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Leila Maria Batista Araújo
Leila Maria Batista Araújo
Titular - Cadeira 44
04/08/2016
20:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Leila Maria Batista Araújo

Ilmo Prof Almério Machado e ilustres colegas confrades
Srs, Sra aqui presentes, minha familia, meus alunos e meus amigos.

Agradeço as amáveis palavras do confrade Prof Thomaz Rodrigues Porto da Cruz, com quem tenho convivido há 45anos como aluna, como amiga e como colega, tanto na Universidade Federal da Bahia como na Sociedade Regional de Endocrinologia e Metabologia. Ninguém aqui profissionalmente me conhece melhor do que êle. Prof. Thomaz é um lider nato e sua competência o distingue dentre os melhores endocrinologistas do Brasil e exterior.
Hoje, nesta reunião, perante os senhores acadêmicos, na presença de outras ilustres autoridades, de companheiros de trabalho, de amigos e de minha família, sou empossada como Membro Titular da Academia de Medicina da Bahia.
Recebo esta honraria, envaidecida, profundamente gratificada pelo reconhecimento do meu trabalho pelos nobres confrades, mas perfeitamente consciente da responsabilidade e do que representa ser Membro Titular desta instituição. Ingressar na Academia de Medicina da Bahia é um momento muito especial da minha vida profissional e um extraordinário privilégio de conviver com ilustres confrades que são os melhores de todas especialidades médicas. Esta caracteristica permite uma diversidade de pensamento que gera um enriquecemento recíproco continuamente.
Quero parabenizar ao Ilmo. Prof Dr Almério Machado, que está a frente na Presidência desta Academia, que com seu carisma, seu extremo dinamismo e competência a tem liderado com muito brilhantismo.
Cabe a mim, que hoje estou assumindo a Cadeira no 44 desta Academia, falar sobre minha antecessora. Ela foi uma grande médica ginecologista, obstétra e a primeira médica legista do Brasil. Foi professora da nossa UFBA e da Escola Bahiana de Medicina, uma excelente profissional, uma pessoa ética e de muitas qualidades e que é um ícone quando se fala em Medicina Legal no Brasil. Falo da Prof Dra. Maria Thereza de Medeiros Pacheco. A conheci em vida, foi minha professora e tinha por ela grande admiração como médica, como professora e como mulher  

.Nasceu na cidade de Atalaia, interior de Alagoas, nas margens da Usina Rio-Branco, no dia 2 de setembro de 1928, filha de Jorge Pacheco Filho e Carolina de Medeiros Pacheco. Foi a 2ª. filha de cinco filhos.
Maria Thereza de Medeiros Pacheco viveu parte de sua infância nos municípios de São Miguel dos Campos e Penedo. Sempre se mostrou determinada, personalidade forte, e aos 20 anos, em 1948, mesmo com a reprovação da mãe, partiu para Salvador, para tentar cursar a Faculdade de Medicina, já que em Maceió não existia escola superior. Isto no mínimo provocou escândalo na época! Dra Maria Thereza já foi então precursora dos movimentos feministas!!
Houve momentos na história da humanidade, como na Idade Média, em que a mulher tinha direitos mais abrangentes como acesso total à profissão e à propriedade além de chefiar a família. Estes espaços se fecharam com o advento do capitalismo. De modo geral, quase sempre houve  hegemonia masculina nos diferentes espaços públicos e da mulher no espaço doméstico. Na década de 1960, a publicação do livro O Segundo
Sexo, de Simone de Beauvoir, viria influenciar os movimentos feministas na medida em que mostra que a hierarquização dos sexos é uma construção social e não uma questão biológica. Ou seja, a condição da mulher na sociedade é uma construção da sociedade patriarcal. Assim, a luta dos movimentos feministas, além dos direitos pela igualdade de direitos incorpora a discussão acerca das raízes culturais da desigualdade entre os sexos.
A primeira a ter coragem de enfrentar a resistência masculina foi a gaúcha Rita Lobato Freitas, formada em 1887. Foi uma luta árdua para vencer o preconceito e lograr o diploma do curso. Com determinação, Rita conseguiu se formar em apenas quatro anos em um curso que durava seis.
Foi recomendada a um amigo médico da familia que tinha sido noivo da sua tia, Dr Estácio Gonzaga, também alagoano, formado na Bahia, Prof Medicina Legal. Esta pessoa veio a ser seu tutor e maior amigo por toda vida. Morou inicialmente com uma colega de turma, Maria del Carmen, já
aprovada para Medicina. Optou por Ginecologia e Obstetricia e ainda estudante trabalhou na Maternidade Climério de Oliveira, Maternidade Tsyla Balbino, Maternidade Nita Costa, sendo tida como defensora das mães pobres. Trabalhou com Dra Iracy Costa, Prof Carlos Aristides Maltez, este último idealizador da Liga Bahiana contra o Câncer. No 5º ano, passou a frequentar e até morou no Hospital Aristides Maltez e também o Hospital Manoel Vitorino. Passou tambem a frequentar o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, que funcionava no Terreiro de Jesus e atendia as vítimas de atentados sexuais- aborto, estupros, o que a influenciou os estudos em Medicina Legal. Depois no ano seguinte, em 1954, Prof Estácio Ramos convidou-a para atuar na área de Sexologia Forense, sendo a 1ª. mulher a atuar nesta área. Seus conhecimentos em Ginecologia foram fundamentais para este exercício.                                                                                       

Depois de apresentar tese de Docência Livre da Universidade Federal da Bahia, sobre Aspectos da delinquência sexual em 1965. consagrou-se definitivamente pela Medicina Legal e se tornou a primeira mulher Médica Legista do País, assumindo a Cadeira do seu prof Estacio de Lima.
Em 1968 fez Residência Médica pelo Instituto Médico Legal de Coimbra.
Em 1969 fez Doutorado em Paris e sua Tese foi sobre Alterações dos grupos sanguineos em sangue de cadáveres putrefeitos e congelados. 

PACHECO, Maria Theresa de M. De l’evolution
post-mortem des groupes sanguins: mémoire pour le titre d’Assistant Etranger. Paris: L'Unite d’Enseignement et de Recherche de
Medecine Legale de Paris, 1969.   

INSTITUTO MÉDICO LEGAL NINA RODRIGUES – IMLNR
Dra Maria Theresa Pacheco Diretora 1971 a 1987
Fez visita a diversos outros centros de policia científica na França, Alemanha, Itália, Suiça e Holanha.
Retornando à Bahia, assumiu a direção do IMLNR entre os anos de 1972 e 1987. Notabilizou-se pelo suporte as mulheres violentadas que procuravam o IMLNR. Voltou mesmo a trabalhar na Necroscopia e numa entrevista disse...”embora me sensibilize quando vejo os cadáveres sobretudo, de pessoas conhecidas ou amigas. Porém, mesmo sendo um amigo que morre não deixo de trabalhar porque é a última homenagem que lhe prestarei fazendo a autópsia”.
No meio de sua gestão iniciou os trabalhos para a construção de um novo e moderno complexo que comportassem as novas tecnologias e atendesse a demanda de uma Bahia em constante crescimento. Assim, em parceria com outros profissionais da época, com apoio de importantes políticos na época, idealizou, planejou e construiu o atual Complexo do Departamento de Polícia Técnica inaugurado em janeiro de 1979.
Entre os anos de 1991 e 1999 atuou como Diretora Geral do Departamento de Polícia Técnica. Além de sua atuação na Secretaria de Segurança Pública, Dra. Maria Theresa foi ainda Professora da Universidade Federal da Bahia, da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e das Faculdade de Direito Federal e Católica e Curso para Oficiais da Policia Militar.
Numa reportagem do jornal A Tarde de 1971 foi escrito. “Você poderá encontrá-la no Nina todas as manhãs até às 12 horas em seu gabinete ou numa sala examinando cadáveres. Todos os dias das 19h30m até às 22 horas, e às vezes até à meia noite você também poderá encontrá-la trabalhando. Ela não pára. É um verdadeiro dínamo. Mas é antes de tudo uma mulher, e como tal é sensível...”
Fez parte de várias instituições científicas e culturais, entre as quais a Academia de Medicina da Bahia, a Fundação José Silveira, ambas as quais foi Presidente, o Instituto Baiano de História de Medicina e Ciencias e também conselheira do Conselho Regional de Medicina.

Autora de artigos na área da medicina legal, a pesquisadora e professora dedicou toda sua vida ao desenvolvimento da medicina legal no País. Presidiu, por doze anos, a Comissão de Restauração do Complexo Arquitetônico da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, contribuindo para restauração do prédio.
O Prof. Estácio de Lima, seu grande amigo, era casado com a Sra. Edla sem terem tido filhos. Construiu uma casa em que morou até os seus últimos dias, na Barra, em Salvador, com uma bela biblioteca”. Esta casa ficou de herança para Dra. Maria Theresa, sua discípula que cuidou da sua esposa, até a morte, assistindo-a da melhor forma possivel. Pouco tempo depois, cuidou também do próprio Prof. Estácio até o seu falecimento em 29 de maio de 1984.
Hoje, nesta casa funciona a Clínica para Senhoras (CLISA), onde sua sobrinha Cristina Pacheco e um grupo de médicos atende Mastologia, Ginecologia.
Como pessoa, era muito querida por colegas, estudantes e funcionários tendo sido paraninfa de diversas turmas médicas. Era mulher de abnegado espírito cristão, sempre disposta a atuar em favor de grandes e pequenas causas.
Aposentou-se na compulsória da idade e foi eleita Profa Emérita da Ufba. Tambem recebeu o Título de Cidadã pela Câmara de Vereadores de Salvador.
Faleceu em 12 de maio de 2010, aos 81 anos, de uma neoplasia. Ainda tinha muitas idéias: queria fundar um lab de Medicina Molecular e escrever um tratado de Medicina Legal.
Infelizmente a imortalidade de todos nós da Academia é apenas simbólica e ela não conseguiu concretizar seus últimos desejos!!
Criou-se um premio para melhor Trabalho científico Nacional, de nome Maria Thereza Pacheco que é conferido pela Fundação José Silveira, da qual foi Presidente.
Concluindo a Prof Dra Maria Thereza Medeiros foi uma mulher de vitórias e realizações, enérgica, vibrante e apaixonada pela Medicina. Deixou um grande exemplo de vida, todas as suas conquistas, tudo que conseguiu foi porque foi perseverante, muito estudou e trabalhou. O seu pioneirismo numa área tão delicada a consagrou como uma das grandes médicas brasileiras.

Trago aqui a Dra Maria Theresa, ao vivo, para quem não a conheceu.

Aos funcionários do Hospital Professor Edgard Santos, em especial a Ivanise Silva e Aldenice Viana, que auxiliaram na organização do banco de dados da pacientes obesas que me permitiram muitas pesquisas.

PRÊMIO PROFA. MARIA THERESA MEDEIROS PACECO

O Prêmio Profa. Maria Theresa Pacheco foi promovido pela Fundação José Silveira, o Instituto
 

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