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Senhor Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Antonio Carlos Vieira Lopes.
Senhor Governador do Estado da Bahia, Rui Costa dos Santos (Secretário Fábio Villas Boas)
Senhor Prefeito da cidade do Salvador, Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Neto (José Antonio Rodrigues Alves)
Magnífico Reitor da Universidade Federal da Bahia, João Carlos Salles Pires da Silva (Professora Lorene Louise Silva Pinto, Pró-Reitora de Desenvolvimento de Pessoas da Universidade Federal da Bahia).
Magnífica Reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Maria Luisa Carvalho Soliani
Senhor Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia - Luis Fernando Fernandes Adan
Senhor ex-Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Almério de Souza Machado
Senhor Secretário Geral da Academia de Medicina da Bahia, Roberto José da Silva Badaró
Senhora Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia, Teresa Cristina Santos Maltez.
Senhor Presidente da Associação Bahiana de Medicina, Robson Freitas de Moura.
Ao saudar o Presidente da Academia de Medicina da Bahia - o Professor Antonio Carlos Vieira Lopes - estendo os cumprimentos aos componentes da mesa, às demais autoridades aqui presentes ou representadas, aos digníssimos confrades e confreiras, aos estimados colegas e queridos amigos.
Com o espírito imbuído de grande emoção, enorme respeito e vultoso senso de responsabilidade, passo a ocupar a cadeira de n° 46 da egrégia Academia de Medicina da Bahia, que tem como Patrono um dos mais proeminentes cirurgiões da Bahia e do Brasil, o Professor Fernando Freire de Carvalho Luz.
Resgato a sua memória, ao evocar os eminentes escritores e memorialistas: Geraldo Leite, Rodolfo Teixeira, Thomaz Cruz, Geraldo Milton da Silveira, José Tavares-Neto e Ronaldo Ribeiro Jacobina, valendo-me ainda de depoimentos prestadas pessoalmente por seus familiares e de textos de autoria do próprio agraciado.
Fernando Freire de Carvalho Luz, não por acaso, nasceu em 9 de novembro de 1916, na cidade do Salvador. Filho de Maria Luiza Dutra Freire de Carvalho Luz e do Desembargador Euvaldo Luz, que presidiu o Tribunal de Justiça da Bahia.
Teve dois irmãos, Euvaldo e Maria de Lourdes Espínola Luz.
Casou-se com a sra. Clarinha Moraes, com quem teve apenas uma filha, Maria Constança, a quem carinhosamente chamava de Tancinha, casada com o sr. David Ferrell, de cujo enlace nasceram Daniel e Fernando.
Com relação a dona Clarinha, perdoem-me um pequeno parênteses.
Todos conhecemos alguma esposa de médico que, por não ter sido médica, tornou-se uma “quase médica”. E dona Clarinha não fez por menos.
Suas amigas chegavam ao cúmulo de desconsiderar a erudição técnico-científica e a experiência do Professor Carvalho Luz e lhe pediam para chamá-la ao telefone a fim de obter alguma orientação terapêutica. Na fazenda Conceição, em São Gonçalo dos Campos, formavam-se filas para consultar dona Clarinha, que passou a gozar de muita popularidade. Além da consulta, ninguém de lá saia sem uma amostra grátis.
Fernando Freire de Carvalho Luz aprendeu as primeiras letras com sua progenitora, senhora culta e exigente, tanto no ensino quanto na formação de seu caráter.
Ao ingressar no curso ginasial, no Colégio Estadual da Bahia, já tinha conhecimento dos idiomas inglês e francês.
Foi aprovado em 1° lugar no vestibular.
Ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia aos 15 anos, pela qual foi diplomado em 1937, aos 21 anos de idade.
Em fevereiro de 1938, foi nomeado cirurgião do Hospital de Pronto Socorro, de Salvador, mais tarde Hospital Getúlio Vargas, onde trabalhou até 1953.
Seu espírito solidário e compromisso com o enfermo materializavam-se no ato supremo de doar seu próprio sangue a pacientes aos seus cuidados.
Paralelamente, de 1942 a 1951, a enfermaria São José, do Hospital Santa Izabel, abrigou a Cátedra de Clínica Cirúrgica, do Professor Fernando Freire de Carvalho Luz.
No Hospital Português da Bahia trabalhou por quase 50 anos.
Iniciou-se cedo na carreira acadêmica, tendo sido Assistente de Ensino da 1ª Clínica Cirúrgica nos anos 1939 e 1940.
Em 1943, durante a 2ª Grande Guerra, trabalhou no Hospital da Base Baker, em Salvador, no atendimento a marujos norte-americanos.
Pelos bons serviços prestados, foi convidado pelo Chefe do Corpo de Saúde a estagiar em Hospitais Navais por seis meses.
Ao retornar à Bahia, introduziu diversos avanços na área cirúrgica, tais como, a exploração instrumental do colédoco, safenectomia por meio de fleboextrator, frascos para transfusão de sangue citratado (à época as transfusões eram feitas braço-a-braço).
Trouxe, ainda, reativos e a técnica para prova de compatibilidade sanguínea e determinação do fator Rh, tendo realizado, em colaboração com o hematologista Estacio Gonzaga, pela primeira vez entre nós, esse tipo de transfusão, aplicada em sua própria progenitora.
Introduziu diversas outras técnicas cirúrgicas, a exemplo da dissecção radical do pescoço (para tratamento do câncer da tireóide), a esofagectomia (para o câncer e a estenose cáustica), a mastectomia suprarradical, a gastrectomia total (para o câncer gástrico), a colectomia direita e esquerda (para tratamento do câncer do intestino grosso) e outras mais.
Ainda na área assistencial, idealizou e desenvolveu a técnica de filtração extracorpórea do sangue portal para cura da forma hepatoesplênica da esquistossomose mansônica.
Além de ter levado essa técnica cirúrgica inovadora a diversos países do mundo, despertou a curiosidade e o interesse de renomados cirurgiões de países europeus que se deslocaram para a Bahia a fim de participarem pessoalmente do procedimento no Hospital das Clínicas.
Em 1945, voltou aos EUA para um fellowship por 2 anos, no Departamento de Cirurgia do New York Presbytirian Hospital, da Columbia University.
Em 1953, a convite do Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, o Professor Hosannah de Oliveira, figura excelsa de nossa Universidade, ingressou no Hospital das Clínicas com o objetivo de estruturar e dirigir o Serviço de Cirurgia Torácica, inexistente à época, e criado para funcionar na 1ª Clínica Cirúrgica.
Em 1954, realizou brilhante concurso à Livre Docência, com a tese: Cirurgia do Megacólon, quando foi nomeado Professor Adjunto.
Em 1963, foi aprovado por unanimidade em concurso para Professor Catedrático, quando defendeu a tese: Mastectomia radical com exérese em monobloco da cadeia ganglionar mamária interna. Permaneceu nesse cargo na 1ª Clínica Cirúrgica até novembro de 1986.
Eleito Chefe do Departamento de Cirurgia para os períodos de 1977-1981 e 1983-1986, quando aposentou-se da carreira universitária.
Em novembro de 1986, foi-lhe concedido o título de Professor Emérito da Universidade Federal da Bahia.
Senhoras e Senhores.
Um dos grandes marcos da cirurgia na Bahia deveu-se à ascensão de duas disciplinas da Clínica Cirúrgica, sob a responsabilidade de dois experientes vultos de nossa história, com clara inclinação para o magistério: os professores Fernando Visco Didier e Fernando Freire de Carvalho Luz.
Se puder servir de exemplo, ambos organizaram as suas unidades dando-lhes disciplina de trabalho, hierarquia funcional, programas e projetos bem estruturados, presença diária incluindo os fins de semana, total vigilância sobre o que se fazia, agudo sentimento de responsabilidade e de respeito ao paciente.
Reuniram assistentes devotados e competentes. Criaram condições para que se constituíssem escolas cirúrgicas de excelência, introduziram novas técnicas cirúrgicas e procuraram novos horizontes.
O Professor Carvalho Luz examinou 26 concursos à Docência Livre e à Cátedra, dentre os quais, dos candidatos Silvano Raia e Euríclides de Jesus Zerbini.
Publicou 63 trabalhos científicos, participou de diversas jornadas, cursos e congressos no Brasil e no Exterior.
Preparou e aperfeiçoou cirurgiões que exercem a profissão em diversos estados do País.
Foi o 5° cirurgião brasileiro a receber a Medalha do Mérito Cirúrgico São Lucas.
Em 1970, foi agraciado pelo Presidente da República Federativa do Brasil com a Ordem do Mérito Aeronáutico.
Em 1984, foi-lhe outorgada a Placa de Prata, de ex-Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
No ano seguinte, tornou-se Presidente do Conselho Médico do Hospital Aliança.
O Professor Fernando Luz integra a Galeria de Membros Eméritos do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Faleceu em 5 de maio de 1995, aos 79 anos de idade.
Estimados senhores, colegas e amigos..
Embora muitos desconheçam as suas razões de ser, a Academia de Medicina da Bahia, fundada a 10 de julho de 1958, conforme rezam seu Estatuto e Regimento Interno, aprovados em 22 de agosto de 2016, tem por finalidades:
Apoiar e estimular a educação e a pesquisa de interesse médico, e realizar sessões em que sejam estudados assuntos relativos à medicina e ciências correlatas, bem como desenvolver atividades de cultura geral e humanística ligadas à Medicina, cabendo-lhe, em destaque:
Promover conferências, cursos de aperfeiçoamento e congressos médicos, versando preferencialmente sobre temas da medicina regional;
Responder às consultas das autoridades constituídas e dar parecer sobre questões profissionais e de interesse da classe médica, ouvida a Comissão especializada indicada pela Presidência;
Fazer publicar sua revista oficial (Anais), onde serão divulgados os trabalhos de seus membros;
Encarregar-se da difusão e realização dos preceitos da deontologia e diceologia na esfera da Medicina;
Colaborar com os poderes públicos no estudo de questões de caráter medicossocial e de educação médica;
Ao ocupar essa cadeira, comprometo-me formalmente a honrar a memória do Professor Fernando Freire de Carvalho Luz, pelos 47 anos de vida dedicados à Medicina brasileira, com inusitado denodo e absoluta dedicação.
A vida não nos permite palmilhar atalhos ou desvios.
As metas precisam estar bem definidas e os caminhos alicerçados em bases sólidas.
Sou grato às razões que me permitiram chegar até aqui.Agradeço aos estímulos dos confrades e confreiras que ora me acolhem na Academia e, de forma muito especial, a Cesar Araújo, Roberto Badaró, Geraldo Leite, Gilson Feitosa e Antonio Carlos Vieira Lopes.
Agradeço, sensibilizado, a generosa saudação proferida pelo amigo, irmão, colega, parceiro de todas as horas, compadre e agora confrade, Cesar Araújo Neto.
Suas palavras emanam de uma amizade profunda constituída e solidificada ao longo dos últimos 50 anos, com quem compartilho a construção de nossos caminhos - da vida pessoal, assistencial, associativa, acadêmica, social e familiar.
Nesse momento, a felicidade habita o meu peito.
A beleza desta solenidade deve-se à honrosa presença dos componentes da mesa, das demais autoridades, de nossos confrades e confreiras, do maestro Paulo Fontes e de seus músicos, dos colegas e amigos queridos.
Grande é a minha alegria, compartilhada por meus filhos - Fernanda e Raphael; genro e nora queridos - Zezo e Dani – por meus amados Enio e Alzira - irmão e cunhada – pelos sobrinhos – Bruno, Clara e Pedro, e pelo pequeno e encantador, Bernardo, o Bêzinho.
Compartilho, ainda, com Alice, que, durante muitos anos, propiciou-me o suporte afetivo, muito me ensinou e me ajudou a construir essa longa história de vida.
O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Muito obrigado a todos.
SAUDAÇÃO DE JOSÉ J. P. CAMARGO REGISTRADA NO MEMORIAL DE JORGE LUIZ PEREIRA E SILVA Clique aqui e veja
DEPOIMENTO DO PROFESSOR EMÉRITO NESTOR L. MÜLLER, MD, PhD, FRCPC Clique aqui e veja