Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
Tamanho da Fonte
Cesar Augusto de Araújo Neto
Cesar Augusto de Araújo Neto
Titular - Cadeira 45
10/07/2023
21:01
Discurso de Posse na Presidência da Academia de Medicina da Bahia

Ilustríssimos membros que compõem a mesa desta solenidade, que a todos saúdo ao dirigir-me ao Acadêmico Professor Doutor Antônio Carlos Vieira Lopes – mui digno Presidente da Academia de Medicina da Bahia,

Autoridades presentes,

Confreiras e confrades,

Senhoras e senhores.

Assumo, pois, esta Presidência sob a égide da honra, do trabalho, da vida comunitária.

Manifesto em nome da diretoria recém-empossada a nossa gratidão aos senhores acadêmicos e às senhoras acadêmicas pela confiança e generosidade de nos delegar através de sufrágio direto o digno e difícil dever de conduzir os destinos deste egrégio sodalício, que congrega em seu cenáculo médicos que sempre dignificaram a profissão, com reconhecida competência, de conduta ética idônea, e pelo amor à medicina e ao próximo.

Dirigir a Academia de Medicina da Bahia é tarefa do maior rigor, pela responsabilidade que encerra, sobretudo tendo que suceder a diretoria liderada pelo insigne Acadêmico Antônio Carlos Vieira Lopes, mandato pleno de realizações, provendo o perfil de uma academia viva, vibrante, competente e admirada.

Toda obra que progride, tem sua vida no passado, pois somos elos de uma cadeia sem fim, sempre em construção, que não subsiste sem os alicerces dos que nos antecederam. Disse Tristão de Athayde que “o passado não é o que passa, mas o que fica do que passou”.

As diretorias que nos antecederam foram marcadas por esforços, culminando com os fatos da atual direção de valor e méritos memoráveis. Cabe-nos, portanto, dar continuidade ao constante engrandecimento da nossa casa, mantendo-a como órgão respeitável e atuante, preservando a tradição, zelando pela sua renovação e sua autonomia.

Nos comprometemos dirigi-la com dedicação plena, buscando a concórdia e união, evoluindo sempre com ações conjuntas não apenas com os membros da diretoria, mas com todos os nossos pares.

A Diretoria que agora está sendo empossada é composta pelos ilustres Acadêmicos Roberto Badaró, como Vice-Presidente, Luiz Freitas, como Primeiro-Secretário, André Almeida, como Secretário Adjunto, Núbia Mendonça, como Tesoureira. E ainda Graciete Vieira, como Diretora de Acervo, Jadelson Andrade, como Diretor de Comunicação. Os membros desta diretoria compartilham o mesmo propósito de servir e o sentimento de tornar a nossa Instituição mais vigorosa e harmônica.

Acredito que as pessoas que desejam e têm a oportunidade de construir além da própria história, ampliando suas ações pela inserção na dimensão social, são abençoadas. É provável que o poeta português Fernando Pessoa, ao dizer que o homem tem o tamanho de seus sonhos, tenha cogitado sobre essa dimensão da saída do eu próprio para as abrangências coletivas.

A Academia nada mais é do que um lugar de convivência real, fraterna, suave e elegante em torno do que satisfaz a nossa alma: a ciência, a cultura, a educação, a história e a memória.

Ao contrário do que alguns comentam que a que a Academia é o lugar onde vamos envelhecer, eu entendo que a Academia seja o lugar onde vamos rejuvenescer, em função das novas amizades, novos horizontes e dos aprendizados constantes, das trocas de conhecimentos.

Ser acadêmico significa conviver elegantemente com o contraditório. Para Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras, “é importante gostar de olhos que sorriam, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncio que se declaram”.

Foi assim que as academias surgiram, ainda na Grécia Antiga, em 387 antes de Cristo, quando Platão resolveu fundar uma escola livre perto de Atenas, nos jardins dedicados à deusa Atena, que, segundo a tradição, este terreno pertencera a um personagem mitológico, com o nome de Academus e foi considerada a primeira universidade no mundo grego. Tal prática se disseminou pela região e vigorou por novecentos anos. Em 529 depois de Cristo, por ordem do imperador romano Justiniano, todas as academias foram fechadas.

Com a renascença italiana, elas ressurgiram. Primeiro em Florença, em 1440, com a fundação da Academia Platônica. Tempos depois, na França, na Espanha e em Portugal. Os bons ventos do Iluminismo, a partir do século dezessete, também foram fundamentais para garantir a elas uma posição mais segura.

Do outro lado do Atlântico, no Brasil colônia, houve a Academia Brasílica dos Esquecidos, e, depois, a dos Renascidos. A Academia Científica do Rio de Janeiro durou sete anos, até ser esvaziada por razões políticas. A Sociedade Literária do Rio de Janeiro, também do século dezoito, durou oito anos, até ser finalmente fechada, em 1794, acusada de participar de um movimento pela libertação da colônia, no episódio que ficou conhecido como a Conjuração Carioca.

A Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro foi instalada em 30 de junho de 1829, na Santa Casa da Misericórdia, com 17 membros, presidida pelo médico e cirurgião Joaquim Cândido Soares de Meirelles

Realizou sua primeira sessão oficial em 1830, com a presença do Imperador D. Pedro I, que compareceu a várias reuniões ulteriores.

Em 1835, o Governo Imperial converteu a Sociedade em Academia Imperial de Medicina, em cerimônia com a participação do jovem Imperador D. Pedro II, que tomou parte de todas as sessões aniversárias por mais de 50 anos, até 1889. Sua cadeira permanece até os dias atuais, no Salão Nobre da Academia Nacional de Medicina. Com enfermidade avançada, no dia 30 de junho de 1889, presidiu pela última vez, a sessão de aniversário da instituição. Em novembro desse ano, logo após a implantação da República, mudou sua designação para Academia Nacional de Medicina.

A Academia de Medicina da Bahia foi fundada em 10 de julho de 1958, há exatos 65 anos, na sala Clementino Fraga do Hospital Santa Izabel, idealizada por Jayme de Sá Menezes, dentro dos padrões da Academia Francesa. Em seu discurso de fundação, referiu-se à Academia Francesa, fundada por Richelieu em 1635, e à Academia de Ciências da França, fundada por Colbert, em 1665, cujos princípios são adotados até o momento atual. No seu depoimento Sá Menezes disse que “a Bahia, Província Primaz do Brasil, berço da Pátria, da Cultura e da Medicina nacional, não poderia prescindir por mais tempo de sua Academia de Medicina, órgão cultural por excelência, aglutinador de valores, estimulador de ideias, disposto a congregar, numa confraria douta e liberal, sem elitismo mas ciente de suas responsabilidades, as expressões maiores da cultura médica baiana”.

Seu primeiro presidente foi João Américo de Garcez Froes. Foram objetivos da Academia, na sua instalação, incrementar o ensino médico regional e nacional; promover reuniões para estudar e debater assuntos relativos à Medicina e ciências afins; apoiar a educação e pesquisa científicas; promover e auxiliar movimentos com fins educacionais e culturais que se relacionarem com a profissão médica; atender às consultas das autoridades constituídas e dar parecer sobre questões profissionais e de interesse da classe médica, entre outros. Tais objetivos foram mantidos, em sua maioria, nos Estatutos e Regimentos Internos posteriores desta Academia.

Atualmente constituída por 50 membros titulares que ingressam na instituição mediante apresentação de trabalho científico inédito, memorial e eleição secreta entre os pares. Além destes, a Academia mantém em seu quadro, sem limitação de número, membros eméritos, honorários e beneméritos, escolhidos na forma do Regimento Interno.

Estamos, pois, comemorando hoje o sexagésimo quinto aniversário da venerável Academia de Medicina da Bahia. Ao longo destes anos de existência a Academia de Medicina da Bahia foi dirigida por vinte presidentes, dentre estes destacamos a presença de uma única mulher, a Dra. Maria Thereza de Medeiros Pacheco, no período de 1999 a 2003 e do Dr. Almério de Souza Machado, que habilmente promoveu a reconciliação e o início do renascimento desta Instituição. A eles ofereço bem tecida coroa de saudades, nas palavras e no sentimento, à altura da memória do justo e do bom que é pranteada e preiteada.

Neste momento solene, rendemos nossas homenagens e agradecimentos aos fundadores e a todos os presidentes e diretorias que nos antecederam.

Ao findar expresso a nossa gratidão à DASA, na pessoa do Dr. Romeu Cortes Domingues Presidente do Conselho de Administração e à FIEB, na pessoa do seu Presidente, Sr. Antônio Ricardo Alban, que nos proporcionaram apoio fundamental para tornar viável a realização deste evento festivo de celebração dos 65 anos da AMBA. Com este propósito devo destacar a atuação competente e dedicada do acadêmico e membro da diretoria recém-empossada, Dr. Jadelson Andrade.

Quero agradecer sensibilizado a todos os amigos e a cada um, que aqui compareceram, sobretudo aqueles que vieram de longe, por estes momentos de compreensão e de ternura humana que estão nos proporcionando.

Aos meus pais, Solange e José Aragão Araújo, aos meus filhos Cesar e Flávia, à minha amada esposa Adriana, o meu mais profundo agradecimento, a minha infinda gratidão, pelo apoio irrestrito, pelo desvelo e pela compreensão.

Envolvido pela atmosfera deste imponente salão nobre da nossa velha Faculdade, “Sinai de onde a medicina brasileira ditou as tábuas de sua lei”, nesta tribuna heráldica, reflito com emoção sobre acontecimentos que marcaram a história da minha família neste mesmo recinto. Meu avô e meu pai aqui colaram grau em medicina, o primeiro assomou em nome dos companheiros no dia fasto da formatura; ainda aqui o meu avô prestou concurso e tomou posse na Cátedra de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia. O corpo de Cesar Augusto de Araújo foi velado neste imponente salão.

Enlevado por estas comoventes reminiscências, dirijo-me aos meus confrades e confreiras, evocando e reiterando o compromisso que o patrono da cadeira nº 45 desta Academia, que ora ocupo, declarou ao assumir a cadeira 26 da Academia de Letras da Bahia:

“Prometo-vos, apenas, mas de alma inteira, na emoção incontida das derradeiras palavras, prometo-vos sim meus generosos confrades, com inquebrantável querer e de coração profundo que, enquanto aqui estiver, por Deus eu vos prometo:

Não macularei este santuário”.

Muito obrigado pela atenção.

Academia de Medicina da Bahia
Praça XV de novembro, s/nº
Terreiro de Jesus, Salvador - Bahia
CEP: 40026-010

Tel.: 71 2107-9666
Editor Responsável: Acadêmico Jorge Luiz Pereira e Silva
2019 - 2024. Academia de Medicina da Bahia. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital