aos pequeninos prematuros, operavam verdadeiros milagres, salvando-os para a vida, sem sequelas.  

É gratificante ver a forma como funciona a UTI neonatal do Hospital Amaro, local onde posso, hoje, acompanhar mais de perto a atuação da Dra. Lícia e sua equipe, repleta de amor, humanismo e competência.

“Para bem servirmos à Arte da Medicina, como ela deve ser servida, nós precisamos amar o nosso próximo” palavras de William Osler, rigorosamente seguida e ensinada pela professora Lícia.

Ao analisarmos a vida acadêmica e profissional da quase novel confreira, concluímos ter sido edificante.

Ela foi a criadora da especialidade de Neonatologia no nosso estado, inicialmente com a abertura de unidades de UTI neonatal nos hospitais São Rafael, Roberto Santos, Santo Amaro e Maternidade Climério de Oliveira. Simultaneamente criou a disciplina de Neonatologia na Faculdade de Medicina da Bahia, tendo sido a sua coordenadora por muitos anos e a primeira professora titular de Neonatologia.

Contribuiu sobremaneira para a formação de inúmeros especialistas na área de neonatologia. Sem medo de errar, creio que os seus discípulos ocupam a maioria dos postos de trabalho nas unidades de neonatologia dos nossos hospitais. Para mim, como obstetra atuante, é fácil identifica-los como ex-alunos e posso atestar a excelência técnica e humanitária que possuem, fruto da firme e competente orientação que receberam.

A Dra.  Lícia pelo seu perfil de ser humano, nasceu para cuidar, e cuidar sobretudo, das frágeis vidas dos nascituros.

A sua calma, voz macia e carinho nos cuidados, os embalam.

Do seu coração brota o amor que ajuda a curar.

Juntos, compartilhamos inúmeras emoções que só o nascimento de um novo ser é capaz de oferecer.

Na academia a novel confreira a ser empossada, emprestará o seu destacado perfil de mulher, médica e professora a uma nova causa, a causa acadêmica. Aguardamos felizes a sua chegada.   

Concluindo:

“A Academia – nos dizeres do Professor Jorge Novis, seu ex-presidente -  abrigando ideias que o tempo amadureceu; escoimada das asperezas que suscitam os ambientes de embates; serena, sem ser emoliente; sensata sem ser indiferente; senhorial, sem ser elitizante, é o clima propício à meditação dos acontecimentos médicos contemporâneos sob a ótica ajustada da verdade; é a casa do pensamento onde os fatos encontram a decantação que a aliança com o tempo proporciona”.

É essa, Professora Lícia Maria, a Academia que lhe acolherá. Seja bem-vinda à Academia de Medicina da Bahia, todos nós estamos orgulhosos em tê-la como um dos nossos pares e que os Deuses do Olimpo, continuem a lhe proteger e iluminar, sempre.

Estamos felizes.

Muito obrigado.

Tenho dito.