Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
Tamanho da Fonte
Caio Octávio Ferreira de Moura
Cadeira: 15
Patrono: Caio Octávio Ferreira de Moura
Patrono

Nasceu em Bom Jardim, município de Santo Amaro da Purificação, Bahia, em 30 de junho de 1878. Filho de Mariana Leopoldina Fernandes e pai sem registro. Como era uma pessoa muito humilde, seu filho foi adotado pelo Conselheiro João Ferreira de Moura. Caio Moura fez o curso primário em Santo Amaro, mas o curso secundário já cursou no período de 1890 a 1893, no Instituto Oficial do Ensino, em :Salvador. (SILVEIRA, 2003)

Aos 16 anos, em 1994, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia e colou grau em 12 de dezembro de 1899.tendo feito a defesa brilhante da tese inaugural Da hymen no defloramento, que foi editada pela Tipografia Reis. Participou como estudante de Medicina da assistência aos feridos nos campos de batalha da Guerra de Canudos (1896-1897) (TAVARES-NETO et al., 2008)

Começou cedo sua carreira docente. Em 1902, foi nomeado Preparador Interino de Anatomia Médico-Cirúrgica. Se tornou Preparador Efetivo da mesma cadeira de 1903 a 1909 (OLIVEIRA, 1992). Em 1906, fez concurso da 5ª sessão, ficando em segundo lugar. Isto não o desanimou, tendo publicado três livros com os temas do concurso: 1.Ferimentos do Coração; 2. Nefrectomias, nefrotomias e nefrostomias; 3. Tratamento das supurações mastoidianas.

Sobre estas três obras, diz o Prof. Geraldo Milton da Silveira:

No primeiro, usou frases amenas, até poéticas. Nos dois últimos, linguagem científica, objetiva, sem se descurar da forma, beleza, correção e clareza. Teve constante preocupação com a dor provocada pelas intervenções cirúrgicas, razão pela qual foi o primeiro em nosso meio a utilizar-se dos anestésicos que surgiram, tais como éter, clorofórmio, balsofórmio, avertina. Seu respeito ao paciente, levou-o a estabelecer que “a pele da região a ser operada será raspada, desinfetada, podendo-se, quando o pudor repelira a prática da raspagem, usar de pomadas depilatória. (SILVEIRA, 2003, p. 88)

Por concurso, em 1909, passou para Professor Substituto da 5ª Sessão. Foi Professor interino de Clínica Cirúrgica (1910; 1912-13) Professor Extraordinário efetivo de Clínica Cirúrgica (1911-1914); Professor de Patologia Cirúrgica (1914), tenso se transferido para 2ª Cadeira de Clínica Cirúrgica; e com a Reforma de Ensino de 1915, foi Professor Catedrático de Clínica Cirúrgica até 1931, sendo pro fim transferido para Professor da Clínica Urológica, de 1931 a 1932 (OLIVEIRA, 1992), quando se encantou.

Segundo Silveira (2003) o período de maior produção científica do Professor Caio Moura foi entre 1914 e 1916, no qual escreveu sete trabalhos, um dos quais (Sobre um caso de criptorquia, 1915, publicado na Gazeta Médica da Bahia) e a Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia relativas ao ano de 1914 (MOURA, 1914), Caio Moura é o 61º Memorialista da FMB e sua Memória manuscritas está no acervo da Biblioteca Gonçalo Moniz..

Realizou várias viagens ao exterior, Estados Unidos e alguns países europeus (Alemanha, França, Inglaterra), buscando seu aperfeiçoamento na técnica cirúrgica e ampliar seu conhecimento na Cirurgia Geral. Com isso, em sua Memória Histórica, comparando o ensino nesses centros mais avançados, pode concluir sobre os nossos docentes “que nada deixam a desejar, em cultura, inteligência e habilidade aos de outros centros” (MOURA, apud SILVEIRA, 1992, p.88)

Em uma de suas viagens aos EUA, um fato merece registro. Ao ser convidado para assistir uma tireoidectomia, no final do ato cirúrgico um dos irmãos Mayo perguntou-lhe a opinião sobre o ato cirúrgico. Após o elogio inicial, disse que usaria diferente tática para preservação dos nervos recorrentes. Convidado a demonstrar em outro doente, o seu proceder, aceitou o desafio. Ao final, ouviu do Dr. Mayo que foi convencido e que passaria a usar tal procedimento na sua clínica. Em Salvador, Caio Moura possuía “a maior e mais selecionada clínica privada de seu tempo” (SILVEIRA, 2003, p.89)

Teve Caio Moura uma intensa carreira política. Conselheiro Municipal, de 1924 a 1927, tendo sido Presidente da Câmara Municipal; Deputado Estadual, tendo sido Presidente da Câmara Estadual (1927-1928); e Senador Estadual, tendo sido Vice-Presidente de 1929 a 1930. (OLIVEIRA, 1992).

Escrevia para o jornal Diário da Bahia, sempre aos Domingos, e a seção de suas crônicas se chamava “Reportagens científicas”.

De 1922 a 1930 teve uma grande produção de artigos, em geral na revista Gazeta Médica da Bahia. Ele pode ser considerado um membro da Medicina Tropicalista da Bahia. Trabalhos como Cirurgia tropical I – Verminose vesical; II – Parasitos do sangue (filária); III – Parasitos intestinais (amebas), publicados na Gazeta Médica da Bahia, de 1922-1923.

Gostava de fazer viagens pelo interior do Estado da Bahia. Em 1923, visitou Paulo Afonso e desta viagem resultou seu livro As Cachoeiras de Paulo Afonso, no qual demonstra seu entusiasmo e otimismo, que segundo Geraldo Silveira, “nunca encontrado em suas crônicas e trabalhos científicos” (SILVEIRA, 2003, p. 89). Eis alguns trechos do seu deslumbramento ao se referir as “paisagens verdejantes com belo gado a pastar, conforto da viagem em dois possantes automóveis” e à “bela estrada de rodagem, orlada de floridos arbustos trescalantes [exalante] de fragrância dos trópicos, por onde rapidamente deslizavam os veículos” (MOURA, 1923 apud Silveira, 2003, p. 89)

Outro destaque merece sua obra Sugestões sobre o ensino universitário no Brasil, de 1927. Nessa obra ele propunha a criação do Ministério da Educação, que ainda não existia ficando-a no Ministério de Justiça e Negócios Interiores. Também propunha a criação do Conselho de Educação e do Registro Profissional. Outro exemplo de estar na frente do seu tempo, ele escreveu demonstrando as grandes vantagens da fundação de Universidades em locais que existissem Faculdade Medicina, Escola de Direito e Politécnica, entre outras. “Bastava uma lei unificando-as e boa vontade”, escreveu ele com lucidez (apud SILVEIRA, 2003, p. 89)

Ele se encantou em 1933. O Prof. Antônio Borja, outro cirurgião, definiu-o como “o cirurgião do belo e do bem-acabado”. Sobre ele disse o Professor Eduardo de Sá Oliveira:

Humanista, anatomista e, sobretudo, excepcional cirurgião, foi o Dr. Caio Moura. Clínico de grande e justa fama, artista do bisturi, professor de escol, deixou, em cada cliente, um sincero amigo; em cada discípulo, um entusiasta da Cirurgia, que nele teve, em verdade, um dos grandes mestres do Brasil. (OLIVEIRA, 1992, p. 318)

Ainda sobre ele disse o Prof. Estácio de Lima: “A elegância do seu corte e a segurança dos seus gestos o tornaram inesquecível para sempre nos domínios todos da cirurgia geral e nos meandros da cirurgia plástica, criando notável escola, dos mais distintos discípulos que aí estão”. (LIMA, 1992, p. 82)

O nome do Dr. Caio Octávio Ferreira de Moura foi escolhido para ser Patrono na Cadeira nº 15 da Academia de Medicina da Bahia. O primeiro Membro Titular da Cadeira foi o confrade Jorge Valente, depois veio Geraldo Milton da Silveira e o Titular atual é Raymundo Paraná Ferreira Filho.

Referências

LIMA, Estácio de. Aula inaugural de 1942. Abertura dos cursos da Faculdade. In: OLIVEIRA, Eduardo de Sá. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador: Conselho Editorial da UFBA, 1992. p. 79-87
MOURA, Caio. Sugestões sobre o ensino universitário no Brasil. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 58, p. 491-501, 1928.
MOURA, Caio. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia – Ano de 1914. Salvador, 1914. (manuscrito).
OLIVEIRA, Eduardo de Sá. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador: Conselho Editorial da UFBA, 1992. p.375-377. SANT’ANNA, Eurydice Pires; TEIXEIRA, Rodolfo. Gazeta Médica da Bahia: índice cumulativo 1866-1976. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1984.
SILVEIRA, Geraldo. Quatro grandes cirurgiões, quatro diferentes personalidades. Anais Academia de Medicina da Bahia, Salvador, v.12, p. 87-97, jul. 2003.
TAVARES-NETO, José; OLIVEIRA, Vilma L.; SANTIAGO, Eliane da C.; SANTOS, Francisca da Cunha. Formandos de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Feira de Santana, BA: Academia de Medicina de Feira de Santana, 2008.

Salvador, 20 de setembro de 2023

Ronaldo Ribeiro Jacobina.
Titular da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina da Bahia
Titular da Cadeira nº 7 do Instituto Baiano de História da Medicina e Ciências Afins
Professor Titular de Medicina Preventiva e Social, FAMEB-UFBA.

Ana Lúcia Albano
Bibliotecária da Bibliotheca Gonçalo Moniz – FMB-UFBA
Membra Colaboradora do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins

Academia de Medicina da Bahia
Praça XV de novembro, s/nº
Terreiro de Jesus, Salvador - Bahia
CEP: 40026-010

Tel.: 71 2107-9666
Editor Responsável: Acadêmico Jorge Luiz Pereira e Silva
2019 - 2024. Academia de Medicina da Bahia. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital