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Roberto José da Silva Badaró
Roberto José da Silva Badaró
Membro Titular Cadeira 10
25/04/2024
11:30
Saudação em homenagem ao Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos por sua contribuição à Ciência

Em solenidade ocorrida no Auditório da FIOCRUZ / Bahia, em 24 de abril de 2024, o Instituto Gonçalo Muniz prestou homenagem póstuma ao Pesquisador Emérito da FIOCRUZ Prof. Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos. Na solenidade a Academia de Medicina da Bahia esteve representada pelo seu Vice-presidente Prof. Dr. Roberto José da Sila Badaró. 

No decorrer da cerimônia foi proferido o discurso de saudação ao homenageado pelo Acadêmico Roberto José da Silva Badaró.

DISCURSO

Homenagem ao Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos por sua contribuição à Ciência 

Prezados colegas, amigos e familiares presentes

Hoje nos reunimos aqui na Fiocruz- Bahia, para celebrar a vida e o legado do Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos; uma figura excepcional que dedicou sua existência à pesquisa científica e à medicina. Ricardo foi muito mais do que um pesquisador brilhante; ele foi um exemplo inspirador de dedicação, excelência e compromisso com a ciência.

O Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos nasceu na cidade de São Paulo, em 1941 e nos deixou o ano passado em 16 de abril de 2023, nos idos dos seus bem vividos 82 anos. Ricardo, assim me permito referir-se a ele por ser meu amigo desde os anos 80 quando o conheci na reunião Anual de Pesquisa Básica em Doenças de Chagas no hotel Gloria em Caxambu, Minas Gerais. Bebíamos juntos muitas caipirinhas, Eu, Ricardo, Professor Edgar Carvalho, Bernardo Galvão e muitos outros pasmem, discutindo ciência.

 Antoniana Ursine Krettli e Rosalia Motero, eminentes cientistas brasileiras, aqui presentes hão de concordar comigo.  Impressionava-nos as ideias sempre inovadoras e peculiares na pesquisa da doença de Chagas que tinha Ricardo Ribeiro dos Santos.  Anualmente, durante mais de 10 anos nos encontrávamos nessa famosa reunião de Caxambu.

 Entre 2000-2008 fui para a Universidade da California, em San Diego e perdemos contato, mas nos últimos 5 cinco anos fomos colega de trabalho na última Instituição a qual ele ajudou a implantar: o Laboratório de imunologia e pesquisa básica em células tronco e mesenquimais juntamente com sua amada companheira, a pesquisadora e excepcional cientista Professora Milena Soares. Juntos construímos o Instituto de Saúde do Senai – Cimatec, onde convivíamos diariamente.

 Ricardo foi uma figura exemplar que dedicou sua vida à pesquisa e fez diversas contribuições originais para a medicina e a ciência. Foi um exemplo inspirador de dedicação, excelência e compromisso com o ensino e a pesquisa. Seu legado com certeza continuará a inspirar e influenciar gerações futuras de pesquisadores e profissionais da área da saúde.

 Ricardo Graduou-se em medicina pela Universidade Estadual de Campinas em (1969), obteve o título de doutor em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (1973). Fez sua livre docência em Patologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP (1977). Foi Professor Titular de Imunologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em São Paulo em 1988.  Foi Pesquisador Titular na Fundação Oswaldo Cruz (RJ), onde também atuou como diretor do Hospital Evandro Chagas de 1990 a 1991. Mais tarde, atuou como coordenador do Laboratório de Imunopatologia do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular no Instituto Oswaldo Cruz (RJ), bem como Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Far-Manguinhos, RJ) entre 1995-1997, Nesta área foi também Coordenador do Laboratório de Farmacologia Aplicada do Instituto de Tecnologia em Fármacos  de (Far-Manguinhos) e Pesquisador Titular do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz aqui  FIOCRUZ/BA desde 2009 até 2018. Também, neste período foi coordenador de Pesquisas Básicas do Hospital São Rafael (HSR) - Monte Tabor Centro Ítalo Brasileiro de Promoção Sanitária, onde ele implantou junto com a Professora Milena o primeiro Centro de Biotecnologia e Terapia Celular (CBTC) da Bahia. Ricardo presidiu a Sociedade Brasileira de Imunologia (1983-1984), ajudou a criar e presidiu a Associação Brasileira de Terapia Celular entre (2006-2008). Em 2019, pelo nosso convite e da Dra. Josiane Dantas Barbosa professora titular do Senai Cimatec criou e coordenou o Centro de Terapia Celular, do Instituto de Tecnologia da Saúde do Senai Cimatec juntamente com a Professora Milena Soares. Merecidamente a partir de janeiro de 2019, foi nomeado pesquisador Emérito da Fiocruz. Em novembro de 2019 recebeu junto com Milena um prêmio peculiar chamado Nelson Mandela. Um prêmio de uma organização popular daqui da Bahia: A União de Sociedades Espiritualistas, Filosóficas, Científicas e Religiosas, que é um movimento de instituições e pessoas ligadas a atividades de cunho espiritual, religioso, filosófico e científico surgindo em Salvador, Bahia, em junho de 1989. Isso destaca o reconhecimento popular advindo de pessoas que se beneficiaram com seus estudos de pesquisa clínica.

  Ricardo recebeu vários outros prêmios em reconhecimento ao seu trabalho e vasta produção científica de elevada qualidade, que destacarei apenas aqueles que pouquíssimos cientistas brasileiros receberam: Destacamos o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico (MCT) que recebeu em 1980. Em 1982 recebeu o Prêmio Otto Cirne da Associação Médica de Minas Gerais pelo seu trabalho: Modulação da Resposta Imuno-celular Anti-Miocárdio na Forma Crônica da Doença de Chagas Humana. 

Em 1985 recebeu a Medalha da Comenda Memorial Carlos Chagas do Governo do Estado de Minas Gerais – Em Oliveiras Minas Gerais.

 Em 1999 recebeu a Medalha Carlos Chagas – pelo melhor trabalho apresentado no Simpósio Internacional sobre Avanços no conhecimento da Doença de Chagas, da FIOCRUZ.   Ainda em 1999 recebeu o prêmio de melhor trabalho em Doença de Chagas - Immunopatholgy and Immunomodulation of Cardiomyopathy in the Chagas's Disease, na XV Reunião Anual de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas.

Em 2003 recebeu o Prêmio Zerbini de Cardiologia - 1o lugar na categoria nacional, outorgado pela Fundação Zerbini. Em 2006  recebe a Ordem Nacional do Mérito Científico, do Ministério da Ciência e Tecnologia -

Em 2012 recebeu a Medalha José Silveira do Mérito Científico do Rotary Club, Fundação José Silveira; Em 2013 recebe o Prêmio Baldacci de Publicação Científica Tema: Doença de Chagas. Ricardo tornou-se imortal em 2015 ocupando a cadeira de número 05 na Academia de Medicina da Bahia, cujo patrono é o Professor Alvaro de Carvalho.

 Ricardo era um dos poucos incansáveis pesquisadores que ainda encontrava tempo para presidir associações médico-cientificas e organizar congressos e reuniões cientificas brasileiras.

 Além de presidir a Sociedade a Brasileira de Imunologia, organizou vários congressos e simpósios. Em 2005 foi um dos organizadores e presidente do 1º  congresso da Associação Brasileira de Terapia Celular (ABTcel)

 Atuou como coordenador de vários projetos, dentre eles o Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual (IMBT/MCT, 2001-2005).

 Ricardo e Milena organizaram o primeiro Estudo Multicêntrico de Terapia Celular em Cardiopatia Chagásica, no Instituto de Terapia Celular da Bahia através da Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).

 Se pudéssemos resumir o currículo do Cientista Ricardo Ribeiro dos Santos diríamos: “Ricardo tinha renomada experiência nas áreas de imunologia, patologia, farmacologia e terapia celular, com ênfase na doença de Chagas e pioneiro na introdução de terapia com células-tronco para doenças degenerativas e traumáticas, bem como farmacologia de produtos naturais e sintéticos”.

A história de vida de Ricardo é muito interessante: 

 Seu primeiro contato com a pesquisa veio em seu estágio como técnico de laboratório no Instituto Adolfo Lutz em São Paulo durante dois anos. Seu interesse pelas ciências biomédicas e pela investigação científica foi estimulado desde cedo pelo convívio com o saudoso Prof. Samuel Pessoa renomado parasitologista Brasileiro, que tive a honra de conhecê-lo, quando eu ainda era estudante de medicina nos anos 70. Ricardo, teve o privilégio de acompanhar e participar de trabalhos de pesquisa no laboratório do Professor Samuel Pessoa, quando ainda cursava o ensino médio. Era um ambiente onde transitavam vários pesquisadores de renome internacional na área de parasitologia, sendo então uma experiência marcante para a sua carreira, que com certeza o levou a cursar a Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), iniciado em 1964 e concluído em 1969.

Já durante o período da faculdade, realizou a sua iniciação científica sob orientação do Prof. Walter August Hadler que era professor titular de medicina e coordenador de pesquisa da Unicamp e, orientou Ricardo no trabalho sobre “o papel do baço na hematopoese”. Mas o seu interesse pela medicina tropical foi despertado pelo professor de doenças infecciosas e parasitarias, o Prof. Vicente Amato Neto com quem posteriormente, fez o seu doutoramento em Clínica Médica e Doenças Infecciosas e Parasitárias. O Prof. Amato Neto, era professor titular de infectologia da UNICAMP, em 1973 (antiga cadeira de Doenças Infecciosas e Parasitarias). Foi no seu doutorado, que iniciou suas pesquisas com a doença de Chagas, esta; que foi por décadas o principal foco de seus estudos de pesquisa. A doença de Chagas entrou literalmente no sangue de Ricardo Ribeiro dos Santos. No laboratório infectando camundongos com o Trypanosoma cruzi, Ricardo deixa acidentalmente cair uma seringa com alta concentração de formas infectantes de T.cruzi,  a agulha cai no seu pé e  o feriu e inoculou o Trypanosoma cruzi no seu sangue. Ricardo espera alguns dias e faz sua parasitemia que revelou estar infectado pelo Trypanosoma cruzi. À época já havia uma droga parasiticida de protozoários o Nifurtimox o qual ele fez uso durante 1 mês e a parasitemia desapareceu. 

Ricardo era um chagásico e viveu assintomático até o final de sua vida. 

A formação de médico e cientista de Ricardo transcende o Brasil. Ricardo fez pós-doutoramentos na London School of Tropical Medicine and Hygiene em Londres na Inglaterra, entre1973-1974, e posteriormente no Departamento de Imunologia do St George Medical Hospital, da London University, onde intensificou os estudos em imunologia em doenças parasitarias. Quando retorna de Londres em 1974, Ricardo foi convidado pelo Prof. Dr. Fritz Köberle para fazer parte do corpo docente do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP em 1975), este foi um momento de bastante vivência e aprendizado na área de patologia para Ricardo, que certamente foram aplicados às suas linhas de pesquisa. Neste período, que teve a honra de trabalhar ao lado do Prof. Fritz Köberle, para conhecimento dos mais jovens aqui presentes, o Prof. Köberle foi um dos mais importantes especialistas de todos os tempos em doença de Chagas. Professor Köberle era Austríaco fez medicina em Viena  em 1953. Após a segunda guerra mundial foi convidado pelo professor  Zeferino Vaz, eminente  fundador da Universidade de Campinas,   para organizar o Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Köberle notou que a doença de Chagas poderia ser um campo promissor de pesquisa para ele e para o recém-fundado departamento. A doença de chagas, descoberta por Carlos Chagas em 1909, pouco se sabia sobre as manifestações clínicas dessa doença. Quarenta anos depois, o Professor Köberle faz descrições peculiares sobre as formas crônicas da Doença de Chagas, como o, megaesôfago, megacólon, cardiomegalia, aneurisma ventricular cardíaco e acalasia. Köberle foi fundador de uma das principais escolas de patologia do Brasil, desenvolvendo diversos estudos sobre esta doença. Com certeza é daí que nasce o interesse de Ricardo pela Doença de Chagas.

 Ricardo fez a sua livre-docência em imunologia e, posteriormente, assumiu o cargo de Professor Titular pelo departamento de parasitologia, microbiologia e imunologia na faculdade de medicina de Ribeirão Preto, em 1988.

Durante sua estadia na FMRP/USP, o Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos, montou o departamento de imunopatologia coordenou a triagem da Unidade de Transplante Renal desta faculdade e implantou o laboratório de tipagem de HLA. Alguns anos depois, tive contato com Ricardo nessa época nos anos 80 quando esteve conosco na UFBa no laboratório do Hospital das Clínicas para montar o exame de HLA para apoiar o transplante renal nesta instituição. Em 1988, à convite do Prof. Dr. Sérgio Arouca, Ricardo transferiu-se para a FIOCRUZ, no Rio de Janeiro, onde foi Pesquisador Titular do Departamento de Imunologia do Instituto Oswaldo Cruz, dando continuidade às pesquisas de imunopatologia em doença de Chagas. Em 1998, transferiu-se para o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, FIOCRUZ, em Salvador, BA, onde implantou e foi coordenador do Biotério e da informática, contribuindo para a estruturação desse centro de pesquisas. Implantou também o Laboratório de Imunofarmacologia, o LIF, que posteriormente se tornaria o Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia (LETI). Nesse laboratório, deu continuidade às pesquisas em imunopatologia da doença de Chagas e implantou a triagem de fármacos com ação antiparasitária e imunomoduladora.  Ao longo da carreira do Dr. Ricardo, tornou-se uma missão, a busca de uma terapia para o tratamento de pacientes com a forma cardíaca da doença de Chagas. Concentrou sua investigação nas bases imunológicas que determinam o desenvolvimento da forma grave da doença, área na qual contribuiu com trabalhos de grande significância, em especial na demonstração do papel de respostas autoimunes contra antígenos do coração no desenvolvimento da cardiopatia chagásica crônica. Demonstrou, ainda, o papel da persistência parasitária para o desenvolvimento de formas graves da doença, reforçando a importância da descoberta de novas drogas anti-Trypanosoma cruzi, área na qual se dedicou através da triagem de moléculas isoladas de produtos naturais. O benzonidazol junta -se ao nifurtimox como drogas de eleição no tratamento da doença de Chagas. Ricardo monitorizou e supervisionou o desenvolvimento desta droga. Mais recentemente realizou estudos farmacológicos de triagem de biomarcadores com valor prognóstico da evolução da Cardiopatia Chagásica Crônica. Nesses últimos 20 anos vinha estudando formas de modular a miocardite chagásica e reduzir a fibrose cardíaca, testando moléculas e hormônios celulares, como o G-CSF, em ensaios clínicos em pacientes portadores de cardiopatia chagásica.

Ricardo deu uma guinada na sua linha de pesquisa voltando-se para a medicina regenerativa e a implantação do Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael.  É o apogeu deste brilhante cientista brasileiro. 

A descoberta do papel das células-tronco adultas na regeneração cardíaca estimulou-o a iniciar estudos na área de terapia celular. Implantou o Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual, projeto iniciado em 2001, que coordenou e agregou pesquisadores de várias instituições no Brasil com a finalidade de desenvolver projetos na área de terapias com células tronco e bioengenharia tecidual para doenças degenerativas, com financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Banco Mundial. Este projeto é de grande relevância para o país, pois proporcionou meios e agregou cientistas da área básica e clínica, elevando a ciência brasileira na fronteira mundial desta nova área da pesquisa em ciências biomédicas. Dr. Ricardo, teve a ideia inovadora do uso de células-tronco para tratamento de doença de Chagas. Conduziu um excelente estudo no hospital Santa Isabel aqui de Salvador -Bahia, juntamente com excelentes cardiologistas baianos Dr. Fabio Villas Boas e o Professor Dr. Gilson Feitosa. Demonstraram os efeitos imuno-modulatórios da terapia com células-tronco adultas em 2001, em um modelo experimental de cardiopatia chagásica, quando ainda não se falava sobre imunomodulação mediada por células-tronco, ou efeitos parácrinos. Sua primeira publicação descrevendo efeitos imuno-modulatórios de células-tronco mesenquimais saiu no ano de 2003.  Publicados no American Journal of Pathology, que lhe rendeu o prêmio Zerbini, pela sua relevância nas pesquisas na área de cardiologia no país. Esses dados embasaram a aprovação de um estudo multicêntrico (MyHeart) para avaliação de eficácia do tratamento com células mononucleares da medula óssea em pacientes com insuficiência cardíaca. O resultado desse estudo, coordenado por Ricardo, foram publicados no periódico Circulation, uma das revistas de maior impacto na área de cardiologia. O artigo no Circulation lhe concedeu o prêmio Baldacci. O impacto desse estudo clínico em terapia celular na doença de Chagas foi de tamanha dimensão na grande  mídia nacional e internacional, que foi publicada no The Wall Street Journal, uma matéria sobre o assunto onde aparece uma foto do Dr. Ricardo com o primeiro paciente com doença de Chagas tratado com células-tronco. A partir desse primeiro estudo clínico o uso de células tronco estendeu-se para outras doenças como a cirrose hepática, que foi patrocinado pelo Hospital São Rafael, estabelecendo uma parceria técnico-científica entre a FIOCRUZ e o Hospital São Rafael que culminou com a inauguração em 2009 do Centro de Biotecnologia e Terapia Celular (CBTC) montada no Hospital São Rafael. Este laboratório foi uma realização de um sonho do Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos, pois cria condições para desenvolvimento de terapias celulares avançadas, sendo um dos poucos laboratórios neste padrão no Brasil, unindo pesquisa básica, estudos pré-clínicos e pesquisa clínica. É um dos oito laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde para desenvolvimento de terapias celulares de alta complexidade, o único nas regiões norte- nordeste. Atualmente, o grupo de pesquisas que foi por ele coordenado desenvolve pesquisas em terapias celulares para doenças cardíacas, hepáticas, isquêmicas e trauma raquimedular, seja na fase pré-clínica, seja na fase clínica. A missão de trazer tratamentos com base em terapias celulares que possam prevenir ou reduzir danos teciduais, desse modo, se tornou o grande foco da pesquisa do Dr. Ricardo. Nesta trajetória de sua atuação em medicina regenerativa, Ricardo Ribeiro dos Santos fundou a ABTCEL, em 2004, da qual foi o primeiro presidente, e organizou o seu primeiro congresso internacional no Brasil, realizado em 2005, em Salvador. Em 2007, participou da histórica primeira audiência pública aberta pelo Supremo Tribunal Federal, representando a ABTCEL, referente à Lei de Biossegurança, que regulamentou a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas no nosso país. Novamente trazendo inovação à Bahia, promoveu a implantação da plataforma de reprogramação celular para a geração de células-tronco pluripotentes induzidas; tecnologia que abre inúmeras possibilidades de desenvolvimento tecnológico e novas terapias. Ricardo publicou cerca de 150 artigos científicos em periódicos de elevado impacto científico, 346 resumos em anais de congressos, orientou mais de 60 alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado e coorientou dezenas de outros. Enfim, como pesquisador e professor, Ricardo deixou sua marca em diversas instituições renomadas, incluindo a FMRP/USP a Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro a Fiocruz de  Salvador, Bahia e mais recente no Senai-Cimatec e a mais de uma dezena de instituições de pesquisa no Brasil e no exterior. 

Portanto, fica aqui este registro do seu trabalho incansável e inovador na contribuição significativamente para a compreensão dessa doença complexa e para o desenvolvimento de novas terapias. 

Mas Ricardo não era apenas um cientista brilhante; era também um mentor dedicado. Sua produção científica extensa e seu papel como orientador de inúmeros alunos destacam o impacto e a importância de suas contribuições para a comunidade científica. Ricardo inspirou gerações futuras de pesquisadores e profissionais da área da saúde que por certo dará continuidade ao seu trabalho. 

A vida pessoal de Ricardo era muito simples. Teve 4 filhos, uma filha Mariana e 3 filhos, Marcio, Marcelo e Marcos, 12 netos e 1 bisneto.  Ricardo morava só ao lado de sua companheira Milena, com seu cachorro Faísca. Sempre foi um desportista, cuidava bem de sua saúde, gostava de esporte e era amante do mar. Ricardo foi medalha de ouro em polo aquático nos jogos Panamericanos de São Paulo, em 1963 e era faixa preta de Judô. Fez curso de mergulhador e adorava ir ao mar e ficar olhando os peixes. Tinha um aquário em casa que passava horas olhando para ele admirando os peixinhos coloridos.  

Ricardo, tinha um grande senso de caridade. Inúmeros foram os alunos que ajudou a pagar a escola, transporte e até alimentação.

Hoje, ao nos despedirmos deste grande homem, reafirmamos nosso compromisso em seguir seus passos, seu exemplo. Que possamos continuar a honrar sua memória, mantendo viva a chama da pesquisa e da dedicação à saúde.

Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos, sua luz brilhará eternamente em nossos corações e nossas mentes. Obrigado por tudo que você fez e por inspirar tantos de nós.

 Ricardo não morreu, ele permanece entre nós através de seus muitos orientandos e principalmente através da Professora titular do Senai- Cimatec, Dra. Milena Soares, pesquisadora imunologista do Cimatec Saúde, local onde juntos, Ricardo e Milena, implantaram seu ultimo laboratório com diversas tecnologias disponíveis na área de Terapia Genica, Terapia Celular, Car T cell e a sua nova descoberta as Vesículas Celulares de Células Tronco que possivelmente substituirá em certa áreas as células tronco como terapia regenerativa ampliando significativamente o universo das terapias celulares no Brasil e no mundo.

Obrigado Ricardo por existir entre nós,

Muito obrigado pela atenção de vocês.

Roberto Badaró

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