Exma. Sra. Profa. Dra. Maria Tereza de Medeiros Pacheco, Primeira Presidente Mulher da Academia de Medicina da Bahia, e Primeira Mulher Professora da Primeira Faculdade de Medicina do Brasil.
Exmo Sr. Acadêmico Prof. Agnaldo David de Souza, Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Ciências, Ilma Sra Dra Maria Luisa Soliani, Diretora da Escola Bahiana de Medicina e Saude Publica, Ilma Sra Ilma Dra Cleilza Andrade, Diretora da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia Ilmo Sr. Dr. Lain Carlos Pontes de Carvalho, Diretor do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz /Fundação Oswaldo Cruz, Ilmo Sr Dr Mitermayer Galvão dos Reis Vice Diretor Do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, FIOCRUZ Senhoras e Senhores:
Agradeço-lhes, Senhores Acadêmicos, por me aceitar como o mais novo membro desta insigne Academia de Medicina da Bahia.
Entro nesta confraria com grande admiração e respeito pelos confrades, meus mestres, que tanto contribuíram para minha formação profissional e de cidadão comprometido com o bem estar da sociedade.
Gostaria de agradecer, especialmente, a Dra. Sônia Gumes Andrade e Dr. Carlos Alfredo Marcílio de Souza que me indicaram para fazer parte desta nobre agremiação.
A primeira , eminente pesquisadora que tanto tem contribuído para o melhor entendimento de patologia e terapêutica da Doença de Chagas, além de ter sido minha professora da Disciplina de Patologia no Curso de Graduação de Medicina da Universidade Federal da Bahia, foi quem me despertou o interesse pela pesquisa experimental tendo sido a minha preceptora no mestrado em Patologia Humana.
Carlos Alfredo Marcílio de Souza, amigo de longas datas, com quem tenho compartilhado há 4 anos a coordenação do Curso de Pós- Graduação em Medicina Interna da EBMSP/FDC. O nobre colega, tem sido exemplo de um grande mestre, com retidão, rigor científico e ético e dedicação à Medicina.
Agradeço-lhe, caro mestre e filósofo, Professor Ruy Machado, que, juntamente com Carlos Marcílio e o professor Humberto de Castro Lima, recomendaram o meu ingresso nesta Academia, após julgar o meu trabalho intitulado “Origem do HTLV-I em Salvador-Bahia”. Permita-me, caro confrade, repetir as palavras contidas em seu discurso de posse nesta Academia: “Atento, toma por conselho, as palavras de André Maurois: Nada é mais surpreendente do que se ver pelos olhos de outrem”.
“O BRASIL É UM VASTO HOSPITAL.”
Embora esta frase se aplique aos momentos atuais, ela foi dita por Miguel Pereira, no início do século passado, no Rio de Janeiro, nos fins de 1916, durante uma festa em homenagem a Carlos Chagas, o descobridor da doença de chagas e causou grande rebuliço no país. Para os jornais da época era “indevida e grosseira”.
No entanto, Instituições da maior credibilidade, tais como a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Instituto Oswaldo Cruz e a Academia Nacional de Medicina não hesitaram em apoiar Miguel Pereira.
Este apoio era embasado nas observações obtidas através das viagens realizadas pelos cientistas de Manguinhos, atualmente Fundação Oswaldo Cruz, pelo interior do Brasil, sob a liderança incontestável de seu diretor, Oswaldo Cruz. Estas viagens conhecidas como “Expedições Cientificas”, proporcionaram um diagnóstico dramático das condições de vida sub humana dos nossos compatriotas.
A Academia Nacional de Medicina, através de seu presidente, o memorável Miguel Couto, teve um papel crucial para a criação da Liga Pró-Saneamento no Brasil, fundada em fevereiro de 1918.
E expressando as idéias de seus pares afirmava:
“O que abalou no discurso de Miguel Pereira foi o diapasão, mas este intencional para alcançar o efeito colimado. Feriu fundo, de propósito para doer, agora vai curar a ferida na comissão da Academia.”
E conclamava a classe médica a participar de uma “Cruzada da Medicina pela Pátria”.
Segundo ele “O médico deveria substituir as autoridades governamentais, ausentes na maior parte do território, bem como influir no comportamento das populações , persuadindo-as a tomarem medidas higiênicas que impedissem a propagação de doenças evitáveis que fazem o nosso descrédito e o nosso atraso.”
Este é um dos papéis das Academias de Medicina e como afirmou o Acadêmico Adroaldo Albergaria no discurso de posse do querido Mestre Professor Rodolfo Teixeira.
“A Academia de Medicina não é apenas uma Instituição que visa ao conhecimento técnico e cientifico. As Academias de Medicina não podem ser lugares sombrios onde se escutam os sintomas, os pródromos, as variações sensoriais, as perturbações. Aqui dentro se seguem a voz das letras com grandes atenções e o indispensável conhecimento de todos os problemas. Assim, além da Ciência médica, o desenvolvimento sócio-econômico, no seu ritmo acelerado, os fatores psicossociais, a política educacional, as tradições cívicas, religiosas ou populares, os grupos étnicos, os aspectos demográficos, enfim a visão global de política brasileira.
Senhores, acredito que somente através de um esforço conjunto de todos nós, médicos e não médicos, sociedade e governo, as condições de saúde no nosso País poderão ser melhoradas.
Uma outra função da Academia é o culto à imortalidade e, no dizer do professor Edivaldo.Boaventura, no artigo “Surgimento e Evolução das Academias no Brasil”, publicado nos Anais desta Academia, “a imortalidade é a presença permanente dos que se foram em nós”.
Portanto, gostaria de lhes relembrar as figuras impolutas dos que me antecederam na cadeira número 40 que passo a ocupar: Professores Sabino Lobo da Silva, o Patrono, e Renato Marques Lobo, meu antecessor. Ambos nasceram no interior do Estado da Bahia.
Sabino Silva, filho de Faustino Almeida da Silva e Sabina Etelvina da Silva, nasceu em Bomfim de Feira, distrito de Feira de Santana, em 11 de junho de 1892. Transferiu-se para a cidade de Cachoeira onde se empregou, como caixeiro numa loja de tecidos, para auferir os meios necessários para ingressar no curso superior. Concluiu seus estudos secundário no Ginásio da Bahia. Em 1912, formou-se em Cirurgia Dentária e, logo em 1913, matriculou-se no Curso de Medicina, formando-se em 1918, tendo sido agraciado com o prêmio Alfredo Brito. A sua tese de doutoramento versou sobre “O fígado tuberculoso e o fígado dos tuberculosos”. Devido ao seu desempenho, foi convidado pelo professor Aristides Novis para reger a cátedra de Fisiologia, desdobrada em sua homenagem. Prestou concurso, tendo sido aprovado com a tese “Do tônus e do seu mecanismo na musculatura estriada”. Em 1934, a segunda cadeira de Fisiologia foi transformada na cadeira denominada Terceira Clínica Médica. Já naquela época, admitia Professor Sao bino Silva a associação existente entre esquistossomose mansônica. e nefropatia. Acreditava, também, na correlação entre infecção focal dentária e os reumatismos articulares crônicos. Regeu a Terceira Clínica Médica até a sua morte, em 10 de outubro de 1944 Como afirmou o Professor Renato Lobo: “O Professor Sabino Silva inovou o ensino prático da clínica médica na Bahia, dando autonomia didática aos seus assistentes que deixaram de ser meros preparadores de aulas, para terem participação ativa no curso”.
Renato Lobo, um dos fundadores desta Academia, foi um dos assistentes de Sabino Silva. Era filho de Izidro Lobo e D. Glória Marques Lobo. Nasceu em .14. outubro de 1910, na cidade de Cachoeira, Bahia, onde fez o pré-escolar e dois anos primários. Concluiu os seus estudos primário e secundário em Salvador, no colégio São João e no Ginásio da Bahia, respectivamente. Ingressou na Faculdade de Medicina, tendo sido aprovado em 1º lugar no exame de seleção. Aluno exemplar durante o Curso de Medicina, formou-se em dezembro de 1934. Desde cedo, trabalhou como Aspirante do Hospital de Doença Infecciosa e Parasitária indicado, por seu Diretor, por ter tido as melhores notas do curso médico até o 3º ano. Logo depois de formado, em 1935, foi Assistente Honorário da 3º Cadeira de Clínica Médica. Dois anos depois, foi aprovado em concurso de livre docência, tendo apresentado a tese “Da Tensão Arterial na Aortite Sifilítica”. Realizou vários trabalhos científicos como, por exemplo, “Contribuição ao Tratamento da Febre Tifóide, estudo sobre a Azedinha (Begonia behiengis)” e o “Tratamento da esquistossomose”.
Era casado com D. Carmem Lobo e teve dois filhos: Vera Lobo Folkerts.. e Renato Luís Lobo, médico, que tive o prazer de ter sido colega de Residência no Hospital das Clínicas, em 1970 e 1971.
Faleceu em setembro de 2001, em Salvador, Bahia.
Segundo o Professor Rodolfo Teixeira, em Memória Histórica da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, “Renato Marques Lobo merece ser considerado pelo seu gosto inato em transmitir, pela capacidade didática que possuía, qualidades que atraíam estudantes, beneficiando-os, sem dúvida, por esta aproximação”.
Professora Maria Luisa Soliani, agradeço-lhe por ter cedido o auditório da Escola Bahiana Medicina e Saúde Pública para esta solenidade.
Como ressaltou o Acadêmico Jayme de Sá Menezes, “A Escola Bahiana de Medicina tem com esta Academia grande afinidade. E complementava :“ O seu idealizador, este que vos fala e muitos outros de seus titulares são ou foram professores da vitoriosa e já tradicional escola”.
A maioria dos seus diretores, como por exemplo, os professores Jorge Valente, Orlando de Castro Lima, e Geraldo Leite, pertencem a esta Academia.
Lendo, nestes últimos dias, os Anais da Academia de Medicina, gentilmente cedidos pelo Professor Antonio Jesuíno Neto, certamente, contribuindo com o meu noviciado, deparei-me com a conferência “Perspectivas para a Medicina no século XXI”, proferida pelo Acadêmico Zilton Araújo Andrade, em comemoração ao Cinqüentenário da Associação Baiana de Medicina, quando o mesmo afirmou: “Das coisas que devem mudar, que me compete aqui assinalar, é a formação de médicos. As escolas médicas serão pressionadas para reformas urgentes. Vão ser instadas a perderem o ranço das escolas técnicas e se transformarem em verdadeiras instituições de ensino e pesquisa. Terá fim o ensino livresco de detalhes que será substituído pelo ensino dos princípios gerais, dos aspectos conceituais, dos trabalhos práticos, das comparações e ilações, o que dará régua e compasso embora não necessariamente a erudição .ao jovem médico.
Estes princípios, Dr Zilton, o senhor já os praticava desde os tempos do Serviço de Anatomia Patológica, nos subsolos do Hospital das Clínicas, quando ingressei no seu grupo de trabalho em 1967.
Está aí o seu grande sucesso na formação de inúmeros médico patologista que enaltecem a medicina brasileira, do qual sou um modesto representante.
Com o passar do tempo, o ensino da Medicina se tornou cada vez mais prático e técnico. Paralelamente, aliado aos espetaculares progressos científicos, a especialização se tornou cada vez maior.
O paciente tornou-se corpo-objeto não sendo mais sujeito. Torna-se, portanto, necessário o resgate da integralidade do atendimento ao paciente nos seus aspectos bio psíquico social, o que, felizmente, já está acontecendo.
Professora Maria Luisa Soliani, somos testemunhas do grande esforço que V.S. tem feito para reformular o currículo desta Escola, visando alcançar estes objetivos.
Para isto, um dos pontos importantes é ter no seu corpo docente professores que sejam VERDADEIROS MESTRES.
Içamí Tiba faz uma distinção entre professor e mestre.
“Com o professor o estudante quer somente aprender o necessário para tirar notas boas e passar de ano. Já com o Mestre ele é discípulo. Mestre é um modelo de vida, uma identidade ideológica. Com o mestre não se busca simplesmente a aprovação escolar mas, pela sua aceitação pessoal, ter a honra de fazer parte de sua vida ou, pelo aprendizado, ter o orgulho de divulgar suas idéias.”
Segundo Lya Luft : “O verdadeiro mestre é o que não castiga mas impele; o que não doutrina mas desperta curiosidade; o que não impõe mas seduz; o que não quer ser modelo nem exemplo mas companheiro de jornada...”.
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente aprende” como disse Guimarães Rosa.
“AI DAQUELES QUE NÃO TIVERAM MESTRES”, dizia um outro Acadêmico, da Academia Nacional de Medicina e que foi, também, Diretor do Instituto Oswaldo Cruz, o Professor José Rodrigues Coura.
Tive vários Mestres e já citei alguns.
O mais importante foi meu pai o Professor Bernardo Galvão Castro. Sei que algumas pessoas, como por exemplo, os doutores José dos Santos Pereira Filho, Ismar Magalhães, João Alfredo Soares Quadros e Guilherme Simões, estão hoje aqui, mais por ele do que por mim, o que muito me alegra.
E hoje, na quintessência da vida, encontrei um grande Mestre e Amigo, o Professor Humberto de Castro Lima.
Intrépido e Sensível
Rebelde e Romântico.
Pragmático e Sonhador.
Com ele tenho passeado pelo mundo da filosofia.
Caminhamos de Platão a Nietzche, algumas vezes acompanhados comedidamente, por Baco.
Ainda temos uma longa estrada a percorrer...
Gostaria de agradecer aos caros amigos e colegas por estarem aqui compartilhando comigo, juntamente com Ana Maria, amada e companheira, filhos queridos e familiares amigos deste momento de felicidade.
Para finalizar utilizo as palavras do confrade Adroaldo Albergaria
“NESTA CASA SOU DISCÍPULO, ESPÍRITO RESOLUTO PARA RECEBER ENSINAMENTOS, COLEGUISMO E SOLIDARIEDADE”.
MUITO OBRIGADO