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Clarissa Maria Cerqueira Mathias
Clarissa Maria Cerqueira Mathias
Membro Titular
17/09/2024
20:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Clarissa Maria Cerqueira Mathias

Excelentíssimos presidente e membros da Academia de Medicina da Bahia, ilustres convidados, colegas e amigos.

Saúdo a todos em nome do Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Dr. César Araújo Neto.
Gostaria de iniciar citando Kalil Gibran: “E toda a sabedoria é vã exceto quando existe trabalho, e todo o trabalho é vazio exceto se houver amor; e quando trabalhais com amor estais a ligar-vos a vós mesmos, e uns aos outros, e a Deus.”

É com uma mistura misto de humildade, gratidão e determinação que assumo hoje o honroso cargo de membro desta prestigiada instituição, a Academia de Medicina da Bahia. Quero expressar minha profunda gratidão a todos os membros que depositaram em mim sua confiança para fazer parte desta academia pelos próximos anos. A perspectiva de atuação como Membro Titular é extremamente inspiradora e repleta de oportunidades significativas. Ser aceita nessa instituição é a realização de um sonho. Este sonho se iniciou ao vivenciar o entusiasmo de meu avô Eduardo Dantas de Cerqueira por esta Academia e, agora, me permitirá fazer parte de um grupo seleto de renomados profissionais médicos que são referência em suas áreas. 

Ao longo de décadas, a Academia de Medicina da Bahia tem sido um farol de excelência, conhecimento e inovação na comunidade médica não só da Bahia, mas de todo o Brasil. Mencionando esta pessoa tão amada por mim novamente, lembro-me com alegria do orgulho expresso por meu avô, Eduardo Dantas de Cerqueira ao referir-se à satisfação de ser acadêmico desta instituição, baluarte da ciência, da ética e da dedicação ao bem-estar dos nossos pacientes. Permitam-me mencionar o que Dr Aleixo Sepúlveda mencionou a respeito do meu avô Eduardo à época da sua posse na Cadeira 7: “o panegírico a Eduardo Cerqueira é o elogio à competência, ao trabalho e à honradez. O médico que amou a profissão que exerceu hipocraticamente. Conseguiu o êxito. O homem correto e digno que respeitou e amou a vida, conquistou a admiração de todos”.

No entanto, assumir a posição de membro da AcademiaABM não é apenas um privilégio, mas também uma responsabilidade significativa. Estamos vivendo em uma época de mudanças rápidas e desafios complexos no campo da saúde. A pandemia global que enfrentamos nos últimos anos evidenciou as lacunas em nosso sistema de saúde, mas também destacou a resiliência e o heroísmo dos profissionais médicos.

Neste novo desafio, temos a oportunidade não apenas de manter o legado da Academia, mas também de fortalecê-lo e expandi-lo. Devemos continuar a promover a excelência acadêmica, incentivando a pesquisa e a educação médica de qualidade. Devemos também nos comprometer com a promoção da saúde pública e a defesa dos direitos dos pacientes, especialmente os mais vulneráveis ​​em nossa sociedade. Além disso, devemos abraçar a inovação e a tecnologia na medicina, reconhecendo seu potencial para transformar a maneira como entregamos cuidados de saúde e melhoramos os resultados para os pacientes. Isso inclui a integração de abordagens como telemedicina, inteligência artificial e medicina de precisão em nossa prática cotidiana.

Mesmo com todos os avanços tecnológicos, devemos nos lembrar sempre da importância da empatia, humildade, compaixão, e humanidade em nossa profissão. A medicina é uma arte tanto quanto uma ciência, e o cuidado centrado no paciente deve permanecer no cerne de tudo o que fazemos.

Portanto, conclamo a todos os membros desta academia a se unirem em prol desses objetivos comuns. Somente trabalhando juntos, compartilhando conhecimento e experiência, podemos enfrentar os desafios que temos pela frente e continuar a ser uma força positiva para a medicina e para a sociedade como um todo.

Gostaria de expressar meu compromisso total com os princípios e valores que sustentam a Academia de Medicina da Bahia. Comprometo-me a trabalhar incansavelmente para promover o avanço da medicina, a defender os interesses dos médicos e, acima de tudo, melhorar a saúde e o bem-estar daqueles a quem servimos.

Obrigado pelo voto de confiança e que possamos fazer deste mandato um período de grande realizações para a Academia de Medicina da Bahia e para a medicina como um todo.
Como Membro Titular, terei o privilégio de contribuir ativamente para a discussão e o avanço da prática médica e ciências correlatas. Através de participação em reuniões, seminários e conferências, terei a oportunidade de compartilhar meu conhecimento, experiência e pesquisas com colegas de profissão, promovendo a troca de ideias e o aprimoramento do campo médico. 

Além do aspecto científico, a Academia de Medicina da Bahia também valoriza e incentiva atividades culturais e humanísticas relacionadas à medicina. Essa perspectiva ampla e abrangente da prática médica é fundamental para uma visão mais holística do cuidado ao paciente. Nós, seres humanos, somos uma santíssima trindade: somos corpo, mente e alma. Essa sublime complexidade compõe o mistério e a chave da vida. Somos natureza, células, genes. Somos de carne e osso. Somos , proteínas e neurônios. Somos poesia, sentimentos e fé. Nos primórdios da civilização, a medicina e a espiritualidade andavam juntas. Os médicos eram sacerdotes e essa conjunção percorreu boa parte da história trajetória da medicina. Os tempos modernos e a evolução da ciência trouxeram imenso distanciamento a esses dois universos. É relativamente recente a orientação da Organização Mundial de Saúde que valida a importância do cultivo à espiritualidade no cenário da medicina e da saúde. Hoje, médicos e pacientes assumem hoje a força da fé com muito mais compreensão de que esta energia vital é um fator de extrema relevância nos tratamentos.

Neste contexto, participar de eventos culturais, palestras e projetos humanitários promovidos pela academia me permitirá desenvolver uma compreensão mais profunda da importância do aspecto humano no exercício da medicina. Comprometo-me a assumir responsabilidades e colaborar ativamente nas atividades da academia, integrando comissões, grupos de trabalho e cargos administrativos que contribuam para o fortalecimento e crescimento da instituição. Essas oportunidades de liderança me permitirão exercer influência e direcionar ações que beneficiem não apenas a Academia, mas também a comunidade médica e a sociedade em geral. 

Acima de tudo, sinto-me honrada e comprometida em representar a Academia  de Medicina da Bahia com integridade, ética e excelência. Essa perspectiva de atuação é uma grande responsabilidade, mas também uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Estou determinada a contribuir para a construção de uma comunidade médica sólida e comprometida com o avanço da saúde e do bem-estar da população baiana. 

A gratidão é a maior fonte de felicidade. Gostaria de agradecer a Deus e aos meus Guias por terem me dado a oportunidade de iniciar esta jornada como médica e seguir os meus propósitos. DepoisAgradecer, eu gostaria muito de agradecer à minha família: aos meus pais, que, de uma maneira muito ética e primorosa, guiaram os meus caminhos, mostrando sempre que devemos torcer pelo melhor e nos dedicarmos com afinco a cada uma das nossas empreitadas. Em seguida, gostaria de agradecer aosAgradecer aos meus filhos, Maria Cecília, Roberto e Maria Luísa, por compartilharem esta jornada de cumplicidade e amor comigo e me compartilharem com a Medicina e também por seguirem esse caminho, dando alento a tantas pessoas. Agradecer ao meu companheiro,  meu companheiro de jornada, César, meu amigo e minha luz em tantos momentos. ÀGostaria também de agradecer às minhas irmãs, que são fonte de amor e de engrandecimento da minha vida, obrigada também. Agradeço também a Damiana e a Eliza, por me ofertarem a tranquilidade dentro da minha casa. Agradecer a Maria Isabel, minha neta, fonte de rejuvenescimento e de força para criarmos um mundo sempre melhor. Agradecer àqueles que partiram mas deixaram sementes maravilhosas, meus avós, minha sogra Lia, minha mãe emprestada Ilma.

Não poderia posso deixar de citar tantos professores ao longo da minha vida. Professores Mestres da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, como o Dr Antônio Carlos Vieira Lopes, Dr. Rodolfo Teixeira, Dr. Thomaz Cruz, Dr. Armênio Costa Guimarães, Dr. Heonir Rocha, Dr. Octavio Messeder, Dra. Célia Nunes, Dr. Luís Erlon Rodrigues, Dra. Fátima Rodrigues responsáveis por ensinamentos, memórias e por tantos exemplos de como é ser médico, de como ser líder e de como nós podemos melhorar a vida das pessoas.

Gostaria também de agradecer muito à minha mestra Gildete Lessa, pessoa de uma lisura impecável e que marcou a minha vida em todos os sentidos. Sua vontade de trabalhar, seu cuidado com o paciente, sua determinação pautaram muitos aspectos da minha vida. 

Gostaria de agradecer também a todos os mestres que me guiaram durante minha residência na Clínica Médica Dr. Donald Kaye, Dr Alan Tunkel, Dr. Octávio Messeder, Doutora Oksana Korsanoff, e tantos outros que a tornaram tão extraordinária e maravilhosa. Gostaria muito, de agradecer também aos meus professores da Residência de Oncologia e Hematologia da Universidade da Pensilvânia, em especial ao Dr. Daniel Haller, à Doutora Lynn Schucter, à Janet Abhrams, ao Dr. David Porter, que tanto me ensinaram, que tanto me iluminaram, que tanto me mostraram como é maravilhoso poder servir ao próximo. 
Gostaria também de agradecer Agradeço aos meus colegas de trabalho diário que tornam o meu caminho muito mais fácil. Gostaria de agradecer  Àa Maria Lúcia Martins Batista, obrigada por ter me acolhido em meu retorno ao Brasil e a tantas pessoas que fizeram parte da minha vida desde então. 

Obrigada aos meus Gostaria de agradecer aos meus queridos companheiros do Núcleo de Oncologia da Bahia,  Erico Strapasson e Eduardo Moraes e Ivana Nascimento, por terem partilhado tantos momentos bons. Gostaria também de agradecer na Em nome dopessoa do Dr. Bruno Ferrari e Dr. Carlos Gil Ferreira, agradeço ao do Grupo Oncoclínicas, que tanto tem me apoiado em todas as decisões., bem como o Dr. Carlos Gil Ferreira, que também muito tem me apoiado em todos esses momentos. Gratidão aos meus Assistentes que tornam as minhas empreitadas possíveis.
O meu agradecimento, mais que especial, vai para os meus pacientes. É por eles que vivemos a vocação da Medicina. Cada encontro é um momento único que nos move para longe do cansaço.

A história é sempre escrita pelos vencedores e toda história começa com uma memória. Assim, saúdo a memória do patrono desta cadeira, Tenho a grande honra de ocupar a Cadeira 5 da Academia de Medicina da Bahia inaugurada por um profissional médico de reconhecida competência e contribuição para a área da saúde na Bahia e no Brasil. Cadeira 5, cujo patrono é Álvaro de Carvalho, e o último titular foi o acadêmico Ricardo Ribeiro dos Santos.

         Natural  de Salvador, o dr. Álvaro Campos de Carvalho foi diplomado médico pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1913 onde foi Aluno laureado, tendo a maior média em todas as disciplinas, com direito a ‘viagem à Europa ou América’. O seu retrato foi colocado no Pantheon na sede da escola mater da medicina Brasileira.  Em 1914, já publicou trabalhos como “Da ação polar e interpolar das correntes contínuas”, com temática de sua futura cátedra, Física Médica.  Nesse mesmo ano de 1914, escreveu o trabalho “Da resistência elétrica” para a Docência Livre na cadeira de Física Médica. Ainda em 1914, o docente livre, por concurso, tornou-se Professor extraordinário de Física Médica, tendo regido a cadeira interinamente de 1915 a 1923, até que, em 1925, tornou-se Professor Catedrático. No artigo A Bahia e a intervenção federal, publicado também na Gazeta (Carvalho, 1920) e destacado na história desta revista por Luciana Bastianelli (2002), o autor começa fazendo um paralelo entre a intervenção militar e sanitária: “ambas luctam, guerreando ambas. Uma contra o homem, outra a favor do homem. Diferentes as armas, mas sempre armadas, ambas”. Como bem complementado pelo Professor Reinaldo Jacobina, a quem aproveito para agradecer pela preciosa ajuda na elaboração deste discurso, amada só a luta sanitária. A luta foi contra a febre amarela. Carvalho destacou também a escolha da chefia, na pessoa do “Prof. Clementino Fraga, nome que a Bahia já se habituou a respeitar pelo brilho de sua competência, pela formosura de seu espírito, pela inteireza de seu caráter” e de quem tenho o privilégio de ser uma descendente direta. 

         Com uma atualidade surpreendente, com a tese que a chamada Escola de Annales só expressaria duas décadas depois, afirma que “tudo que existe tem a sua história e é a História dessa existência multiforme que articula e fundamenta o conceito clássico da História da Civilização. Esse grande Mestre de mestres exerceu a cátedra de 1925 até 1943, ano de seu encantamento. Sobre ele, disse o Prof. Eduardo de Sá Oliveira, em sua Memória Histórica da Fameb de 1942: orador fluente, espírito brilhante, professor cumpridor de deveres, conferencista admirável, clínico prestimoso, bem foi o Dr. Álvaro de Carvalho, que, de quando em quando, ainda escrevia artigos para nossa imprensa diária.

         Aqui, também, presto homenagem ao ocupante subsequente desta cadeira, o Doutor Lipe Goldenstein a quem, com muito orgulho, irei suceder a partir de hoje. O Prof. Dr. Lipe Goldenstein, nascido em 1931, em Salvador-Ba e formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1953. Foi Presidente da Academia Brasileira de Reumatologia, Presidente da Sociedade Baiana de Osteoporose, Professor Adjunto de Clínica Médica da Escola Baiana de Medicina e chefe de Serviço de Reumatologia do Hospital Santa Isabel. Foi também Vice Presidente da LBCC (Diretoria Executiva do Hospital Aristides Maltez). Dr Lipe coordenou e participou de diversos congressos e simpósios nacionais e internacionais. Dedicou a vida profissional à clínica médica com especialidade em Reumatologia, área que recebeu dele relevantes contribuições científicas reconhecidas a nível local e nacional.

        Finalmente, hoje vamos celebrar a vida e o legado do Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos, uma figura excepcional que dedicou sua existência à pesquisa científica e à medicina. Dr. Ricardo foi muito mais do que um pesquisador brilhante; ele foi um exemplo inspirador de dedicação, excelência e compromisso com a ciência.

        O Professor Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos nasceu em São Paulo, em 1941. Seu primeiro contato com pesquisa veio em seu estágio como técnico de laboratório no Instituto Adolfo Lutz em São Paulo durante dois anos. Seu interesse pelas ciências biomédicas e pela investigação científica foi estimulado desde cedo pelo convívio com o saudoso Prof. Samuel Pessoa renomado parasitologista Brasileiro quando o Dr Ricardo teve o privilégio  de acompanhar trabalhos de pesquisa em seu laboratório, ainda no ensino médio. 

       Graduou-se em medicina pela Universidade Estadual de Campinas em 1969. 

       Durante o período da faculdade, realizou iniciação científica sob orientação do Prof. Walter August Hadler, sobre “o papel do baço na hematopoiese”, tendo em seguida despertado o interesse pela medicina tropical, ao trabalhar com Prof.  Vicente Amato Neto.

        Fez o Doutorado em Clínica Médica, Doenças Infecciosas e Parasitárias, sob a orientação do Prof.  Amato Neto, que era professor titular de infectologia da UNICAMP, em 1973. Foi no seu doutorado, que iniciou suas pesquisas com a doença de Chagas, que seria por décadas o principal foco de seus estudos. 

       A doença de Chagas entrou literalmente no seu sangue. No laboratório infectando camundongo com o Trypanosoma cruzi, Dr. Ricardo deixa acidentalmente cair uma seringa com alta concentração de formas infectantes de T.cruzi  e a agulha cai no seu pé, ferindo-o e inoculando o Trypanosoma cruzi no seu sangue. Dr. Ricardo esperou alguns dias e dosou a sua parasitemia que revelou estar infectado pelo Trypanosoma cruzi. À época já havia uma droga parasiticida de protozoários, o Nifurtimox, e o mesmo a utilizou durante 1 mês  e a parasitemia desapareceu. Dr. Ricardo era um chagásico e viveu assintomático até o final de sua vida.

      A formação médico científica do Dr. Ricardo transcendeu o Brasil. Dr. Ricardo fez pós-doutoramentos na London School of Tropical Medicine and  Hygiene  entre 1973 e 1974, e posteriormente no Departamento de Imunologia do St George Medical Hospital, da London University, onde intensificou os estudos em imunologia em doenças parasitárias. Quando retornou de Londres em 1974, foi convidado pelo Prof. Dr. Fritz Köberle, um dos mais importantes  especialistas de todos os tempos em doença de Chagas e fundador de uma das principais escolas de patologia do Brasil, para fazer parte do corpo docente do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 

      Ele fez sua livre docência em Patologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP em 1977 e posteriormente, assumiu o cargo de Professor Titular pelo departamento de parasitologia, microbiologia e imunologia tendo criado o departamento  de imunopatologia e tornando-se Professor Titular de Imunologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em São Paulo.

     Foi Pesquisador Titular na Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, onde também atuou como diretor do Hospital Evandro Chagas de 1990 a 1991. Mais tarde, atuou como coordenador do Laboratório de Imunopatologia do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular no Instituto Oswaldo Cruz também no Rio de Janeiro e como Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto de Tecnologia em Fármacos entre 1995 e 1997. Nesta área foi também Coordenador do Laboratórios de Farmacologia Aplicada do Instituto de Tecnologia em Fármacos. 

      Em 1998, transferiu-se para o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, FIOCRUZ, em Salvador, BA, onde implantou e foi coordenador do Biotério e da Informática, contribuindo para a estruturação desse centro de pesquisas. Implantou também o Laboratório de Imunofarmacologia que posteriormente se tornaria o Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia. Nesse laboratório, deu continuidade às pesquisas em imunopatologia da doença de Chagas e implantou a triagem de fármacos com ação antiparasitária e imunomoduladora.

      Em 2009, tornou-se Pesquisador Titular do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz na FIOCRUZ Bahia e exerceu este cargo até 2018.

      Neste período, também foi coordenador de Pesquisas Básicas do Hospital São Rafael onde ele implantou o primeiro Centro de Biotecnologia e Terapia Celular da Bahia. A descoberta do papel das células-tronco adultas na regeneração cardíaca estimulou-o a iniciar estudos na área de terapia celular. Naquela época foi implantado o Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual, projeto iniciado em 2001, coordenado pelo Dr. Ricardo, que agregou pesquisadores de várias instituições no Brasil para desenvolver projetos na área de terapias com células tronco e bioengenharia tecidual para doenças degenerativas, com financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Banco Mundial. 

Este projeto foi de grande relevância para o país, pois proporcionou meios e agregou cientistas da área básica e clínica, elevando a ciência brasileira na fronteira mundial desta nova área da pesquisa em ciências biomédicas. Dr. Ricardo teve a idéia inovadora do uso de células-tronco para tratamento de doença de Chagas. Demonstrou os efeitos imunomodulatórios da terapia com células- tronco adultas em 2001, no modelo experimental de cardiopatia chagásica, quando não se falava ainda sobre imunomodulação mediada por células-tronco, ou efeitos parácrinos. 

A primeira publicação descrevendo efeitos imunomodulatórios de células-tronco mesenquimais sairia no ano de 2003. Estes dados foram publicados no American Journal of Pathology, e este trabalho foi agraciado com o prêmio Zerbini, pela sua relevância nas pesquisas na área de cardiologia no país. Esses dados embasaram a aprovação de um estudo mutilcêntrico (MyHeart) para avaliação de eficácia do tratamento com células mononucleares da medula óssea em pacientes com insuficiência cardíaca. Os resultados desse estudo, coordenado pelo Dr. Ricardo, foram publicados no periódico Circulation, uma das revistas de maior impacto na área de cardiologia. O artigo no Circulation ganhou o prêmio Baldacci. Os estudos clínicos em terapia celular na doença de Chagas.

       Presidiu a Sociedade Brasileira de Imunologia entre 1983 e 1984 e a Associação Brasileira de Terapia Celular que ajudou a criar entre 2006 e 2008. 

       Em 2019, a convite do Dr Roberto Badaró, a quem agradeço grande parte das informações sobre o doutor Ricardo, ele passou a coordenar o Centro de Terapia Celular, do Instituto de Tecnologia e Saúde do Senai Cimatec juntamente com Milena Soares . 

       Em janeiro de 2019, Dr Ricardo foi nomeado pesquisador emérito da Fiocruz. 

       Em novembro de 2019 recebeu o prêmio Nelson Mandela agraciado pela  União de Sociedades Espiritualistas, Filosóficas, Científicas e Religiosas, movimento de instituições e pessoas ligadas a atividades de cunho espiritual, religioso, filosófico e científico criado aqui em Salvador, Bahia, em junho de 1989.

       O Dr. Ricardo foi uma figura exemplar que dedicou sua vida à pesquisa e fez diversas contribuições originais significativa para a medicina e para a ciência. Foi inspirador na dedicação, na excelência e no compromisso com o ensino e a pesquisa. Seu legado com certeza continuará a influenciar gerações futuras de pesquisadores e profissionais da área da saúde. Como resultados de suas pesquisas, publicou cerca de 150 artigos, 346 resumos em anais de congressos, orientou mais de 60 alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado.

       Ele ajudou a formar gerações de pesquisadores e profissionais da saúde, deixando um legado que continuará a influenciar nossa área por muitos anos.

       Mesmo recebendo inúmeras premiações e títulos ao longo de sua carreira, Dr. Ricardo sempre manteve a humildade e a paixão pelo conhecimento. Seu compromisso com a ciência e sua busca incessante por respostas moldaram a maneira como entendemos e tratamos doenças. O seu encantamento aconteceu em 2023 nos seus bem vividos 82 anos.

     A Lua hoje está cheia, repleta de vida celebrando este momento tão especial de gratidão.       

    Que o legado de cada uma das pessoas citadas aqui crie um mundo melhor no qual o amor pelo próximo seja uma constante e que o exemplo de Jesus guie cada um dos nossos atos. 

Meu muito obrigada.

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