Boa Noite,
Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Prof. Dr. ANTONIO CARLOS VIEIRA LOPES, meu Professor e agora Confrade desta Academia,
Excelentíssimo Senhor Ex-Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Prof. Dr. ALMÉRIO MACHADO,
Excelentíssimo Senhor Secretário Geral da Academia de Medicina da Bahia, Confrade ROBERTO JOSÉ DA SILVA BADARÓ,
Ilustríssimo Senhor, Prof. Dr. LUIS FERNANDO FERNANDES ADAN, Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia,
Ilustríssimo Senhor, Dr. FÁBIO VILAS BOAS, Secretário de Saúde do Estado da Bahia,
Ilustríssimo Senhor, Prof. Dr. PAULO ANDRÉ JESUÍNO DOS SANTOS, Coordenador do Curso de Medicina da UNIFACS;
Ilustrissimo Senhor, Dr. JORGE CERQUEIRA, Presidente do Instituto de História da Medicina e Ciências Afins e Professor Honorário da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia,
Ilustríssimo Senhor, Dr. CÉSAR AMORIM PACHECO NEVES, Presidente da Associação Bahiana de Medicina,
Ilustríssima Senhora, Profa. Dra. SHEILA OURIQUES MARTINS, Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atual Presidente da World Stroke Organization,
Ilustríssima Senhora, Profa. Dra. MARIA LUIZA SOLIANI, Reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, e Confreira da Academia de Medicina da Bahia, em nome da qual cumprimento os Confrades e as Confreiras presentes.
Ilustríssima Senhora, Profa. Dra. ALDA DE JESUS OLIVEIRA, minha genitora e Professora Adjunta aposentada como Titular da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia,
Ilustríssimo Senhor, Prof. Dr. MILTON DA SILVA BARROS, Professor Livre-Docente aposentado da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia,
Ilustríssima Senhora, Profa. Dra. ALCINA VINHAES, Presidente da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia da Bahia,
Ilustríssimo Senhor, Prof. Dr. SÉRGIO AUGUSTO PEREIRA NOVIS, Professor Titular de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, representando o Presidente da Academia Nacional de Medicina.
Ilustríssimos Funcionários, Estudantes, Colegas da Faculdade de Medicina da Bahia da UFBA, Confrades e Confreiras aqui presentes,
Em nome de minha esposa Profa. Dra. LUCIANA MATTOS BARROS OLIVEIRA, Professora da UFBA e de meus filhos HENRIQUE BARROS OLIVEIRA, SARAH BARROS OLIVEIRA e FELIPE BARROS OLIVEIRA, este último aluno desta Faculdade de Medicina da Bahia, cumprimento todos os meus Familiares presentes.
Senhoras e Senhores, Inicialmente, agradeço a consideração dos Confrades e das Confreiras na minha eleição para Membro Titular da cadeira 37 da Academia de Medicina da Bahia. Especificamente gostaria de agradecer aos Confrades Antonio Carlos Vieira Lopes e Mitermayer Galvão dos Reis, que me estimularam a participar do processo seletivo. Ao Confrade Antonio Carlos Vieira Lopes tenho ainda a agradecer ter guiado com segurança e maestria o nascimento dos meus 3 filhos. Agradeço ainda aos Confrades Antonio Alberto Lopes, Luiz Antonio Rodrigues de Freitas e Maria Betânia Pereira Toralles, pela participação na minha formação acadêmica e na cerimônia de posse. Agradeço aos músicos do grupo Ibarra, que foram colegas de apresentações de música até meu terceiro ano da Faculdade de Medicina. Agradeço à minha família, alicerce sem o qual nunca chegaria a esse ponto na minha carreira médica. E ao Prof. Dr. José Tavares de Carneiro Neto, fonte inestimável de pesquisa sobre a história dos personagens sobre os quais falarei a seguir.
Inicio com a responsabilidade de dar continuidade histórica a quatro ilustres Médicos, os Professores Oscar Freire de Carvalho, Estácio Luiz Valente de Lima, Maria Theresa de Medeiros Pacheco e José Tavares Carneiro Neto. Espero honrar as Memórias desses Mestres. Vou usar uma ferramenta conhecida de todos para ilustrar um pouco essa apresentação As fotos clássicas do Patrono da Cadeira 37, Prof. Dr. Oscar Freire de Carvalho, se seguem a uma foto minha em frente à rua de São Paulo no bairro Jardins que ganhou seu nome, mostrando o quanto ele se tornou conhecido na capital industrial do Brasil. Nessa rua, coincidentemente mora meu filho Henrique, cursando engenharia na Universidade de São Paulo. Prof. Dr. Oscar Freire nasceu em Salvador em 1882, filho do advogado Manuel Freire de Carvalho e de Isaura Freire de Carvalho, foi diplomado nesta Faculdade na Octagésima Sexta Turma, de 1902. Em 1911, chegou à Cátedra de Medicina Legal desta Faculdade e também de Química da Escola Politécnica da Bahia, então outra escola superior da Cidade da Bahia. Foi Membro Titular da Academia de Letras da Bahia, na cadeira do Patrono Alfredo Thomé de Britto, eminente Diretor desta Faculdade e responsável pela Colação do Grau de Médico ao recém Doutor Oscar Freire de Carvalho. Oscar Freire compõe uma lista de eminentes professores da Cátedra de Medicina Legal, como Professores Virgílio Clímaco Damazio, Afrânio Peixoto, Artur Ramos, Estácio de Lima, Maria Thereza de Medeiros Pacheco, e, claro, o mais conhecido mestre Raymundo Nina Rodrigues. Seu reconhecimento nacional se expandiu com sua ida a São Paulo em 1918, a convite do Governo do Estado de São Paulo, para assumir a Cátedra de Medicina Legal da Faculdade de Medicina de São Paulo, isso quando inexistia a USP ou outra Universidade no Brasil. Prof. Oscar Freire foi um dos responsáveis pela fundação do Instituto Médico-legal Nina Rodrigues, o qual deixou para criar e fomentar outro similar na Cidade de São Paulo. Todavia, esse muito conhecido Professor Oscar Freire de Carvalho esconde o Educador Oscar Freire de Carvalho, ainda mais brilhante e atual. Em 1915, foi responsável pela criação do primeiro curso de pós-graduação do Brasil; na sua exposição de motivos de 1913 à Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia é um grande defensor da ênfase do Programa aos agravos de saúde mais comuns no Brasil.
Ainda vivia o Prof. Dr. Oscar Freire, falecido aos 40 anos em 1923, quando em 1915 gradua-se em Direito pela Faculdade de Recife e em 1921 diploma-se nesta Faculdade de Medicina da Bahia o médico Estácio Luiz Valente de Lima, na Turma Centésima Quinta. Prof. Estácio de Lima nasceu em Alagoas em 11/6/1897, filho de Luiz Monteiro de Amorim Lima e Maria de Jesus Valente Lima. Foi Professor desta Faculdade, da Faculdade de Direito da Bahia e da Faculdade de Odontologia, primeiro ocupante desta cadeira 37 e o 6° Presidente da Academia de Medicina da Bahia, de 1974 a 1975. Prof. Estácio de Lima foi Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Bahia e também Membro da Academia de Letras da Bahia, e o Catedrático mais jovem do Brasil, aos 27 anos de idade em 1926. Escreveu vários textos na área da Medicina Legal, e livros entre os quais “O mundo estranho dos cangaceiros”, de 1965. Era conhecido por ser um professor exigente com grande talento e brilhantismo intelectual, numa época na qual os alunos quase não tinham obrigações de provas e avaliações e o aprendizado dependia do poder do professor despertar o interesse do aluno. Do livro de Prof. Dr. Rodolfo Teixeira: “Estácio de Lima ocupou grandes espaços na admiração da juventude da época, com a qual tinha uma conduta toda especial”. Dirigiu o Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues e o Conselho Penitenciário do Estado da Bahia, dando continuidade à escola de Medicina Legal de Nina Rodrigues e Oscar Freire.
Assim como Prof. Estácio de Lima, também veio das Alagoas a próxima ocupante desta cadeira 37: Professora Dra. Maria Theresa de Medeiros Pacheco, filha de José Pacheco Filho e de Carolina de Medeiros Pacheco, nascida numa fazenda do município de Atalaia (Alagoas) em 9 de fevereiro de 1928; e diplomada médica nesta Faculdade em 15 de dezembro de 1953, na centésima trigésima oitava turma. Foi na Faculdade de Medicina da Bahia a primeira Mulher a defender Livre Docência e também a Primeira Professora Titular, após Residência Médica no Instituto Médico Legal de Coimbra, de 1967 a 1968, e Doutorado de 1969 a 1970 na Universidade de Paris V (Pantheon-Sorbonne). Também professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da Academia da Polícia Militar do Estado da Bahia. Na Academia de Medicina da Bahia foi sua Décima Sexta Presidente, de 1999 a 2003, e atuante Membro do Instituto Baiano de História da Medicina e Ciências afins. Conheci Profa. Dra. Maria Theresa como professora da disciplina de Medicina Legal. Ela trazia consigo uma aura de respeito de todos os seus colegas, já professora homenageada de inúmeras turmas de Medicina e Direito da UFBA, mas não reduzia sua dedicação ao ensino da disciplina na Faculdade que lhe trouxe fama nacional e internacional. Foi ávida defensora da mudança da sede da FMB do Canela para sua sede mater, em 2 de março de 2004, durante o mandato de Prof. Dr. José Tavares na Direção da FMB, com palavras aqui reproduzidas do discurso de posse do próprio nesta Academia: “acordei naquela manhã com o telefonema da Profa. Maria Theresa de Medeiros Pacheco, e busco aqui reproduzir suas palavras: Meu Diretor, acordei antes do raiar do dia e já estou pronta com meu bacamarte, trazido das Alagoas, para levá-lo até a sede mater da nossa Faculdade”. Assim era Profa. Maria Theresa Pacheco, decidida, firme e sobretudo ética. Ela sabia como ninguém defender uma posição política.
O último ocupante desta cadeira 37 foi Prof. Dr. José Tavares Carneiro Neto. Nascido em Feira de Santana em 20/1/1952, filho de Beneon Gomes da Silva; e Maria de Lourdes Tavares Gomes. Seus estudos iniciais foram na sua cidade natal, no Colégio Santanópolis. Aos 12 anos de idade se muda para Salvador para estudar no Colégio da Polícia Militar e no Colégio da Bahia. Conta que até meados do 3⁰ ano científico, por gostar de matemática e ter tio engenheiro, pensava fazer Engenharia Civil, mas nas férias juninas de 1970 leu o livro "A Montanha Mágica" de Thomas Mann e ficou apaixonado pela tríade: escutar sempre, tentar reduzir a dor, e ter compaixão. Conta que começou o livro como candidato à Engenharia e terminou como da Medicina. Gradua-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia da UFBA em 1976 e no ano seguinte ingressa na residência de hematologia no Instituto Estadual de Hematologia do Rio de Janeiro. Esse dado histórico foi uma surpresa para mim, creio que a maioria dos alunos da FMB desconhecem que Prof. Tavares também é hematologista. Muda-se em 1979 para Brasília, onde atua em diversos hospitais até iniciar a trilha que o tornaria mais conhecido na Bahia: a de doenças infecciosas e parasitárias. Inicialmente fez estágio e depois Mestrado em Medicina Tropical na UnB, concursado como Professor de doenças infecciosas e parasitárias pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro em Uberaba. Em 1992 foi transferido para o Hospital Universitário Professor Edgard Santos e foi nomeado Diretor do Hospital Couto Maia. Na época eu era estudante de Medicina e ele não sabe, mas quase fiz infectologia em parte por sua influência. Ele foi meu professor na disciplina optativa de doenças infecciosas e parasitárias (chamada carinhosamente de DIP) e passei um ano em plantões semanais no Hospital Couto Maia sob orientação das plantonistas Ana Pavlova e Rosana Bezerra. Eu achava o ambiente de discussão dos casos de doenças infecciosas fascinante e intelectualmente estimulante, com algumas das discussões sendo realizadas na sala da Diretoria do Couto Maia, outros nos largos corredores das enfermarias da centenária instituição de bela vista litorânea. Prof. Tavares impressionava pelo seu conhecimento quase enciclopédico das doenças que ali transitavam e pelo grau de dedicação aos seus alunos. Sua trajetória na FMB foi proporcional à sua dedicação, alcançando a Livre Docência em Doenças Infecciosas e Parasitárias em 1998 e Professor Titular em 2016. Quando retornei da minha formação em São Paulo e Estados Unidos, no início dos anos 2000, Prof. Tavares assumia a Direção desta bicentenária Faculdade de Medicina da Bahia. Pude testemunhar seus esforços para renovar o espaço físico da FMB no Terreiro de Jesus, transferindo setores estratégicos da administração para nova localização geográfica. O reconhecimento de alunos, funcionários e professores foi patente, como pode ser observado pelas diversas homenagens em formaturas como Professor Homenageado, Patrono e Paraninfo. Rígido nos seus princípios, nas formaturas pude observar familiares agradecendo o respeito às normas de comportamento quanto ao excesso de demonstrações sonoras e o retorno das premiações aos melhores alunos. Assumiu também a coordenação das Monografias de Conclusão de Curso, rito de passagem hoje incorporado na FMB. Se pudesse resumir seus atributos, colocaria que é um defensor do trabalho e na progressão das pessoas pelo mérito, algo que deixou como seu marco nos anos de gestão da FMB.
Nesses últimos minutos de discurso, gostaria de agradecer aos meus alunos da graduação, pós-graduação e residentes de Neurologia, pela inspiração diária para me manter atualizado e produtivo; e pelo orgulho que me proporcionam de ver suas conquistas pessoais e profissionais. Aos Professores doutores Edgar Carvalho, Zilton Andrade, Amélia de Jesus e Roque Pacheco, meus mentores da faculdade e da vida. Aos colaboradores da linha de pesquisa em reabilitação, coordenados pela fisioterapeuta Profa. Dra. ELEN PINTO. Aos colegas da SBDCV, principalmente Sheila Martins e Gabriel Freitas, com quem compartilhei os desafios da Diretoria; e Octávio Pontes-Neto, Gisele Sampaio, Maramélia Miranda, João José Freitas de Carvalho e tantos outros que mantém uma colaboração e produção cordial a nível nacional, com publicações de alto impacto científico e assistencial. Dos colegas colaboradores internacionais, menciono especialmente Walter Koroshetz, Ferdinando Buonanno e Karen Furie, que permanecem como grandes mentores e colaboradores nos projetos sobre a doença de Chagas nessas últimas décadas.
Finalizo com uma reflexão baseada em dois grandes pensadores. No século XVIII Immanuel Kant falou que “o sábio pode mudar de opinião; o ignorante nunca”. No século XX, Karl Popper:
“A história da ciência, como a de todas as idéias humanas, é uma história de sonhos irresponsáveis, obstáculos e erros. No entanto, a ciência é uma das poucas atividades humanas – talvez a única – em que os erros são criticados de forma sistemática e muitas vezes, ao longo do tempo, corrigidos.”
Minha reflexão é que nesse período da humanidade nunca tivemos tanto acesso à informação, mas estamos rapidamente perdendo a visão crítica da informação que consumimos. Frequentemente as evidências científicas são questionadas baseados em opiniões inflexíveis, achismos e ideologias postadas nas redes sociais. Nessa geração, ser aberto a mudar de opinião nunca foi tão importante. Nossa geração tem a responsabilidade de retomar o rumo de defender o rigor da metodologia científica como garantia do avanço do conhecimento.
Obrigado a todos.