Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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Gilson Soares Feitosa Filho
Gilson Soares Feitosa Filho
Membro Titular
18/06/2024
15:40
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Gilson Soares Feitosa Filho

Ilmo Prof. Dr. Acadêmico Cesar Augusto de Araújo Neto, Presidente da Academia de Medicina da Bahia
Ilmo Prof. Dr. Acadêmico Roberto Badaró, Vice-presidente da Academia de Medicina da Bahia
Ilmo Prof. Dr. Acadêmico Luiz Freitas, Secretário Geral da Academia de Medicina da Bahia
Ilmo Prof. Dr. Robson Moura, Presidente da Associação Bahiana de Medicina
Ilma Profa. Dra. Rita Virgínia Ribeiro, Presidente do Sindicato dos Médicos
Ilmo Prof. Dr. Otávio Marambaia, Presidente do CREMEB
Ilmo Prof. Dr. Acadêmico Antônio Alberto Lopes, Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA
Ilma Profa. Dra. Acadêmica Maria Luisa Soliani, Reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Ilmo Prof. Dr. José Antônio Rodrigues Alves, Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia
Ilmo Prof. Dr. Nivaldo Filgueiras, Membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Ilmos Acadêmicos, senhoras e senhores

É com profunda emoção e imenso orgulho que me dirijo a todos neste memorável silogeu. Inicialmente, gostaria de expressar minha mais profunda gratidão a Deus, que esteja eu onde estiver, estará sempre comigo; a meus pais: Prof. Gilson Soares Feitosa, sobre quem mencionarei mais detalhadamente adiante, e minha mãe, Sra. Ana Lúcia Freitas Feitosa, pilar de carinho e amor infinito, assim como meus irmãos e família, minha base sólida; à minha doce Júlia Micheli Perez, minha melhor e mais bela metade; aos nobres confrades e confreiras deste ilustre sodalício, assim como aos mestres, colegas, ex-alunos, alunos e amigos aqui presentes.

Recebi com imensa honra e alegria a notícia de minha aprovação unânime para integrar a venerada Academia de Medicina da Bahia, instituição que congrega médicos, professores, pesquisadores e líderes de excepcional calibre, cujas contribuições são de inestimável valor para a medicina baiana e brasileira. Com o incentivo de distintos acadêmicos aqui presentes, em especial do Prof. Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes, ex-presidente desta ilustre Academia, submeti-me ao rigoroso barema do processo seletivo, mediante a apresentação de memorial, currículo e pesquisa original ao criterioso escrutínio de pares tão eminentes. É profundamente simbólico poder afirmar que, pelas mãos do exímio obstetra Prof. Lopes, fui conduzido ao mundo e, agora, por seu coração generoso, sou conduzido a este “novo mundo” da Academia. Receber o panegírico de meu próprio pai ao adentrar esta ilustre academia enche-me de júbilo, deixando-me sem palavras para expressar plenamente minha felicidade.

A Academia de Medicina da Bahia, fundada em 10 de julho de 1958, consiste em 50 Cadeiras, cuja ocupação vitalícia é notavelmente dignificada. É constituída por seus membros titulares, alguns poucos membros eméritos e a memória venerada de seus antecessores. A missão da Academia é apoiar e estimular a educação e a pesquisa médica, estudar e discutir questões de elevada relevância para a medicina, servir como órgão consultivo para as autoridades constituídas e promover sessões e eventos científicos acessíveis de altíssima qualidade. Certamente é uma das maiores honrarias enquanto médico, professor e pesquisador, pertencer agora a este sodalício. Espero contribuir da melhor forma possível para manter o elevado nível científico desta nobilíssima instituição.

Conforme sabiamente estipulado pelo estatuto desta grandiosa Academia, cabe ao novel acadêmico pesquisar e exaltar os digníssimos médicos professores que o antecederam na Cadeira. Considero este rito de extrema importância, pois preserva viva a memória dos médicos que tanto contribuíram para a medicina baiana por meio da assistência, ensino e pesquisa.

A Cadeira 36 tem o eminente Professor Menandro dos Reis Meirelles Filho como Patrono, o Professor Raymundo Nonato de Almeida Gouveia como seu primeiro titular, e o Professor Gilson Soares Feitosa, atual Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia, como seu último ocupante.

O Patrono da Cadeira, Professor Menandro dos Reis Meirelles Filho, nasceu em Salvador no dia 24 de dezembro de 1876 e faleceu na mesma cidade em 20 de março de 1947. Filho da Sra. Hermelinda Isbella da Silva Meirelles e do Dr. Menandro dos Reis Meirelles, este um importante médico que exerceu o cargo de Secretário da Faculdade de Medicina da Bahia por 27 anos e meio. O Professor Menandro Meirelles Filho graduou-se em Medicina em 17 de dezembro de 1898, na 82ª turma.

Em 1899, um ano após sua formatura, foi nomeado Assistente Interino de Clínica Obstétrica e Ginecológica e, em 1901, também Assistente Interino de Clínica Pediátrica.

Realizou estágios em hospitais e maternidades na Europa, especialmente na Suíça, aplicando seus conhecimentos ao retornar e publicando trabalhos sobre a temática obstétrica.

Em 1911, o Professor Menandro Meirelles Filho assumiu o cargo de Professor Extraordinário da Clínica Obstétrica, e assumiu a Cátedra da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Bahia em 1914, permanecendo até 1925.

Reconhecido como um exímio obstetra, atendia às famílias socialmente desfavorecidas com a mesma dedicação e carinho dispensados às famílias prestigiosas e abastadas.

Entre seus cargos administrativos, dirigiu a Hospedaria dos Imigrantes, o Desinfetório Marítimo e o Hospital Santa Izabel. Foi fundador e diretor da Casa de Saúde Menandro Filho e um dos fundadores da Maternidade Climério de Oliveira, da qual foi Diretor durante seu mandato na Cátedra, de 1914 a 1925. Como Diretor do Hospital Santa Izabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, criou o primeiro Curso de Enfermagem da Bahia.

Entre seus notáveis descendentes, dois netos destacam-se por terem ocupado o relevante cargo de Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia de forma sequencial: Dr. Álvaro Conde Lemos Filho (1999 a 2002 e 2005 a 2008) e o Dr. Eduardo Meirelles Valente (2003 a 2004).

Em todas as etapas de sua vida profissional, seja como médico, Professor de Medicina ou administrador, o Professor Menandro Meirelles Filho foi um exemplo de probidade, competência e dedicação.

É evidente que o Professor Menandro Meirelles Filho legou um patrimônio inestimável à Bahia e ao Brasil. Como ressaltou o Professor Raymundo Gouveia, um de seus principais alunos e 1º ocupante da cadeira 36, o Professor Menandro sempre transmitiu seus ensinamentos de forma prática e com muita simplicidade, atendendo suas pacientes com a mesma competência e zelo, independentemente de sua classe social.

O primeiro titular da cadeira 36 foi o Professor Raymundo Nonato de Almeida Gouveia, que nasceu em 19 de outubro de 1907 e faleceu em 8 de abril de 2002, aos 94 anos.

Seus pais, a senhora Maria Cecília Carvalho de Almeida Gouveia e o senhor Hermano José de Almeida Gouveia, foram sempre grandes incentivadores da leitura e da busca pelo conhecimento. 

Conforme relatado em algumas de suas numerosas obras literárias, o Professor Gouveia teve a ventura de unir seu destino ao da Sra. Angel Midlej. O matrimônio, celebrado em tenra idade — ela com 15 anos e ele com 22 — gerou quatro filhos: Maria Cecília de Almeida Gouveia Maron, Pedagoga; Celeste Hermana de Almeida Gouveia, Pedagoga e Bacharela em Direito; Raymundo Nonato de Almeida Gouveia Filho, Bacharel em Direito, cuja vida foi tragicamente interrompida por um acidente automobilístico; e Antônio Carlos de Almeida Gouveia, também Bacharel em Direito. Muitos netos e bisnetos ilustres vieram a seguir.

O Professor Raymundo Gouveia notabilizou-se por suas ações intensas e abrangentes, deixando um legado de inestimáveis contribuições à Medicina Assistencial, ao Ensino Médico e ao Serviço Público. Muito além da medicina, distinguiu-se também no Magistério Público, nas áreas de Filosofia, História e Sociologia, além de sua ampla produção literária.

Formou-se em Medicina em 1927. Constante buscador de conhecimento e versátil em suas atividades, não se limitou a uma única especialidade médica. Dedicou-se aos campos de Obstetrícia, Puericultura, Clínica Geral, Pediatria e Saúde Pública, evidenciando numerosas realizações em cada uma dessas áreas. Submeteu-se a três concursos para obter o título de Livre-Docência em 3 diferentes disciplinas, sendo sempre aprovado em todas com excelência:

 Em 1934, para Clínica Obstétrica;
 Em 1949, para Clínica Pediátrica e Higiene Infantil;
 Em 1959, para Higiene e Medicina Preventiva. 
Em 1944, conquistou o primeiro lugar do concurso para a carreira de Médico Puericultor do Ministério da Educação e Saúde (Departamento Nacional da Criança) no Rio de Janeiro. Não obstante sua aprovação, não assumiu tal posição. Em benefício de nosso estado da Bahia, priorizou outras inúmeras atividades por aqui, exercendo com excelência suas funções em Obstetrícia, Ginecologia e Pediatria. Ocupou os cargos de Docente do Serviço Obstétrico, Assistente Honorário da Clínica Pediátrica e Assistente Voluntário da Clínica Ginecológica na Faculdade de Medicina da UFBA.

 Além disso, atuou como Médico do Departamento de Saúde da Bahia, Diretor do Serviço de Assistência Social do SESI, Diretor e Vice-Presidente da Legião Brasileira de Assistência e Médico Puericultor do Ministério da Saúde.

No campo da educação, destacou-se como Professor Catedrático de Puericultura e Higiene Geral, Professor do Liceu Bahiano e do Ginásio São Salvador, além de Professor concursado de Sociologia Geral no Colégio da Bahia. Foi também Professor Titular da Universidade Católica de Salvador e ocupou o cargo de Diretor Geral do Departamento de Educação da Bahia. Suas notáveis contribuições e dedicação à educação foram reconhecidas com a perpetuação de seu nome na Escola Estadual de Primeiro Grau Professor Raymundo de Almeida Gouveia, situada no Bairro Castelo Branco.

Sua atividade associativa foi igualmente notável e intensa: em 1933, fundou e tornou-se redator da Revista Médica da Bahia. Foi membro fundador da Associação Bahiana de Medicina, bem como da Academia Bahiana de Educação, onde atuou como seu primeiro presidente. Além disso, fundou e presidiu o Instituto Bahiano de História da Medicina por 29 anos. Também foi um dos fundadores da Academia de Médicos Escritores e membro da Academia de Letras Castro Alves.

Em 1974, assumiu a cadeira 36 da Academia de Medicina da Bahia. Seu legado inclui uma vasta e diversificada produção literária, compreendendo mais de vinte obras publicadas nas áreas de Medicina, Educação, Literatura e Poesia. Ademais, destacam-se mais de 400 ensaios de sua autoria, publicados em diversas revistas e jornais. 

Como destacado pelo Prof. Gilson Feitosa em seu discurso de posse como seu sucessor na Cadeira 36, o Prof. Raymundo Gouveia, a quem teve a honra de conhecer pessoalmente, revelou-se uma mente brilhante dotada de uma visão humanística, afável em suas relações interpessoais e profundamente dedicado ao amor por sua família.

O último Membro Titular da Cadeira 36 da Academia de Medicina da Bahia foi o Professor Gilson Soares Feitosa. Ele ingressou em 10 de maio de 2004, sendo titular desta Cadeira até 10 de julho de 2023, quando foi honrado com a outorga do título de Membro Emérito. Nascido em 21 de janeiro de 1947 em Aracaju/SE, prossegue, pela graça de Deus, aos 77 anos de idade, plenamente ativo e entusiasmado em todas as suas atividades diárias de ensino e assistência.

Filho da Sra. Gisélia Soares Feitosa e do Sr. Manuel Assis Feitosa, que lhe ensinaram muitos de seus princípios, especialmente ética e justiça. Casado com a Sra. Ana Lúcia Freitas Feitosa, sua amada esposa e companheira incondicional, com quem completa 60 anos de convívio desde que se conheceram. Tiveram 3 filhos cardiologistas: Gilson Soares Feitosa-Filho, Luciana Freitas Feitosa Seabra e Gustavo Freitas Feitosa.

Sua infância em Aracaju foi marcada por uma liberdade que permitia longos deslocamentos a pé, numa época em que a segurança das praças públicas era habitual. Jogava muito futebol com amigos e com o irmão Gilvan Feitosa, hoje um destacado engenheiro. Por alguma razão do destino, influenciado pelo prazer de ler "O Livro da Natureza" de Fritz Kahn, aos 14 anos de idade desenvolveu um gosto voraz pela leitura e pelo estudo dedicado.

Aos 17 anos, mudou-se para Salvador com intuito de prestar vestibular para Medicina. À época, sentia-se pressionado pela necessidade de passar por perceber um esforço dos pais em mantê-lo em Salvador. Foi aprovado com destaque em ambas as faculdades (na Bahiana obteve a 1ª colocação). Ingressou na faculdade de medicina da UFBA em 1965, onde dedicou-se com afinco aos estudos e à intensa exposição prática, o que pode ser melhor testemunhado pelos próprios colegas de turma. Entre os vários professores que lhe serviram de modelo, destaca-se o notável Prof. Heonir Rocha, sempre incentivando-o para vôos mais altos. Formou-se na UFBA em 1970, neste mesmo salão nobre onde agora é citado.

Logo em seguida, após aprovação nos testes para residência médica nos EUA, à época chamado ECFMG (hoje USMLE), foi para o Medical College of Pennsylvania, onde realizou a residência de Clínica Médica, seguida de Cardiologia. Teve como principais mestres os Professores Donald Kaye, William Frankl, Steve Meister e Lamberto Bentivoglio. A despeito de dificuldades iniciais com a comunicação ágil em inglês exigida ao cotidiano de um residente, adaptou-se rápida e brilhantemente ao novo país, nova cultura, nova língua naquela residência que exigia dedicação intensa incompatível com as normas atuais. Sua adaptação foi tamanha que fora escolhido por seus colegas, mais tarde, ao posto de “Chief Resident” devido à sua qualidade e natural liderança. Publicou vários artigos ainda como residente e fora aprovado no Board of Internal Medicine do American College of Physicians. Após quatro intensos anos nos EUA e dedicando-se com afinco àquele ambiente acadêmico, teve propostas para lecionar e trabalhar naquele país. Impulsionado por seu patriotismo e pelo desejo que seu filho, este que vos fala, já no ventre da sua amada esposa Ana, fosse um brasileiro, retornou à Bahia.

Descrever um resumo dos seus legados à medicina, principalmente à Cardiologia e à docência na Bahia e no Brasil, é um enorme desafio mesmo para mim, seu filho, pela necessidade de omitir alguns relatos de fatos extraordinários pela simples exiguidade do tempo que uma cerimônia como esta exige. 

No Hospital Santa Izabel – Santa Casa da Bahia, criou as residências de Cardiologia e de Clínica Médica, onde há mais de 4 décadas realiza visitas à beira do leito diariamente, mantém sessões clínicas, de literatura e de atualização, com a mesma pontualidade e uma regularidade inabalável. Desconheço sessão mais longeva, pois nem mesmo a terrível pandemia Covid causou alguma descontinuidade, sendo mantidas a mesma pontualidade e regularidade por meio da interação online enquanto o retorno às sessões presenciais não era viável. Introduziu ao Hospital Santa Izabel importantes estudos internacionais na cardiologia e propiciou o desenvolvimento de residências e pesquisas de outras especialidades daquele hospital. Atualmente, é o Diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Santa Izabel – Santa Casa da Bahia, coordenador da COREME e assumiu para si a responsabilidade de criar e manter a Revista Científica do Hospital Santa Izabel, registrando o pensamento da intelectualidade local e documentando as realizações científicas do Hospital Santa Izabel para a posteridade.

No Hospital Aliança, foi escolhido pelo Sr. Paulo Sérgio Tourinho para opinar sobre diversos detalhes desde a concepção do hospital, quando este ainda era apenas um terreno e uma ideia. Participou ativamente da seleção de vários chefes de serviço e médicos, e instituiu sessões científicas com a regularidade e pontualidade que lhe são características, incentivando a participação de numerosos profissionais de diversos serviços. Ocupou o cargo de Diretor Científico do Hospital Aliança até o falecimento do Sr. Paulo Sérgio em 2018, e, atualmente, no Centro Médico Aliança, continua a beneficiar inúmeros pacientes, atendendo-os em seu consultório todas as tardes da semana.

Na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, ingressou por convite do Professor Orlando Castro-Lima, inicialmente ocupando a Cadeira de Propedêutica Médica. Posteriormente, em 1978, já na Clínica Médica, instituiu o inovador modelo de internato médico com dois anos de duração, atualmente amplamente difundido em todo o Brasil. Ocupa a posição de Professor Titular na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. É impossível mensurar o alcance social de sua docência, após a formação de milhares de médicos em diversas especialidades. Estes, tendo convivido proximamente com ele nas enfermarias, observaram-no lidar com pacientes frágeis e menos abastados, e participaram das discussões científicas nas quais ele demonstra precisão na busca pelas informações mais atuais e relevantes, fazendo dele um exemplo a ser seguido.

No âmbito associativo, enquanto ainda exercia a função de diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado da Bahia, idealizou o 1º Congresso Bahiano de Cardiologia, do qual não se ausentou um único dia sequer em suas 36 edições. Presidiu a Sociedade de Cardiologia do Estado da Bahia (SBC-BA) no período de 1989 a 1991, permanecendo como um ativo membro do conselho consultivo desde então. Ademais, foi o fundador da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia e do respectivo congresso, estando também presente em todas as suas edições.

Nacionalmente, foi por 2 períodos (1989-1991 e 1993-1995) Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia, estabeleceu os critérios científicos para organização de congressos nacionais da SBC em 1995 e que se mantem até hoje sob o mesmo formato.  Participou de inúmeras diretrizes brasileiras em cardiologia, desde as primeiras, tendo coordenado a Primeira Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (1990) e a Primeira Diretriz Brasileira de Infarto Agudo do Miocárdio (1995), tão importantes para adoções de medidas de saúde pública em todo o Brasil à época. Foi o presidente desta sociedade nacional de 1999 a 2001. Sempre atuante em diversos departamentos e convidado a participar de decisões importantes, presidiu a comissão de ilustres colegas que mudou a filosofia de condução regimental da Sociedade Brasileira de Cardiologia em 2020, por convite do Dr. Marcelo Queiroga, à época presidente da SBC.

Internacionalmente, foi Presidente da Sociedade Sulamericana de Cardiologia de 2004 a 2006, Vice-presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia de 2006 a 2008 e International Advisor of The American College of Cardiology de 2007 a 2010. É Fellow do American College of Cardiology desde 2004 e Membro do Board do World Heart Failure Society (WHFS) desde 2009. Agregador, sempre procurou integrar as instituições das Américas, especialmente da América do Sul.

Na Academia Bahiana de Medicina, foi membro titular de 2004 a 2023, quando foi-lhe justamente outorgada a Emeritude. Foi Presidente da Comissão Científica da Academia de 2019 a 2022, enfrentando o desafio da adaptação e implementação das novas tecnologias de comunicação para manutenção das Sessões Científicas. O sucesso foi tão grande que, findada a pandemia, a nova metodologia foi adotada permanentemente.

Autor de inúmeras publicações em diversas revistas de impacto, onde destaco Circulation, British Heart Journal, American Heart Journal, JAMA, Clinical Cadiology, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, entre outros. Ainda residente, teve algumas publicações muito relevantes para nossa prática médica atual, como uma das primeiras descrições da correlação do tamanho da onda P ao ECG com um método novo à época chamado Ecocardiograma, e assim identificar um valor de corte ideal da duração da onda P para laudarmos a sobrecarga atrial esquerda (publicação no British Heart Journal, 1975). Muitas outras publicações muito relevantes se seguiram ao longo destes anos, como as que envolveram células-tronco. Nunca parou. Há 2 semanas, outra relevante publicação foi concluída: um importante capítulo para o livro da Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial. Ministrou aulas em Congressos, Jornadas, Simpósios em muitas dezenas, talvez centenas, de cidades de todo o país. Fez palestras e conferências em muitos outros países, como EUA, Portugal, Espanha, Porto Rico, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, China, entre outros.

O Professor Gilson Feitosa é, sem dúvida, uma personalidade de singular raridade, cuja disciplina é inigualável. Extremamente cortês e afável, ele se distingue por sua seriedade e dedicação. Ainda que não seja dado a brincadeiras fora do seu mais íntimo convívio, seu afeto mutuamente correspondido por sua família, amigos, colegas, alunos e pacientes é um testemunho de seu caráter nobre e benevolente.

Avesso ao improviso, o Professor Gilson Feitosa prepara-se meticulosamente para cada compromisso, demonstrando um alto nível de exigência consigo mesmo. Em suas palestras, ele se recusa a oferecer algo inferior ao melhor conteúdo disponível, seja para jovens estudantes ou para os mais eruditos professores. Sua dedicação à excelência é uma lição para todos. 

Dotado de elevado sentimento de altruísmo, frequentemente abstém-se de benefícios financeiros para ensinar e servir. Cristão convicto, professa sua fé mediante orações diárias realizadas em solitária e introspectiva reflexão, geralmente dirigindo seu olhar contemplativo para o horizonte a partir da varanda. Guiado por uma inteligência singular e uma vida devotada à medicina, ele vive plenamente o mantra que ele próprio criou: "fazer bem, o bem".

É uma honra inigualável para mim ingressar nesta venerável Academia na Cadeira 36, recentemente ocupada pelo Professor Gilson Feitosa, meu pai, até sua elevação a Membro Emérito. Compartilhar esta vivência na Academia com ele, que continua com vigor e tão ativo, é uma alegria imensurável e uma bênção divina.

A influência dos pais na carreira de seus filhos tende a ser significativa, especialmente quando compartilham a mesma profissão. Nesse contexto, a influência do Professor Gilson Feitosa em minha vida é verdadeiramente imensurável. Se alguém questiona se desfruto de privilégios por ser filho do Professor Gilson Feitosa, adianto prontamente que sim! Não em forma de benefícios escusos que só imagina quem não nos conhece, mas por ter ao meu lado, durante toda a minha vida, um verdadeiro mentor, tão brilhante. Ele irradia um entusiasmo contagiante em todas as suas atividades, ensinando incansavelmente pelo exemplo. Posso testemunhar, com toda sinceridade, que em meus 48 anos de vida, jamais o vi proferir uma queixa em relação ao excesso de trabalho. Sempre o considerei não apenas um ídolo, mas um modelo de conduta e dedicação a ser seguido. Tê-lo tão próximo é um privilégio inestimável que tenho desde sempre, e por isso, sinto-me profundamente abençoado.

Para encerrar, manifesto aqui minha gratidão a todos que têm feito parte da minha trajetória, incluindo os estimados colegas e professores que me acompanharam desde os primeiros passos no Colégio Marista, passando pela turma de Medicina de 99 da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, a residência de Clínica Médica no Hospital Santa Izabel, e a residência de Cardiologia no Instituto do Coração (InCor). Agradeço aos companheiros da moradia dos residentes da Universidade de São Paulo (USP), aos colegas de Doutoramento também na USP, e aos primeiros momentos de ensino na Medicina Intensiva e Clínica Médica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e na semiologia da USP.

Em meu retorno à Bahia, expresso minha profunda gratidão à equipe da UTI Cardíaca do Hospital Aliança e da UTI Cardíaca do Hospital Cardiopulmonar. Agradeço a todos que têm participado das minhas atividades de ensino nas duas instituições que marcaram significativamente minha vida: a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e o Hospital Santa Izabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Agradeço ainda àqueles que me acolheram em exposições acadêmicas internacionais, incluindo Longwood (Miami Hospital), Boston (Brigham/Harvard), e Durham (Duke University).

Expresso igualmente minha gratidão aos amigos da SBC, tanto local quanto nacionalmente, além de todos departamentos que participei e da CJTEC, aos amigos do INESS da ABM, bem como aos colegas professores da Faculdade Zarns. Agradeço também pela oportunidade de construir e lecionar nas Residências de Cardiologia e Clínica Médica da Santa Casa de Feira de Santana, criadas com tanto cuidado, carinho e dedicação, e aos amigos do Med.IQ Academy e do Brazilian Clinical Research Institute, pelos desafios vencidos e pelos novos desafios que temos à frente. 

Reconhecendo que o ensino constitui minha principal atividade e vocação, sinto-me compelido a expressar um agradecimento profundamente especial a todos os meus alunos, residentes, ex-alunos e ex-residentes das diversas instituições nas quais atualmente exerço a docência: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública através do ADAB, internato, pesquisas, TCCs e alunos de mestrado e doutorado na pós-graduação; Faculdade Zarns através do internato e liga de cardiologia; Hospital Santa Izabel com a já tradicional “Sessão da Fome”, internato, residências de Cardio, clínica médica e pesquisas locais e internacionais; Instituto de Ensino e Simulação (INESS) através de diversos cursos, especialmente o ACLS; e a Santa Casa de Feira de Santana, através das várias residências que ajudei a criar, especialmente da Clínica Médica e da Cardiologia onde sou o supervisor. Independentemente de meus títulos, saibam que vocês são a razão preponderante pela qual me encontro aqui hoje; sem vocês nada disso teria verdadeiro significado. Como disse o notável filósofo e pedagogo americano John Dewey, em meados do século passado: "A educação não é preparação para a vida; a educação é a própria vida."

Ilustríssimos confrades e confreiras deste sodalício, mestres, família e amigos, senhoras e senhores, a noite de hoje, que marca meu ingresso na Academia de Medicina da Bahia, será eternamente lembrada como uma das mais especiais da minha vida.

Muito obrigado!

Academia de Medicina da Bahia
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