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Antonio Carlos Vieira Lopes <br> Membro Emérito
Antonio Carlos Vieira Lopes
Membro Emérito
Membro Anterior - Cadeira 26
18/03/2024
20:00
Saudação proferida por Antonio Carlos Vieira Lopes em homenagem ao Centenário de Nascimento do Acadêmico Prof. Dr. José Maria de Magalhães Netto

Em sessão solene ocorrida em 18 de Março de 2024, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, comemorativa do centenário de nascimento do Ilustre Acadêmico Prof. Dr. José Maria de Magalhães Neto, presidida pelo Prof. Dr. Cesar Augusto Araújo Neto, Presidente da Academia de Medicina da Bahia, foi proferido o discurso de saudação ao homenageado pelo Acadêmico Prof. Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes, Ex- Presidente da Academia de Medicina da Bahia. Seguiu-se ao discurso os pronunciamentos do Acadêmico Antônio Alberto Lopes, Diretor Faculdade de Medicina da Bahia e da Acadêmica Maria Luísa Carvalho Soliani, Magnifica Reitora da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública.

DISCURSO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO ACADÊMICO PROFESSOR DR.  JOSÉ MARIA DE MAGALHÃES NETTO

PROFERIDO PELO ACADÊMICO PROF. DR. ANTÔNIO CARLOS VIEIRA LOPES.

Houvesse nesta noite especial mais luzes que alargassem os caminhos, mais flores que os embelezassem e, sobretudo, o orador que não sou, chegaríamos mais perto da figura do médico, professor, intelectual e Imortal Acadêmico, Professor Dr. José Maria de Magalhães Netto.

Fui designado para proferir o panegírico em sua honra nesta solenidade comemorativa do seu centenário de nascimento por uma deferência muito especial do nobre presidente da ACADEMIA DE MEDICINA DA BAHIA, Prof. Dr. Cesar Augusto de Araujo Neto e sua diretoria, destacando a participação do confrade vice-presidente acadêmico Roberto José da Silva Badaró na tomada de decisão, fato que muito me sensibiliza.

Reconheço o dom da oratória em inúmeros confrades, que, decerto, melhor falariam em nome do nosso sodalício. O motivo alegado pela diretoria foge 

À capacidade de elaborar o panegírico e avança para a relação pessoal vivida por longos anos com o nosso ilustre homenageado. O dom literário, que não possuo, será substituído pelo que vem do meu coração.

O professor e imortal acadêmico José Maria de Magalhães Neto Nasceu em 16 de março de 1924, em Salvador, filho de Helena Celestino de Magalhães e de Francisco Peixoto de Magalhães Neto, que, além de pai, foi seu inesquecível e inexcedível mestre. Ex-catedrático da cadeira de Higiene da FMB e membro fundador da Academia de Medicina da Bahia, foi o primeiro ocupante da cadeira de número 32, sob o patronímico de Luiz Anselmo da Fonseca, hoje ocupada pelo confrade André Luiz Cerqueira de Almeida.

O culto à figura do pai foi o traço dominante de sua vida.

Após brilhante curso de graduação, diplomou-se em 1948, fazendo parte da 133ª turma, tendo sido colega de ilustres nomes da medicina baiana como Annibal Silvani Filho, Adelmo Botto, Anita Franco, Carlos Maltez, Fernando Visco Didier, Hugo Maia, José Raimundo de Aragão Araújo (pai do nosso augusto presidente Cesar de Araújo Neto), dos imortais acadêmicos Humberto Castro Lima , Geraldo Milton da Silveira, Luiz Fernando Macedo Costa, Norival de Souza Sampaio , Roberto Figueira Santos, Mário Augusto Castro Lima, Penildon Silva (pai da nossa estimada confreira Luciana Silva), entre outros não menos notáveis. 

Uma turma repleta de ex-professores, confrades e dois magníficos reitores da UFBA, à altura do brilho do nosso homenageado de hoje.

VIDA DOCENTE 

A sua trajetória de vida médica e docente é iniciada com o ingresso na Faculdade de Medicina da Bahia o que ocorreu em 1943. 

Após brilhante curso de graduação, foi diplomado em 1948, fazendo parte da 133 ª turma , tendo sido colega de ilustres nomes da medicina baiana como  Annibal Silvani filho, Adelmo Botto, Anita Franco, Carlos Maltez, Fernando Visco Didier, Humberto Castro Lima, Mário Augusto Castro Lima, Penildon Silva (pai da nossa confreira estimada Luciana Silva, Hugo Maia, José Raimundo de Aragão  Araújo,  ( pai do nosso augusto presidente ) dos imortais acadêmicos Geraldo Milton da Silveira,),  Luiz Fernando Macedo Costa, Norival de Souza Sampaio e Roberto Santos entre outros não menos notáveis. 

Uma turma repleta de ex-professores, confrades e dois magníficos reitores da UFBA.

Em 1951 tornou-se assistente de ensino da cadeira clínica obstétrica exercendo as suas atividades na maternidade Climério de Oliviera, cujo professor catedrático era o imortal acadêmico José Adeodato de Souza Filho.

Em 1951progrediu para professor assistente e professor adjunto em 1965. 

Nos idos de 1957, Zezito foi agraciado com uma bolsa estudos em Madrid, oferecida pelo instituto de cultura de hispânica, no renomado serviço do professor Botella Lluisia, que muito lhe acrescentou na carreira obstétrica. Tornou-se professor livre docente por concurso em 1978, cuja tese versou sobre “Anestesia e Analgesia em Obstetrícia.

Submeteu-se a concurso para professor titular em 1981 com a tese “Estudo da Hemocoagulação no Ciclo Grávido Puerperal”, sendo aprovado com louvor pela qualidade do seu estudo.  

Aposentou-se da Universidade Federal da Bahia em 14 de abril de 1992.

É professor emérito da Universidade Federal da Bahia e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

VIDA ACADÊMICA

O Imortal Acadêmico Professor José Maria de Magalhães Netto atravessou o peristilo da Academia de Medicina da Bahia, então presidida pelo acadêmico Prof. Jorge Augusto Novis, em 23 de setembro de 1983, sendo saudado pelo acadêmico Prof. José Adeodato de Souza Filho.

Nesta Academia ocupou a cadeira de número 10, cujo patrono é o professor Antônio Pacífico Pereira e o primeiro ocupante, o acadêmico Antonio Simões da Silva Freitas, sendo sucedido, quando ascendeu à condição de membro emérito, por seu ex-aluno,   acadêmico Roberto José da Silva Badaró. 

No seu discurso de posse, agradeceu aos seus mestres Francisco Peixoto de Magalhães Netto, Francisco Heron de Alencar, Almir de Oliveira, Eládio Lasserre e José Adeodato de Souza Filho e comentou o período de crises atravessado pela medicina contemporânea: deficiência no ensino, crise assistencial, crise pela baixa e vil remuneração imposta pelos governos, crise pelo abandono dos princípios éticos da profissão, crise imposta pela exposição da figura do médico através de notícias sensacionalistas e sórdidas, emanadas da imprensa, com óbvias consequências para o paciente e o exercício da profissão. 

O imortal confrade Geraldo Milton da Silveira destaca em artigo publicado nos Anais da Academia de Medicina da Bahia que “os discursos e artigos escritos por Zezito primavam pelo português escorreito, facilidade e clareza na transmissão de suas ideias. Empolgação e veemência, ao lado de farto vocabulário e sinonímia abundante, concederam-lhe característica singular”.

Foi autor de vários pronunciamentos abordando temas relevantes relacionados com o ensino médico e assistência à saúde reprodutiva feminina, sempre aplaudido entusiasticamente pela plateia.

VIDA ADMINISTRATIVA 

Foi diretor da Maternidade Tsylla Balbino durante 24 anos, sendo a sua passagem marcada pela assistência de qualidade à mulher no ciclo grávido-puerperal e prestando-se ao ensino da obstetrícia. Nessa época, era a grande escola por onde passaram inúmeros médicos com carreira vitoriosa na especialidade e passagem obrigatória daqueles que pretendiam exercer a medicina no interior do estado

Além de vice-diretor (1980-1984), foi o 34º diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA) entre 1984-1988.

Foi o sétimo diretor da Maternidade Climério de Oliveira, no período de 1988-1991.

Foi Secretário da Saúde (BA) no governo de Paulo Souto de janeiro 1995 a 1998 e no governo de Cesar Borges, de 1999 a 2002.

No seu discurso de posse do primeiro mandato, declarou que “faria uma administração pautada em rígidos princípios científicos, morais e éticos, tendo a honestidade como bandeira, a modernização como meio e a eficiência como fim, valorizando sempre o aspecto social.”  Não houve um mínimo de exagero no que foi afirmou, e assim ele sempre procedeu.

Foi homenageado pelo governo do Estado da Bahia, emprestando o seu nome à Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, inaugurada em 2006, pelo então governador Paulo Souto, para atendimento à população com gravidez de alto risco.

 ZEZITO PROFESSOR DE OBSTETRÍCIA

A partir daqui ele será Zezito. Assim ele era conhecido e amado no meio obstétrico.

Zezito ingressou na Maternidade Climério de Oliveira ainda muito jovem, quando cursava o terceiro ano do curso de medicina, ainda imaginando especializar-se em cirurgia geral. Empolgou-se com as aulas de Almir de Oliveira, que era o ocupante da cátedra e acumulava o cargo de diretor da Maternidade. Foi assim até a aposentadoria do Professor José Adeodato de Souza, após o que o cargo de diretor passou a ser exercido por médico técnico-administrativo e por profissionais de outras áreas.

Zezito era inteligente e culto, orador de recursos inigualáveis, dotado de excepcional capacidade didática. 

Como, à época, não dispunha de métodos audiovisuais, as suas aulas utilizando manequins eram teatrais, transformando a sala de aula em um imenso teatro de luz e saber. 

Usava o manequim e a pelve obstétrica francesa em bronze, ainda hoje existentes, para as aulas práticas de tocurgia e operações obstétricas, como intervenções mutiladoras sobre o feto, hoje abandonadas, fórceps, manobras obstétricas internas e externas, aprendidas com o Professor Eládio Lassere, seu grande mestre. 

Ele não gostava de usar giz e quadro negro.

Era um professor nato, deslumbrava os seus alunos e colaboradores.

Tive o privilégio de ser seu assistente desde que ingressei na FMB, como auxiliar de ensino, em 1973, até a sua aposentadoria em 1994, substituindo-o na coordenação da disciplina e chefia do Departamento.

Zezito era um defensor intransigente do parto vaginal, em detrimento da resolução por meio da cesariana e assim completava o seu raciocínio: “ o que frequentemente se observa é que o malfadado arrancamento transpelviano está sendo substituído pelo arrancamento abdominal, uma vez que, diante da larga facilidade  dessa via de acesso , todos se julgam capazes de executá-la, extraindo sem a desteridade de um parteiro o concepto, não raro acarretando luxações, fraturas, visto como não sabem praticar o tempo verdadeiramente obstétrico”. 

Nisso ele se antecipou como um verdadeiro visionário. A arte de partejar está desaparecendo, faltam professores com o devido conhecimento e prática para ensinar. 

Hoje, vejo com muita tristeza os nossos jovens especialistas em obstetrícia derivando para a prática da ultrassonografia.

Para enriquecer o aludido, vou contar um diálogo entre Zezito e o seu colega de turma, o saudoso e competente professor Hugo Maia. 

Era uma discussão entre um eminente ginecologista e um outro eminente obstetra, Hugo versus Zezito.

Dizia Zezito: “Se canal vaginal era o canal natural para a saída do feto, como o homem podia ousar desviá-lo para o abdome?” Hugo respondeu: “Ora, Zezito, se o homem é capaz de desviar o canal onde passa um rio para construir uma hidrelétrica, por que não desviar o canal de parto também?”

Entre risos e preocupações, precisamos segurar Zezito para evitar um carreirão em Hugo.

Não raro, nas suas aulas práticas de mecanismo de parto, ele citava os versos quase mnemônicos de Climério de Oliveira para descrever os movimentos que o feto executava até o nascimento:

“Diminui, se encurva e desce,
Roda, distende e aparece,
Avança, se estende e cai,
Gira, resvala e sai.”

Zezito, aprendeu com Eládio Lassere, definido como seu mestre, humanista, erudito, profundo conhecedor dos segredos da tocologia, o mais completo tocoiatra que ele conheceu. Tinha por ele uma filial afeição. 

Por ocasião da comemoração do seu jubileu na Maternidade Climério de Oliveira, o criador, Eládio, citou a criatura, Zezito, da seguinte maneira: 

“Numa das vozes que me saudaram, eu reconheço o timbre familiar de meu antigo discípulo José Maria de Magalhães Netto, o discípulo predileto, aquele em que eu gostaria de me rever não tivesse se excedido tanto como criatura que ultrapassa de muito o criador, gostaria, repito, de me reencontrar nele, na dedicação à especialidade, na probidade intelectual, no amor ao estudo, no pendor à clínica, no gosto à polêmica.”

Zezito defendia o ensino de qualidade, dando-se por inteiro e exigindo dos seus colegas professores o mesmo comportamento.

Em pronunciamento durante uma reunião para aprimoramento do ensino de obstetrícia no Rio de Janeiro, em data remota, Zezito concluiu a sua participação, citando as três imagens concebidas lapidarmente por Aldrich, para definir a sua preocupação com a formação dos médicos : “O médico humano do passado; o médico sábio do presente; e o médico do futuro, um mito que usa a automação e a informática para alcançar precisão diagnóstica, mas nem sequer é visto pelo doente.”

Oxalá não cheguemos ao médico do futuro, lutamos por isso.

ZEZITO E A FAMÍLIA

Conta D. Zizi: “Em 9 de junho de 1948, foi pedida para dançar ao som de “Malagueña Salerosa” (Mulher graciosa, cheia de charme) no Clube Bahiano de Tênis. Desde então, Zezito me despertou sintonia na dança e na conversa. 

Continua D.Zizi: Vivendo ao lado de Zezito por 50 anos, posso afirmar que foi a pessoa mais bondosa, honesta e sensata em todos os aspectos de sua vida. Seus sonhos foram realizados, pois ele adorava ensinar, era a atividade da qual mais se orgulhava. 

Fui muito feliz durante todos esses anos, sendo sempre seu par na vida e na dança, nas inúmeras festas, réveillons, carnavais.  Afinal, foi assim que nos conhecemos.”

 Zezito e Zizi tiveram duas filhas, Helena e Heloisa. 

Helena casou-se com o arquiteto Jean Gaston Humbert e deram dois netos a Zezito e Zizi:  Pedro, advogado em São Paulo e Camila, publicitária em Salvador.

Conta-nos Heloisa, carinhosamente chamada de Loy: “Meu pai era muito concentrado na profissão e muitas vezes chegava em casa “desabafando” (Bicudo) sobre as dificuldades e surpresas do dia, principalmente com minha mãe.

Nos fins de semana, ele se dividia com a família e amigos na casa de Interlagos, que tinha um campo de futebol, e só ganhava o jogo quem ficava no time de Dr. Zezito. Se não fosse assim, a cara de zanga e o bico eram inevitáveis.

Loy é mãe de Thaís, nascida em 1991, tendo ele como parteiro e eu e André Ferreira Filho com auxiliares, hoje brilhante médica especializada em ginecologia e obstetrícia e honrando o nome do avô.

Ela, Loy, assim define Zezito: “Meu pai foi um homem feliz, tudo dele era o “melhor”, a família mais bonita, a casa mais confortável, os melhores amigos. Tudo que ele conquistou foi com muito trabalho, dedicação e cultivado com muito orgulho e amor.”

Zezito foi definido como um bom irmão pelo caçula, o desembargador Eduardo Jorge Magalhães:                                            

“Inteligente e estudioso, venceu, exclusivamente, fazendo ciência e primando pela ética profissional, fosse no seu consultório, onde inspirava respeito, competência e segurança a todas as suas clientes,

fosse no Serviço Público, onde exigia cumprimento irrestrito da lei, fosse, enfim, como professor, atividade que lhe rendera admiração e simpatia dos seus alunos, orgulhando-se muitos deles, hoje em pleno sucesso, da condição de seus discípulos e seguidores convictos.

Voltando à juventude, tem-se que o moço que estudava com talento e garra, assim também atuava no futebol, não temendo bola dividida, enfrentando o corpo-a-corpo, corajoso nas bolas altas e dono de um chute ultra potente, qualidades que o levaram a integrar o time principal do BAHIA, tricampeão (1943/44/45), formado, basicamente, por YOYÔ, BAHIANO e HÉLIO; ZEZITO, PRAZERES e SILVA; CAMERINO, PIPIU, ZÉ HUGO, CACETÃO E AURÉLIO.

Pavio curto e coração imenso, seus amigos jamais foram de ocasião. Com todos, de todos os tempos, era o mesmo e sabia separar amizades de opiniões “.

Zezito teve como irmãos personalidades de destaque na política e vida social da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, Angelo Magalhães, Jayme Magalhães, o já citado Eduardo Jorge e D. Helena Margarida Magalhães Araújo Abreu.                                                                            

 ZEZITO E OS AMIGOS 

Havia a contumaz reunião dos sábados, após o encerramento da jornada médica no Hospital Português.  José Tavares (o parteiro) Renato Marques e Tomaz Almeida eram os participantes principais.  Entre rodadas de cerveja e acarajés bem apimentados, falava-se de tudo, menos de política (dava briga).

Quando a farra se prolongava, Zizi vinha buscá-lo.

Sobre Zezito, o nosso Imortal Confrade Geraldo Milton, seu amigo, assim se expressou: “Há pessoas que nascem predestinadas ao sucesso em qualquer área de atividade humana que se arvore a executar.  Zezito foi um desses predestinados.”

Era considerado um exímio dançarino, o que fazia demonstrando imensa alegria, inclusive o famoso passo miudinho. Cantava, também, tendo sempre como parceira o seu grande amor Zizi, professora de canto e dona de uma bela voz.

Zezito era rígido quando necessário, briguento. 

Contrariado ficava bicudo, apelido carinhoso utilizado pelos mais ligados. 

ZEZITO POR MIM

Passei a conhecer Zezito na clandestinidade, como aspirina (estudante de medicina não concursado), da Maternidade Tsylla Balbino. 

Lembro-me bem, escondido de onde estava, descortinei um homem jovem, corpo atlético, impecavelmente vestido de branco, desde os sapatos muito limpos, calça e camisa de mangas curtas confeccionadas em legítimo linho irlandês e muito bem engomadas.

Sob a sua direção na Tsylla Balbino, fui aspirante a interno, interno, médico plantonista, coordenador de ensino e substituto do diretor. 

Na Maternidade Climério de Oliveira, convivemos primeiro como médico residente, médico voluntário, ingressando por fim no magistério.

Juntos no mesmo time, o Placenta, vencemos vários campeonatos no Clube dos Médicos, eu como goleiro e ele como zagueiro central, para desespero de Perazzo e Bernardo Spector, Ubaldino Barbosa, entre outros.

Tendo Zezito como exemplo, admirava o seu vigor, dedicação ao ensino, seriedade no trato com a coisa pública, inteligência (ele tinha uma memória incrível para nomes e datas), habilidade na arte de partejar, didática e fino trato humano e respeitoso com as pessoas e suas pacientes.

Às vezes, extrapolava e ficava brabo,” bicudo “, mas, se estivesse errado, desculpava-se, também sabia perdoar o erro alheio.

Era dotado de um bom coração. Pena que esse mesmo coração lhe tivesse faltado por três vezes, a última delas, fatal.

No meio médico, habitualmente o discípulo é chamado de filho. Tenho a honra de me considerar o seu discípulo preferido e de ser apelidado de filho de Zezito. Com ele aprendi valores essenciais na formação de um médico, de um professor e de um homem.

Para mim, Zezito foi um exemplo de seriedade, integridade dedicação e competência, em tudo que praticou.

Recentemente em conversa com D.Zizi, Lena , Jango e Loy, ouvi deles a expressão que me comoveu e fez os meus olhos marejarem de lágrimas:

“Toninho, você faz parte da família”.

É o reconhecimento do amor filial que me ligava ao meu criador na obstetrícia.

Obrigado, Imortal Acadêmico e Imortal Professor Dr. José Maria de Magalhaes Netto, a sua trajetória de vida agora centenária, será guardada para sempre e servirá de exemplo para as futuras gerações.

“Seu filho” continua pregando pelos caminhos que você me ensinou.

O saudoso imortal confrade José Maria de Magalhães Netto encantou-se em 25 de março de 2002, em plena atividade profissional, no exercício do cargo de Secretário de Estado da Saúde, deixando um enorme vazio no seio dos seus confrades, colegas, amigos, clientes e familiares, que vem sendo ocupado por uma saudade profunda nos nossos corações.

Finalizando a minha oração de saudação ao centenário de nascimento do acadêmico José Maria de Magalhães Netto, concluo citando o historiador romano Públio Cornélio Tácito, por ele referido em discurso homenageando seu pai: “Eu não o comparo, eu o separo.”

Muito obrigado.

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