Álvaro Campos de Carvalho nasceu em Salvador, Bahia, em 1891. Filho de Cândida Campos de Carvalho, professora, e Agrário Barbosa de Carvalho, farmacêtico (CARVALHO, 1913).
Entrou no curso médico da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) em 1908. Foi Interno de “Clínica Psiquiátrica e de Moléstias Nervosas”, de 1910 até o ano de formatura (1913). Ele representou os estudantes da FMB no Congresso Brasileiro de Estudantes em São Paulo e logo depois, no 8º Congresso Internacional de Estudantes de Medicina realizado em Ithaca, nos Estados Unidos da América, em 1913. Apresentou o relatório de sua representação dos acadêmicos da Medicina da escola mater ao Diretor da Faculdade (1913). Ocupou o cargo de Orador na organização estudantil “Beneficência Acadêmica” (CARVALHO, 1913), Ocupou o cargo de Orador na organização estudantil “Sociedade de Beneficência Acadêmica” (CARVALHO, 1913), entidade que pouco tempo depois, em 30 de julho de 1919, foi reconhecida de utilidade pública, com a Lei n. 1.331 (JACOBINA, 2013, p. 447).
Sua formatura ocorreu no dia 27 de dezembro de 1913. Logo depois de formado, publicou na imprensa baiana (Jornal de Notícias), em 3 de janeiro de 1914.
Sua tese inaugural, apresentada em 1913, teve como título “O Sangue nas moléstias nervosas” (Figura 2), com o foco nas alterações citológicas do sangue nas patológicas nervosas (CARVALHO, 1913). Na Figura 3, estão os nomes dos Professores Catedráticos (“ordinários”) e os “extraordinários efetivos”. Destaque-se o prof. Manoel Augusto Pirajá da Silva, Catedrático de História natural médica, o primeiro nome na lista.
Em 1914, já publicou trabalhos como “Da ação polar e interpolar das correntes contínuas”, com temática de sua futura cátedra, Física Médica, de 1925 a 1931, quando a Reforma de 1931, renomeou a cadeira para Física Biológica.
Nesse mesmo ano de 1914, escreveu o trabalho “Da resistência elétrica” para a Docência Livre na feira de Física Médica. Ainda em 1914, o docente livre, por concurso, tornou-se Professor extraordinário de Física Médica, tendo regido a cadeira interinamente de 1915 a 1923, até que, em 1925, tornou-se Professor Catedrático.
Em sua Memória Histórica, prof. Eduardo de Sá Oliveira (1992, p. 369), refere que, de 1924 a 1928, esteve a disposição do Governo, sem registrar se foi Federal ou Estadual. Refere também que “trabalhou na Comissão Rockfeller” (p. 369), de 1924 a 1925.
Publicou artigos em diversas revistas médicas, com destaque para Gazeta Médica da Bahia e Brasil Médico. Na Gazeta Médica, sua primeira publicação foi sobre “O aspecto atual da clínica na Bahia” (CARVALHO, 1916). Depois, publicou seu laudo de perícia médica do menor Francisco Vidal Pombo, que foi atropelado por um bonde (apud OLIVEIRA, 1992, p. 370).
No artigo A Bahia e a intervenção federal, publicado também na Gazeta e destacado na história desta revista por Luciana Bastianelli (2002), o autor começa fazendo um paralelo entre a intervenção militar e sanitária: “ambas luctam, guerreando ambas. Uma contra o homem, outra a favor do homem. Diferentes as armas, mas sempre armadas, ambas” (p. 170; grifo nosso) E complementamos: amada só a luta sanitária. A luta foi contra a febre amarela. Carvalho destacou também a escolha da chefia, na pessoa do “Prof. Clementino Fraga, nome que a Bahia já se habituou a respeitar pelo brilho de sua competência, pela formosura de seu espírito, pela inteireza de seu carácter” (p. 171).
Consciente de que o país era uma república oligárquica, “de soberanias de aldeia”, afirmou: “… não é um país com 21 Estados. O que há são 21 países, distribuídos numa vasta região sul-americana, que figura nos mapas com o nome de Brazil” (p. 171). E concluiu com uma esperança de médico tropicalista que as autoridades sanitárias federais também apoiassem a “prophylaxia rural” da febre amarela na Bahia (p. 171).
Como ilustração de seu vínculo com a “Escola Tropicalista Bahiana”, além dos inúmeros artigos na Gazeta, entre seus artigos publicados no Brasil Médico está o estudo intitulado “Sobre a epidemiologia da febre amarela” (apud OLIVEIRA, 1992, p. 370), de 1922.
Em 1930, participou do congresso internacional de Biologia em Montevidéu, Uruguai, onde apresentou o estudo “Biologia geral e biologia humana”, depois publicado na Gazeta Médica. (CARVALHO, 1930) e republicado pela revista estudantil Lábaro, em 1939, publicação oficial do já então criado Diretório Acadêmico (JACOBINA, 2013, p. 470). E esta série de artigos sobre biologia do Prof. Álvaro de Carvalho é também destacada no livro sobre a Gazeta Médica da Bahia, organizado por Luciana Bastianelli (2002), demonstrando a importância do autor.
Outra publicação na GMBahia que também merece registro é o estudo “História e histórias da medicina” (CARVALHO, 1933), mais um exemplo que justifica nós termos recriado na Fameb, em 2013 a disciplina “História da Medicina”, dando também o enfoque nacional e local.
Exerceu a cátedra de 1925 até 1943, ano de seu encantamento. Sobre ele, disse Prof. Eduardo de Sá Oliveira, em sua Memória Histórica:
Orador fluente, espírito brilhante, professor cumpridor de deveres, conferencista admirável, clínico prestimoso, bem foi o Dr. Álvaro de Carvalho, que, de quando em quando, ainda escrevia artigos para nossa imprensa diária. (OLIVEIRA, 1992, p. 370) 5
Encantado, tem seu retrato pintado por Robespierre de Farias, no Memorial da Medicina Brasileira, na sede da escola mater no Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador, Bahia (Figura 1). E, como Aluno laureado, tem seu retrato colocado no Pantheon na sede da escola mater da medicina Brasileira.
Prof. Álvaro Campos de Carvalho é o Patrono da Cadeira n. 05 da Academia de Medicina da Bahia, que teve como primeiro Titular o Dr. Lipe Goldenstein. e como Titular atual o Dr. Ricardo Ribeiro dos Santos, que tomou posse no 25 de novembro de 2015. 6
Referências:
BASTIANELLI, Luciana (org.). Gazeta Médica da Bahia: 1886-1934/1966-1976, por uma Associação de Facultativos. Salvador: Edições Contexto, 2002. p. 197-207. CARVALHO, Álvaro Campos de. O Sangue nas moléstias nervosas. (Tese inaugural). Faculdade de Medicina da Bahia. Salvador - Bahia, 1913. CARVALHO, Álvaro Campos de. Aspecto atual da clínica na Bahia. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 48, p. 212-219, 1916. CARVALHO, Álvaro Campos de. A Bahia e a intervenção federal. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 51, p. 30-32, 1920. CARVALHO, Álvaro Campos de. Biologia geral e biologia humana. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 60, p. 161-172, 1930. CARVALHO, Álvaro Campos de. História e histórias da medicina. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 63, p. 779-784, 1933. JACOBINA. Ronaldo R. Memória Histórica do bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia (2008) – Vol. III – Professores, Funcionários e Alunos da FAMEB. Salvador: FAMEB-UFBA, 2013. 534p. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/14218?mode=full&submit_simple=Mostrar+registro+completo+do+item JACOBINA. Ronaldo R.; JACOBINA, André T. Pesquisa em História. REIS, Eduardo José F. B. dos; et al. História da Medicina, vol. I. Salvador: Edufba, 2021 (no prelo) OLIVEIRA, Eduardo S. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1992.Ronaldo Ribeiro Jacobina
Titular da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina da Bahia.
Titular da Cadeira nº 7 do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Professor Titular de Medicina Preventiva e Social, FAMEB-UFBA
Ana Lúcia Albano
Bibliotecária da Bibliotheca Gonçalo Moniz – FMB-UFBA