ANTONIO DO PRADO VALADARES
Patrono da Cadeira N. 11 da Academia de Medicina da Bahia
Antônio do Prado Valadares nasceu no dia 13 de junho de 1882, em Oliveira no município de Santo Amaro da Purificação, Bahia. Filho de D. Mariana de Jesus Valadares e Miguel Arcanjo Valadares. Foi batizado Antônio Valadares, mas depois adotou o sobrenome “Prado” em reconhecimento e gratidão ao seu mestre o vigário local Manoel Alexandrino do Prado. (CENTENÁRIO..., 1982, p. 29; ALMEIDA SOUZA, 1994, p. 318) Depois dos estudos fundamentais em sua terra natal, transferiu-se para a capital baiana fazendo seu preparatório no Ginásio da Bahia.
Em 1896, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia (FMB, sigla; Fameb, acrônimo), com apenas 14 anos (SOUZA, 1973), com a mesma precocidade de outro aluno e depois professor da FMB, Juliano Moreira (JACOBINA, 2019).
Foi um aluno brilhante da FAMEB, tendo sido Interno Interino de Clínica Propedêutica (1899), depois Interno Efetivo (1899-1902), campo de saberes e práticas que, depois de formado, iria se tornar Professor Catedrático. Sua tese inaugural foi “Estudo clínico da escuta do coração”, dentro da temática de sua paixão pela Propedêutica. Ainda estudante foi acometido pela tuberculose, doença na época de difícil tratamento. (SILVEIRA, 1983)
Formou em 12 de março de 1902, tendo entre seus colegas de turma Eduardo Diniz Gonçalves e Oscar Freire de Carvalho. Diniz Gonçalves foi Professor Catedrático na cadeira de Anatomia da FAMEB e Oscar Freire foi também Professor Catedrático na cadeira de Medicina Legal e é o Patrono da cadeira n. 38 do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins e da cadeira n. 37 da Academia de Medicina da Bahia. (BRITTO, 2002; TAVARES-NETO et al., 2008)
O formando de Medicina Antônio do Prado Valadares foi aluno laureado, conquistando o prêmio de uma viagem à Europa e recebeu a honraria existente da colocação de seu retrato de Acadêmico de Medicina Laureado no Panteão (Fig.2). Ele inaugurou, em 12 de abril de 1902, “o Pantheon, destinado ao aluno que mais tivesse distinguido durante o curso [...], cujo retrato fora ali colocado e onde ficará perenemente como um symbolo edificante e luminoso para gerações futuras”. (Carvalho, 1902 apud TAVARES-NETO et al., 2008, p.176).
O Dr. Prado Valadares casou com Clarice do Prado Valadares e tiveram um filho médico, Clarival do prado Valadares, que nasceu no dia 26 de setembro de 1918, na capital baiana. Seu filho Clarival esteve no Rio de Janeiro, mas, em 1951, voltou para Salvador e trabalhou, até 1953, no Serviço de Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas da UFBa, chegando a chefiar o referido serviço. (MÉDICOS..., 2011)
Sua carreira docente foi completa, tendo sido Professor Assistente de Clínica Propedêutica, de 1905 a 1910; Professor de Patologia Geral, de 1911 a 1914; Professor de Patologia Médica, por menos de dois anos, quando se tornou inicialmente Catedrático de Clínica Médica, em 1915, e depois, Catedrático de Clínica Propedêutica Médica de 1927 a 1938. Apesar de em 1910, no seu concurso inicial, ter ficado em 2º lugar, tendo sido o 1º lugar conquistado pelo seu amigo em toda a sua vida, o Prof. Clementino Fraga, com a reforma Rivadavia, Prof. Valadares foi nomeado como Professor Extraordinário em Patologia (SILVEIRA, 1983, p. 18)
Ainda relacionado a sua vida acadêmica, vale destacar que Prof. Prado Valadares foi o autor da Memória histórica da Fameb no ano de 1913. Em 1926, de abril a setembro, realizou uma viagem de estudos na Europa, para o aperfeiçoamento dos conhecimentos científicos e novas tecnologias.
Sua produção acadêmica foi rica e variada, merecendo aqui um breve levantamento das publicações: Gazeta Médica da Bahia: Fragmentos de semiologia médica. A óculo-reação de Calmette; Questões de linguagem médica: O termo vulgar de Impigem (1908);Lesões oro-valvulares do coração (Pontos dúbios de sua semiografia e semiogênese. I-Estenose pulmonar. Estenose Mitral (1923). Brasil Médico: Poliorromenose e Cruzi-Tripanomose (1916); Do ruído do pião (também chamado de piorra, corropio, rodopio e berra-boi) (1916, também publicado na Gazeta, 1917); Pityriasis. Nigra centro albicans (1916). Publicações na Revista Médica paulista, Cultura Médica, em livros, anais de congresso etc. Entre suas publicações, demonstrando sua versatilidade, tem um texto no campo da psiquiatria: “Alienação e delinquência. Estudo médico-legal de um caso de loucura crime” (1915) Preocupou-se muito com a linguagem médica (neologismos) e problemas no ensino.
Seus trabalhos demonstram uma variedade temática, com destaque para os temas em Cardiologia, desde sua tese inaugural até seu trabalho sobre Lesões orovalvulares do coração em 1923, como destacou o Titular atual da cadeira, Prof. José Antônio de Almeida Souza. (1994)
Merece destaque o seu parecer apresentado à Congregação da FMB propondo o título de Professor Honorário ao Dr. Carlos Chagas, aprovado e publicada na Gazeta Médica da Bahia, em 1923.
O mestre tinha uma fala singular, as vezes hermética e também contundente. No famoso discurso de Abertura dos cursos de 1924, Almeida Souza destaca o seu carinho e respeito pela Faculdade: “Os que souberam enxergar nestas páginas humildes florações de carinho e cuidado pelo destino da Escola Médica, de fulgentíssima tradição”. (Valadares, apud ALMEIDA SOUZA, 1994, p. 320) Em seu compromisso com suas convicções, dois trechos contundentes: “Reflexionam uns que há verdades que não se dizem no plenário de um auditório expectante de sonoridade e blandices festivas. Leio eu noutra cartilha” (Ibidem) Um exemplo ele expressou no seu discurso. Depois de fazer uma crítica aos problemas na escola mater da Medicina brasileira, entre as propostas que fez, disse:
“Primeiro: não pagar ao professor que não trabalha. Segundo: não aprovar o aluno que não sabe”. (Ibid.)
Prado Valadares era reconhecido nos ambientes acadêmicos e intelectuais como grande conhecedor da literatura universal, com publicações para além da medicina em livros, revistas e jornais. Destaque-se aqui obras como: “Medicina didática. Trechos e fragmentos” (Bahia, 1917); “Medicina didática. Bibliografia” (Brasil Médico, 1917); “Alocuções. Lições de abertura dos cursos. Discursos”; “À Margem de um Congresso
Saudação a Miguel Couto e outros discursos” (Bahia, 1928); “Remirando o caos” (Bahia, 1933); “Ave Rui!” (Bahia, 1934).
O Prof. José Silveira, que foi aluno e depois Assistente do Prof. Valadares, num depoimento sobre ele diz que ele tinha “a ânsia do porquê” [...], “ensinava a duvidar, a indagar, a perquirir, em busca da verdade. (SILVEIRA, 1978, 86) Eduardo Oliveira, em sua Memória Histórica de 1942, escreveu: “Purista da língua, possuindo um estilo que lhe era peculiar, deu sobejas demonstrações de admirável talento como professor, publicista e clínico”. (OLIVEIRA, 1992, p. 335)
O escritor Antônio Loureiro de Souza, em seu livro “Baianos Ilustres (1564-1925)”, faz o perfil deste “sábio” mestre:
Cientista dos mais eminentes, linguísta apurado, dono de um estilo próprio, também conferencista admirável, Prado Valadares foi, no consenso unânime dos seus contemporâneos e, hoje, no julgamento dos que lhe estudam a vida e a obra, uma das maiores culturas dos últimos tempos (SOUZA, 1973, p. 273).
Faleceu no dia 8 de janeiro de 1938, em Correias (Petrópolis), Rio de Janeiro (LACAZ, 1963). Está encantado na memória da Medicina brasileira e seu nome foi escolhido para ser o Patrono da Cadeira N. 37 do Instituto Baiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Em nossa Academia de Medicina da Bahia, Dr. Antônio do Prado Valadares é o Patrono da Cadeira N. 11. O Titular anterior foi o Prof. José Silveira e o Titular atual é o Confrade José Antônio de Almeida Souza.
Prêmio de Ensino - Pantheon de 1902. Foi Professor Catedrático de Propedêutica Médica. Memorialista da FAMEB de 1913.
RONALDO RIBEIRO JACOBINA.
Professor do Dept.º de Medicina Prevetiva e Social-Fameb- Ufba